Vassili Plassetski

Boris Baranov, Alexei Ananenko, Valeri Bezpalov, os “Mergulhadores de Chernobyl”
No dia 26 de abril de 1986, em Pripyat, na Ucrânia, o reator 4 da central nuclear de Chernobyl explodiu, dando origem a um dos eventos mais catastróficos de sempre. Contudo, três heróis sacrificaram-se numa missão suicida para evitar a tragédia — e, contra todas as expectativas, sobreviveram.
O famoso desastre de 1986 na central de Chernobyl, após a explosão de um dos seus reatores durante um teste de segurança, foi a maior catástrofe nuclear de sempre.
O acidente provocou a libertação massiva de material radioativo para a atmosfera, dando origem a uma nuvem radioativa que se espalhou por grande parte da Europa, afetando especialmente a Ucrânia, Bielorrússia, Rússia e outros países vizinhos — e cujas consequências perduraram durante décadas.
O que quase ninguém sabe é que a catástrofe poderia ter atingindo proporções muito maiores — não fosse o sacrifício dos “Mergulhadores de Chernobyl”, um grupo de heróis, verdadeiro “Esquadrão Suicida” da vida real, que evitou o (ainda) pior.
Dez dias após a explosão principal, os engenheiros da central nuclear tiveram conhecimento de uma ameaça potencialmente mais perigosa que podia estar prestes a acontecer.
A explosão foi tão poderosa que danificou o sistema de refrigeração do reator, o que levou à criação de uma “piscina” enorme debaixo do núcleo.
Se esta água entrasse em contacto com o o núcleo, causaria uma reação a que os cientistas dão o nome de explosão de vapor — que poderia ter atingido uma força de 5 megatoneladas, mais de 300 vezes o poder da bomba atómica que destruiu Hiroshima em 1945.
E este não seria sequer o maior problema, porque, a seguir, todo o vapor libertado iria juntar-se à nuvem radioativa que já pairava sobre o local — multiplicando o seu tamanho e alastrando-a por toda a Europa.
Segundo Vassili Nesterenko, na altura físico soviético e diretor do Instituto de Energia Nuclear da Academia Nacional de Ciências da Bielorrússia, se esta explosão tivesse acontecido, a Europa ter-se-ia tornado um lugar inabitável.

Estátua de homenagem a Ananenko, Valeri Bezpalov, e Boris Baranov, os “Mergulhadores de Chernobyl”
Super-Heróis
Só havia uma forma de evitar o desastre: desligar manualmente o fornecimento de água do sistema de refrigeração, rodando a válvula que se encontrava na câmara abaixo do núcleo, recorda o History of Yesterday.
Havia apenas um “pequeno” problema, a câmara estava completamente inundada com água extremamente radioativa divido à explosão.
No dia 26, dez dias após a explosão, todos os membros do primeiro esquadrão de bombeiros que foi enviado para o local tinham perdido a vida, por terem estado a trabalhar demasiado perto do núcleo e expostos a altos níveis de radiação.
Foi então que Alexei Ananenko, Valeri Bezpalov e Boris Baranov, três dos trabalhadores da central ucraniana, tiveram a coragem de se voluntariar para uma missão, que no fundo, era suicida. Sabiam que alguém tinha de agir e que era o seu dever como trabalhadores.
Dos três, Alexei foi quase um “voluntário à força”: era a única pessoa do turno que sabia o local exato onde a válvula estava localizada. A sua presença era essencial.
Os três voluntários foram avisados do risco da missão e questionados se estariam mesmo dispostos a realizá-la, já que o seu destino mais provável seria a morte, devido aos elevados níveis de radiação. Mesmo tendo o melhor equipamento anti-radioativo possível, o cenário não era prometedor para os nossos heróis.
Entraram no reator, para enfrentar uma morte quase certa, com o único consolo de uma promessa: se não voltassem vivos, o governo soviético iria cuidar das suas famílias, como forma de gratidão.
urmas / Depositphotos

Piso do reator RBMK da central nuclear de Chernobyl
Encontrar uma válvula naquele corredor cheio de canos e outras válvulas, era como encontrar uma agulha num palheiro, apesar de os bombeiros terem conseguido retirar alguma da água contaminada, que se encontrava pela altura dos joelhos.
A pressão do tempo também não ajudava, cada segundo que passavam ali, era um segundo a menos de possibilidades de sair com vida, a esperança escorria pelos dedos à velocidade da luz.
Em 2021, numa entrevista ao Ex Utopia, Alexei admite que foi um autentico milagre terem conseguido encontrar a válvula dentro do escasso tempo que tinham, muitos dos canos estorvavam o caminho. Após concluírem a missão, ao sair da câmara, foram de imediato transportados até salas de descontaminação.
Segundo o History of Yesterday, Alexei, Valeri e Boris tornaram-se heróis, não só por terem evitado uma nova explosão em Chernobyl, mas por salvar toda a Europa.
O que aconteceu aos nossos salvadores?
Após o episódio, muitos jornais noticiaram que os três heróis tinham conseguido ser bem sucedidos, mas teriam ficado retidos no interior da câmara; outros afirmavam que teriam morrido algumas horas após a missão. A verdade, é que os três tiveram longas e saudáveis vidas.
Boris Baranov morreu em 2005, devido a um ataque cardíaco. Não foi possível descobrir se a radiação teve algo a ver com a sua morte, mas é improvável, uma vez que se tinham passado bastantes anos desde a missão.
Já Alexei Ananeko e Valeri Bezpalov, que durante anos continuaram a indústria nuclear, ainda se encontram vivos. Em 2019, foram condecorados pelo presidente Volodymyr Zelenskyy, como “Heróis da Ucrânia” como reconhecimento pelo serviço prestado em 1986.
Ao contrário do que alguns especialistas especulavam, os nossos protagonistas levaram uma vida normal, sem qualquer dano aparente do contacto com a radiação — que se saiba, não lhes cresceram novos membros.
Há quem diga que apenas sobreviveram porque a constante exposição à radiação no seu dia-a-dia lhes terá dado alguma “imunidade”, o que ajudou a que saíssem com vida naquele dia.
E, tal como as personagens do “Esquadrão Suicida” da DC Comics, apesar do elevadíssimo risco que correram, num cenário que não era “cor de rosa”, conseguiram sair vivos de Chernobyl, depois de salvar a Europa de uma catástrofe.
Obrigado Alexei, Valeri e Boris.