“Z” de vitória. A origem do maior símbolo de apoio à guerra na Ucrânia

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@kamilkazani / Twitter

Crianças doentes oncológicas em Kazan, na Rússia

Na internet, o “Z” branco que surgiu nos veículos militares russos e é agora uma marca da propaganda do Kremlin, já foi apelidado de “suástica de Putin”.

“Z” é o maior símbolo de apoio à invasão da Ucrânia e nem existe no alfabeto cirílico russo. O regime de Putin diz que vem de “za pobedu” — em português, “pela vitória”. Mas há outras teorias, segundo o Observador.

Cinco dias antes de as forças de Moscovo invadirem a Ucrânia e começarem a guerra no país, os tanques e as carrinhas militares russas colocados na fronteira entre os dois países exibiam uma letra, que nem sequer existe no alfabeto cirílico da Rússia.

Era um “Z” branco, com hastes largas e sem serifas — um símbolo que conquistaria a atenção dos analistas bélicos e tornar-se-ia num símbolo de apoio à investida russa.

De acordo com as Forças Armadas ucranianas, o “Z” tem um significado militar: é uma das cinco letras identificadas até agora no material bélico russo.

Sozinha, a letra “Z” rotula as forças vindas do distrito oriental da Federação Russa, mas se estiver emoldurada num quadrado branco identifica os militares da Rússia colocados na Crimeia, a região ucraniana anexada pela Rússia em 2014.

Existe também o “O” para as forças da Bielorrússia, o “V” utilizado pelos fuzileiros navais, o “X” para as forças vindas da Chechénia (a república na região do Cáucaso que tem sido palco de conflitos com Moscovo na luta pela independência) e o “A” exibido pelas forças especiais.

Utilizando estes símbolos, os militares garantem que não atacam os próprios companheiros — é fogo amigo.

Mas o “Z” e o “V” têm sido amplamente replicados por atletas olímpicos, instituições e artistas também como forma de apoio a Putin.

Numa fase inicial, julgava-se que o “Z” tinha sido adotado pelos militares russos como símbolo do apoio da Rússia à independência das regiões separatistas ucranianas de Donetsk e Lugansk, expressa a 22 de fevereiro de 2022 — apesar de, no alfabeto cirílico, o símbolo “Z” ser mais semelhante a um “3”.

Mas a letra já tinha sido detetada em tanques militares muito antes dessa data, quando as tropas de Putin se posicionaram na fronteira com a Ucrânia.

A resposta pode estar em duas publicações que o Ministério da Defesa russo, liderado por general Sergey Shoygu, colocou nas redes sociais e que atribui às duas letras outro simbolismo.

O “Z” vinha de “za pobedu”, que em português significa “pela vitória”, e o “V” surgiria de “sila v pravde” ou, em português, “o poder está na verdade”, como sugere a página governamental de Instagram.

O assunto não ficou fechado com as explicações vindas diretamente do governo de Putin, e há quem procure mais respostas nas entrelinhas.

Uma das teorias é que as duas letras foram escolhidas para recordar a Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, a tenacidade da Rússia na investida contra a Ucrânia. Há também quem teorize que o “Z” é uma mensagem de guerra ao Ocidente, palavra que em russo é “zapad”; e que o “V” é um sinal de apoio a Vladimir Putin.

As duas letras, mas sobretudo o “Z”, ganharam tanta importância que se tornaram verdadeiros símbolos da identidade nacional russa.

E o caso do ginasta russo Ivan Kuliak, que tinha um “Z” improvisado com o que parecia ser fita-cola no uniforme quando subiu ao pódio numa prova do campeonato mundial de ginástica artística no Qatar, não é o único.

Segundo o Expresso, a Federação Internacional de Ginástica anunciou que vai instaurar um processo disciplinar a Ivan Kuliak, que competia na Taça do Mundo em Doha.

Um pouco por toda a Rússia, mas também fora dela, circulam carros com o “Z” desenhados nas janelas e nas portas, explica Kamil Galeev, investigador com a bolsa Galina Starovoitova (dissidente russa que batalhou por reformas democráticas no país) pelos Direitos Humanos no Centro Wilson nos Estados Unidos e especialista em História Moderna, no Twitter.

Segundo ele, a expansão da letra como símbolo da ideologia de Putin está a ser tanta que há quem a compare à adoção da suástica pelos apoiantes do regime nazi.

Uma das imagens mais impressionantes partilhadas por Kamil Galeev é a de um “Z” composto por militares russos, com recurso aos distintivos de soldados ucranianos mortos em combate.

Outra é uma fotografia aérea de crianças com doenças terminais dispostas em “Z”, numa rua coberta de neve, à porta do hospital onde estão internadas.

“Nas nossas mãos esquerdas, seguramos folhetos com as bandeiras da República Popular de Luhansk e Donetsk, Rússia e Tartaristão e fechamos a mão direita em punho”, explicou o presidente da instituição Vladimir Vavilov, citado pela Sky News.

Alice Carqueja, ZAP //

2 Comments

  1. E brevemente vai haver o R de RIP dos muitos que já lá ficaram. Agora já os enterram em valas comuns. Se fossem apenas os 500 mortos que eles dizem, ao longo de 10 dias de guerra e dispersos por toda a Ucrânia, porque motivo precisariam de enterrar tantos em valas comuns? Algo me diz que já devem ir em pelo menos 4 ou 5 mil, a avaliar pelo nível de destruição de colunas inteiras.

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