A ex-analista do exército norte-americano Chelsea Manning foi, esta quarta-feira, libertada da prisão militar do Kansas, nos EUA, onde cumpriu sete anos de detenção por divulgar informação secreta apontando para crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos.
Chelsea Manning foi responsável pela divulgação de 700 mil documentos secretos dos EUA através da WikiLeaks, que deram origem ao “Cablegate”. Foi condenada a 35 anos de prisão mas, nos últimos dias do mandato, o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, acedeu à comutação da pena da antiga militar para sete anos.
Através do Twitter, ex-analista do exército norte-americano confirmou a libertação. “A liberdade era apenas um sonho, difícil de imaginar. E agora está aqui! Vocês mantêm-me viva”, afirmou.
Um dia depois de ser condenada, Manning confessou numa carta que era transexual e que tinha mudado o seu nome para Chelsea. Desde então, já tentou suicidar-se duas vezes na cadeia.
Os seus advogados consideraram, no ano passado, que os maus tratos que sofreu desde a detenção em 2010, e a pena de prisão de 35 anos, estavam “a desmoralizar e a perturbar a sua saúde e humanidade”.
Amnistia saúda libertação de Chelsea Manning e quer eventuais crimes de guerra investigados
A Amnistia Internacional já saudou a libertação de Chelsea Manning da prisão militar de Fort Leavenworth, onde foi encarcerada após divulgar informação secreta apontando para crimes de guerra cometidos por militares norte-americanos.
“Hoje é o dia por que milhares de ativistas da Amnistia Internacional de todo o país e todo o mundo lutaram durante a cruel provação de Chelsea Manning”, disse a diretora executiva da Amnistia Internacional EUA, Margaret Huang.
“O tratamento dado a Chelsea é especialmente revoltante pelo facto de ninguém ter sido responsabilizado pelos alegados crimes que ela denunciou”, prosseguiu a responsável.
Por essa razão, acrescentou, apesar de a AI celebrar a liberdade da cidadã norte-americana, continuará “a apelar para uma investigação independente sobre as potenciais violações de direitos humanos que ela expôs, e para que sejam criadas medidas de proteção para garantir que denunciantes como Chelsea nunca mais sejam sujeitos a tão horrível tratamento”.
“A sua sentença foi muito mais longa do que as de militares condenados por assassínio, violação e crimes de guerra”, frisou a AI, que faz campanha pela libertação de Chelsea Manning desde 2013.
Além disso, notou a organização de defesa dos direitos humanos, a autora da fuga de informação do exército norte-americano foi, durante 11 meses antes de ser julgada, mantida sob custódia em condições que o Relator Especial da ONU sobre a Tortura classificou como “tratamento cruel, desumano e humilhante”.
Manning foi colocada na solitária como punição por uma tentativa de suicídio e foi-lhe negado tratamento adequado relacionado com a sua identidade de género durante o encarceramento.
“O tratamento vingativo dado a Chelsea Manning pelas autoridades dos EUA depois de ela ter denunciado potenciais crimes militares é um triste reflexo dos extremos em que quem está no poder muitas vezes cai para impedir os outros de falarem”, disse Margaret Huang.
“A libertação de Chelsea mostra que o poder do povo pode triunfar sobre a injustiça, uma mensagem inspiradora aos muitos corajosos ativistas que defendem os direitos humanos pelo mundo fora e que estão no centro da nossa nova campanha global, Brave”, acrescentou, referindo-se à iniciativa apresentada na terça-feira cujo objetivo é proteger os defensores de direitos humanos de quem os intimida, agride e mata.
ZAP // Lusa