T.P.S. Dave

No tempo da pandemia provocada pela Covid-19 vulgarizaram-se as festas do género BYOB – em que cada um levava a sua bebida. Agora, uma descoberta arqueológica revelou que esta prática tem já 11.000 anos.
As festa BYOB [Bring Your Own Booze] – em português, ou “traz a tua própria bebida” – ficaram muito populares nos tempos do Covid-19. Cada um levava a sua bebida (e às vezes comida).
Das festas BYOB mais famosas, destacam-se aquelas que foram organizadas, em plena pandemia, pelo então primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
Eram ilegais e deram o mote para o a queda política de Boris.
Desengane-se, no entanto, quem acha que este tipo de festas são recentes. Os convidados de um banquete nas montanhas Zagros do Irão, há 11.000 anos, já traziam, não álcool, mas comida de todo o país
O estudo, publicado no início do mês na Nature, por um grupo de investigadores da Universidade Nacional Australiana, revelaram detalhes até então desconhecidos de festas antigas em Asiab, nas montanhas Zagros, onde as pessoas se reuniam para celebrar em comunidade.
Os “festeiros” deixaram para trás os crânios de 19 javalis, que embalaram ordenadamente e selaram dentro de um fosso num edifício redondo. As marcas de esquartejamento nos crânios dos javalis mostram que os animais foram utilizados para os festejos, mas até agora não se sabia de onde vinham os animais.
Ao examinar os padrões de crescimento microscópico e as assinaturas químicas no interior do esmalte dentário de cinco destes javalis, a equipa descobriu que pelo menos alguns deles tinham sido trazidos para o local de uma distância substancial, transportados através de um terreno montanhoso difícil.
Trazer estes javalis para a festa – quando havia outros javalis disponíveis no local – teria exigido um enorme esforço.
Afinal, o que há de especial na festa de Asiab não é apenas o facto de ter sido realizada há muito tempo e de ter reunido pessoas de toda a região. É o facto de as pessoas que participaram nesta festa terem investido um grande esforço, de modo que as suas contribuições envolviam um elemento de simbolismo geográfico.
Comida é sempre bem-vinda
A comida e as tradições culinárias de longa data são uma componente integral das culturas de todo o mundo. É por esta razão que os feriados, festivais e outros eventos socialmente significativos envolvem normalmente a comida. Não podemos imaginar o Natal sem a ceia de Natal, por exemplo.
Além disso, a comida é uma prenda muito apreciada. Quanto mais um produto alimentar fizer lembrar um país ou um local específico, melhor. É por esta razão que o queijo de França, a carne seca de crocodilo da Austrália e a galinha preta da Coreia são uma boa moeda de troca no mundo dos presentes.
Tal como hoje, as pessoas que viveram no passado já se apercebiam-se da importância da reciprocidade e do lugar e formularam costumes para os celebrar publicamente.
Em festas antigas em Stonehenge, por exemplo, a investigação mostrou que as pessoas comiam porcos trazidos de vastas regiões da Grã-Bretanha.
Agora, as novas descobertas fornecem o primeiro vislumbre de um comportamento semelhante num contexto pré-agrícola.
Festa BYOB apanhada nos dentes
Os dentes analisados sugerem que pelo menos alguns dos javalis usados no banquete em Asiab vieram de uma distância considerável: possivelmente de pelo menos 70 km, ou dois ou mais dias de viagem.
A explicação mais provável é que tenham sido caçados em zonas mais distantes da região e transportados para o local como contributo para o banquete.
A reciprocidade está no centro das interações sociais. Tal como acontece atualmente com uma garrafa de vinho cuidadosamente escolhida, os javalis trazidos de longe podem ter servido para comemorar um local, um acontecimento e laços sociais através da oferta de presentes – teorizam os investigadores.
ZAP // The Conversation