Os eleitores colombianos rejeitaram este domingo, em referendo, o acordo de paz do Governo com a guerrilha das FARC, Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
De acordo com os resultados oficiais, quando estavam escrutinadas 99,08% das mesas eleitorais, 50,24% dos votantes (6.400.516) disseram “não” ao acordo e 49,75% (6.338.473) disseram “sim”.
Para que a consulta popular seja válida, é necessário um mínimo de 4.536.992 votos “sim”, fasquia que foi ultrapassada.
O acordo de paz foi assinado na passada segunda-feira, em Cartagena das Índias, pelo Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e pelo “número um” das FARC, Rodrigo Londoño.
A pergunta à qual os eleitores colombianos tinham que responder este domingo, com um “sim” ou um “não”, era se apoiavam o acordo final para o fim do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura.
Este acordo de paz, negociado em agosto, em Havana, e formalmente assinado há uma semana, pretendia encerrar o conflito armado com as FARC, organização de guerrilha de inspiração marxista com origem nas revoltas camponesas da década de 1960.
Porque é difícil escolher a Paz?
A guerra civil na Colômbia, que durou 52 anos, provocou oito milhões de vítimas, 220 mil mortos, 45 mil desaparecidos e um número indeterminado de deslocados.
Ao fim de mais de meio século, foi possível finalmente chegar a um acordo entre as FARC e o Governo para que as armas se calem – mas pacificar as memórias da população parece ainda bastante difícil.
“Os colombianos esperam primeiro um grande arrependimento por parte das FARC e fazer com que pedir perdão não só aconteça em casos pontuais, mas em grande escala”, disse à agência EFE o presidente do Senado da Colômbia, Mauricio Lizcano, na data de assinatura do acordo de paz.
“Todos os colombianos fomos vítimas, e eu também sinto que eles vão ter que entrar numa reconciliação forçada com a sociedade civil”, acrescentou Lizcano.
“Não posso negar que sinto um frio na barriga, é um dia singular. Nunca tinha estado frente a frente com os chefes da guerrilha, e com aqueles que sequestraram o meu pai”, admitiu o senador, cujo pai, Óscar Tulio Lizcano, foi sequestrado em 2000, quando era membro da Câmara dos Representantes.
Além do pai, também o seu irmão, Juan Carlos Lizcano, esteve sequestrado pelas FARC, numa altura em que o pai era refém das FARC há já quatro anos.
“Decidimos, como família, que já demos o perdão às FARC. O perdão é libertador, é uma virtude que cria sociedades novas, e nós estamos dispostos a reconciliar-nos”, disse o senador, que defende que esta é a melhor alternativa para encerrar um conflito que cobriu o país de sangue, dor e morte.
Mas aparentemente, 50,24% dos seus compatriotas não estão ainda dispostos a perdoar.
AJB, ZAP / Lusa / EFE