Mulheres de todo o mundo vieram ao Minho treinar o combate ao fogo com técnicas tradicionais

Estiveram durante 10 dias reunidas no noroeste de Portugal cerca de sessenta mulheres de todo o mundo, para praticar uma técnica tradicional de queima controlada de terras para prevenir incêndios florestais — que nos últimos anos mataram centenas de pessoas por toda a Europa.

Decorreu esta semana nas florestas do Alto Minho, e pela primeira vez em Portugal, o Women’s Traditional Fire Training Exchange (WTREX),  evento dedicado ao intercâmbio, treino e capacitação na prevenção de incêndios, num espaço de diversidade e inclusão.

No âmbito do evento, que teve lugar entre 1 e 10 de fevereiro, cerca de 60 bombeiras e investigadoras, com o apoio de técnicos especializados, estiveram a praticar métodos tradicionais de combate a incêndios — usando o próprio fogo.

“O que estas mulheres estão a aprender aqui é  o uso do fogo tradicional, que os nossos antepassados usavam para renovar os pastos e como meio de controlar materiais combustíveis,” diz Cristina Azurara, Perita-Coordenadora da região norte da Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF).

Em 2017, incêndios florestais na região de Pedrógão Grande mataram mais de 100 pessoas e consumiram colinas cobertas de pinheiros e eucaliptos. Por toda a Europa, ondas de calor cada vez mais intensas têm carbonizado milhares de hectares de terra nos últimos dois anos.

Ao contrário dos incêndios florestais, o chamado  fogo controlado, ou fogo prescrito, têm um menor impacto na terra, ao mesmo tempo que cria maior biodiversidade, explica à agência AFP o formador de fogo prescrito e especialista em incêndios rurais Emmanuel Oliveira.

A técnica identifica que árvores devem ser queimadas, com base nas condições meteorológicas, na humidade da vegetação e na forma como o fumo se dispersa.

O WTREX visa também aumentar o papel das mulheres na gestão de incêndios, tradicionalmente dominado por homens.

“Venho de um país onde, durante muito tempo, as mulheres só tinham permissão para trabalhar em espaços confinados como escritórios ou em lugares que não fossem ao ar livre,” diz à AFP a estudante mexicana Laura Ponce, de 39 anos. “Aqui estamos a provocar uma mudança… e isso é importante.”

O programa permite que as mulheres criem redes de contacto e sejam mentoras umas das outras, além de proporcionar formação prática, explica a diretora do WTREX, Lenya Quinn-Davidson.

“É um trabalho duro, especialmente se não te encaixares bem”, diz Quinn-Davidson. “Mas cada vez que organizamos um destes eventos, alguém se chega à frente e diz, ‘Eu quero fazer isso onde vivo‘. Então, no ano passado tivemos eventos na África do Sul, no Canadá, nos EUA”.

A bombeira australiana Martine Parker, de 41 anos, acrescenta: “Embora tenhamos boas práticas e muita experiência,  ao participar num evento internacional e num grupo tão diversificado, posso ganhar mais experiência e conhecimento.”

O Women’s TREX Portugal foi organizado pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais e pela Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, apoiada pela The Nature Conservancy e seu programa Fire Learning Network, e contou com a colaboração do Município de Paredes de Coura e Laboratório Rural.

Mais do que um curso, o evento foi uma oportunidade única de troca de conhecimentos sobre a importância do uso tradicional do fogo na conservação de habitats — que os nossos ancestrais conheciam e dominavam há milhares de anos.

ZAP //

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