O caso de um chinês que aparentemente cometeu suicídio depois de ser chantageado pela família do homem que ajudou está a gerar comoção nas redes sociais do país.
A viúva de Wu Weiqing, um lixeiro de 46 anos, contou ao jornal Southern Metropolis Daily que o marido estava a andar de mota na véspera do Ano Novo quando viu um idoso que parecia ter sido atropelado.
Segundo a mulher, Wu levou o homem para o hospital e pagou-lhe as contas médicas. Mas a família do idoso começou a cobrar a Wu o pagamento de uma indemnização — apesar de Wu não ter atropelado o homem.
Além disso, relata também a agência de notícias estatal da China, a família de Wu recebeu telefonemas de um agente da polícia a exigir o pagamento de taxas hospitalares.
Wu ter-se-á suicidado por não ter o dinheiro e por causa da pressão que sofreu.
Versão contestada
Esta versão da história, contudo, é contestada pela família do idoso, que acredita que terá sido Wu a atropelar o idoso.
“Se ele não tivesse atropelado o o meu pai com a mota, por que seria tão gentil, levando-o ao hospital e pagando as contas?”, questiona a filha mais velha do idoso numa entrevista ao jornal Guangzhou Daily, citada pela BBC.
O que quer que tenha acontecido, a história de Wu Weiqing gerou grande controvérsia nas redes sociais chinesas e mais uma vez levantou discussões sobre os rumos da sociedade do país.
“O que está a acontecer na nossa sociedade? Como alguém pode ser um homem bom na China?”, questionou um utilizador do site de microblogs Weibo.
“Este é o resultado de um sistema sem atendimento médico gratuito. Quem ajudar outra pessoa terá problemas”, escreveu outro utilizador da mesma rede, considerada o Twitter chinês.
O caso de Wu Weiqing não é o primeiro. Já ocorreram outros casos de pessoas que depois de feridas em acidentes tentaram extorquir dinheiro dos chamados “bons samaritanos” – pessoas que tentaram ajudá-las, tendo ou não sido responsáveis pelo ocorrido.
Por outro lado, o atendimento de saúde gratuito fornecido pelo governo é limitado e muitas vezes a conta – alta – do tratamento sobra para a própria vítima do acidente.
Materialismo
Muitos chineses também acreditam que o materialismo substituiu a compaixão e o país perdeu os padrões morais do passado.
O caso mais comovente foi o de Wang Yue, uma menina de dois anos, atropelada em 2011.
Um total de 18 pessoas, entre transeuntes e motoristas, passou ao lado da criança ferida e caída no chão sem prestar ajuda. Até que finalmente alguém foi até a menina para levá-la a um hospital.
A criança morreu devido aos ferimentos.
Depois da forte reacção da opinião pública ao caso, a cidade de Shenzen, próxima de onde ocorreu o incidente, introduziu a lei do “Bom Samaritano”, tornando obrigatória a prestação de ajuda a estranhos feridos ou acidentados.
Mas a história de Wu Weiqing pode levar muita gente a pensar duas vezes antes de ajudar uma pessoa que esteja com problemas ou aparentemente ferida.
ZAP / BBC