Edição 2024 do Festival Eurovisão da Canção foi mais agitada do que o habitual. A vitória da Suíça nem é o assunto mais comentado.
A Suíça venceu o Festival Eurovisão da Canção 2024 e Portugal ficou num bom 10.º lugar. Mas os assuntos mais comentados nem têm sido esses.
Num evento que se apresenta como não-político, e que exige que nenhuma participação tenha teor político, a guerra em Gaza dominou os bastidores – e também apareceu em palco (já lá vamos).
No rescaldo do (muito) que aconteceu em Malmö, na Suécia, deixamos aqui uma lista de 12 momentos fortes.
Países Baixos fora
A grande notícia no sábado nem foi no palco: horas antes, os Países Baixos – que eram um dos países favoritos – foram expulsos do Festival. Houve um “incidente” com o cantor holandês Joost Klein, que terá agredido um elemento da produção.
“Assédio e perseguição”
Portugal esteve em destaque, também nos bastidores. A comitiva portuguesa assistiu a casos de assédio e perseguição por parte de elementos da delegação de Israel. Membros de Grécia, Suíça, Irlanda e Países Baixos estariam a ser perseguidos por israelitas. Houve reunião de emergência mas nenhuma consequência aparente.
Suíça tricampeã
Milhões de pessoas que acompanham o festival todos os anos nunca teriam visto a Suíça a ganhar: a última vez havia sido em 1988 com a canadiana Céline Dion. Antes disso, só em 1956, logo a primeira edição, quando Lys Assia venceu. Agora foi a vez de Nemo com The Code.
Croácia é “quase”
No futebol, os croatas já se habituaram ao “quase” em alguns Europeus ou Mundiais, na sua curta história. Chegaram a finais nos dois casos, ficaram em terceiro lugar noutras duas vezes em Mundiais. Na Eurovisão ficou vários anos seguidos no top-10, agora subiu para o 2.º lugar e até estava na liderança: ficou até ao último segundo à espera da votação do público na Suíça, país que ultrapassou os croatas. A Croácia continua sem ganhar o Festival.
Guerras
Poucos instantes antes desse momento decisivo, foi curioso ver que
Ucrânia e Israel eram os dois países mais votados. Os dois países em guerra mereceram votações muito expressivas por parte dos telespectadores, só superados pela Croácia. Mas quem ganhou foi a neutra Suíça.
3×300
Croácia, Israel e Ucrânia conseguiram – cada – mais de 300 pontos por parte do público. Nunca tinha acontecido a três países na mesma edição. Mas nenhum deles venceu devido à grande pontuação da Suíça entre os júris (365 pontos).
Portugal 2.º
Portugal surpreendeu desde início: 12 pontos do Reino Unido atiraram o Grito de Iolanda para o segundo lugar, na fase inicial.
12 pontos para Portugal (x3)
A representação portuguesa conseguiu algo raro: 12 pontos de três países – Reino Unido, Croácia e França. Só Suíça e França conseguiram mais vezes a pontuação máxima.
Zero pontos
Não é a primeira vez: o Reino Unido foi o único país a ter… 0 pontos por parte do público. Mas os 46 pontos dos júris colocaram a “estrela” Olly Alexander no 18.º lugar, algo distante do último (25.º).
O que foi isto, Israel?
Após somente 52 pontos entre as votações nos júris nacionais, Israel saltou para a liderança (muito provisória) quando teve… 323 pontos entre o público. Foi a diferença mais óbvia neste capítulo: poucos pontos dos júris, muitos pontos dos telespectadores.
O que foi isto, Portugal?
Portugal destacou-se no contexto inverso. Depois dos 139 pontos dos júris (7.º lugar), Iolanda apenas conseguiu… 13 pontos dos telespectadores. Só cinco países tiveram menos pontos do que Portugal, no público.
Microfone longe
Terá sido inédito: a distância entre o francês Slimane e o microfone. Provavelmente a melodia e actuação mais fortes da noite, em Mon Amour. A França acabou no 4.º lugar.
Mostrar a roupa não resultou
O Festival Eurovisão da Canção é “liberal” há muitos anos. Não só em relação à roupa dos cantores e bailarinos, mas também nesse aspecto. 2024 foi um pouco mais “liberal” do que o costume: Espanha, Reino Unido, Finlândia (aqui o rabo totalmente à mostra) ou Eslovénia tinham protagonistas com muito pouca roupa em palco. Todos ficaram do 18.º posto para baixo, todos nos últimos lugares.
Recorde é português
A vencedora Suíça conseguiu umas impressionantes 22 pontuações máximas dos júris. 22 países deram 12 pontos a Nemo. Mais do que os 18 países que colocaram Portugal no topo em 2017. Mas, no global, Salvador Sobral continua com o recorde de 382 pontos dos júris; a Suíça conseguiu 365 pontos desta vez.
E o vídeo de Portugal?
Fechamos novamente com Portugal em destaque. O vídeo da actuação de Iolanda foi o único que não foi colocado imediatamente no YouTube pela organização; só foi publicado depois de todas as canções (Portugal foi o 18.º a actuar). A justificação oficial foi “problema técnico” mas, na troca de e-mails com a RTP, a organização desabafou “mas a vossa concorrente tem motivos pró-Palestina pintados nas unhas” – ao contrário da meia-final, Iolanda levou mesmo as cores da bandeira da Palestina nas unhas, na final. Usou um vestido de uma marca da Palestina ainda gritou no fim “A paz irá prevalecer!”. A RTP espera por mais esclarecimentos sobre o atraso no vídeo, para decidir se apresenta um protesto formal.
A ideia que fica é que, tal como nalguns conhecidos concursos televisivos, a manipulação dos resultados é possível.
Lamentável o espectáculo da votação no passado sábado.
Não pensaram duas vezes em desqualificar os Países Baixos, mas com Israel não foi feito nada. Engraçado, perdoa-se tudo sempre aos mesmos.