António Filipe, o insubstituível que será muito diferente de Marcelo

Filipe Amorim / LUSA

António Filipe apresenta a sua candidatura à Presidência da República

Comunista apresentou uma candidatura presidencial que é “para levar até ao fim” e que não está limitada ao contexto do PCP.

O candidato presidencial António Filipe garantiu nesta segunda-feira que a sua candidatura “é para levar até ao fim” e não depende de terceiros, e manifestou-se aberto a consensos, recusando estar limitado a “fronteiras partidárias”.

“Esta candidatura é para levar até ao fim”, garantiu o ex-deputado aos jornalistas durante a sessão de apresentação da sua candidatura presidencial, na Voz do Operário, em Lisboa.

Questionado se admite retirar a sua candidatura caso António Sampaio da Nóvoa decida avançar com uma candidatura, António Filipe, apoiado pelo PCP, respondeu que a sua candidatura “é insubstituível” e a sua “importância” não pode ser assumida por “nenhuma [das candidaturas] existentes, muito menos das inexistentes”.

“Os candidatos até agora apresentados tornam esta candidatura absolutamente necessária e imprescindível e apresentamo-nos com a convicção de que merecemos o apoio, a confiança e o empenhamento de todos os cidadãos portugueses que querem mudar este estado de coisas”, referiu.

Sobre se conta com o apoio de outros partidos além do PCP, António Filipe respondeu que a sua candidatura “não se dirige aos partidos políticos, mas aos portugueses em geral”, que “não se conformam com o estado a que o país chegou e aspiram a que haja uma alternativa”.

Antes, no seu discurso de apresentação, António Filipe considerou que, nas suas “mais de três décadas” como deputado à Assembleia da República, conseguiu mostrar que “é possível conciliar a defesa intransigente das posições políticas de cada um e o combate leal a posições políticas diferentes, com um sentido de equilíbrio e de abertura a consensos em que todos os democratas se possam rever”.

“É esse o sentido da minha, da nossa candidatura. É a candidatura de um comunista, com a confiança e o apoio dos seus camaradas, mas rejeita que a queiram limitar às fronteiras de uma afirmação partidária”, frisou.

António Filipe afirmou que a sua candidatura é a de “todos os que não aceitam um caminho de degradação da democracia nem se resignam perante uma sociedade cada vez mais injusta”.

“É a candidatura que constitui o espaço de convergência de todos os que se reveem na Constituição, independentemente das suas opções políticas e partidárias”, destacou.

Enumerando os vários objetivos da sua candidatura, António Filipe garantiu que irá defender “os direitos de todos os trabalhadores, os nacionais e os imigrantes” e combater “todas as discriminações em razão do género, da etnia, da origem, da sexualidade, das convicções políticas, religiosas, de condição económica, social ou de qualquer outra natureza”.

“É a candidatura da verdade, que recusa o caminho da mentira e da demagogia e assume o mais firme combate a conceções reacionárias, fascistas, xenófobas, racistas, homofóbicas e discriminatórias”, frisou.

No final, questionado pelos jornalistas sobre qual é a fasquia eleitoral que a sua candidatura pretende atingir, António Filipe respondeu: “Vamos até onde os portugueses nos levarem”.

Unir democratas

António Filipe disse que a sua candidatura visa unir os democratas que não se conformam com “o facto de a direita controlar todos os órgãos de soberania” e afirmou-se comprometido com os valores da Constituição.

O candidato presidencial afirmou que, “perante as candidaturas já anunciadas, muitos democratas lamentavam, com razão, a falta de uma candidatura que se identificasse sem reservas com os valores de Abril consagrados na Constituição”.

“Uma candidatura capaz de unir os democratas que não se conformam com o facto de a direita controlar todos os órgãos de soberania, uma candidatura capaz de unir os portugueses na luta por uma alternativa ao estado a que chegámos, que resgatasse a esperança e abrisse horizontes de futuro. Essa candidatura faltava, mas já não falta. Aqui estamos”, afirmou António Filipe, recebendo um aplauso de pé da plateia.

O candidato salientou que as eleições presidenciais de janeiro de 2026 assumem “particular importância” numa altura em que a direita “controla todos os órgãos de soberania”, dispõe de uma maioria parlamentar para rever a Constituição da República e tem “possibilidades sem precedentes para determinar a composição de outros órgãos do Estado”.

Neste contexto, António Filipe defendeu que vai ser crucial o posicionamento do próximo Presidente “em face da Constituição e dos valores de Abril que ela consagra” e em face “da agenda do retrocesso social e democrático que está a ser promovida”.

“Aqui estamos, aqui estou, para dizer que a defesa da democracia e da Constituição não admite desânimos nem desistências“, frisou.

O candidato presidencial acusou o atual Governo de estar “apostado em levar por diante uma agenda reacionária de afronta à Constituição, de ataque aos direitos dos trabalhadores, de privatização dos serviços públicos e do que resta do setor empresarial público, de degradação do SNS e da escola pública, de privatização e assalto aos recursos da Segurança Social”.

“Apoia-se no crescimento de uma extrema-direita fascizante, racista e xenófoba, intensamente promovida pelo poder económico e por amplos meios mediáticos e cuja ação se baseia na demagogia, na mentira, na promoção do ódio contra os imigrantes, os pobres e os trabalhadores”, afirmou.

António Filipe recusou que o Governo da AD esteja a ceder à “agenda da extrema-direita”, contrapondo que está a usar o seu crescimento “como pretexto e base de apoio para levar por diante uma agenda reacionária que é a sua e que os portugueses já conhecem desde o tempo da ‘troika’”.

Após ter feito estas críticas, António Filipe defendeu que se exige a afirmação de uma alternativa perante a “situação insustentável” a que chegou o país.

O candidato defendeu que o próximo Presidente não pode admitir que se “empobreça a trabalhar cada ano”, que haja falta de professores na escola, que o “SNS seja destruído” ou que “não seja possível em Portugal encontrar uma habitação digna” a preços suportáveis.

Depois, abordou longamente a questão da imigração, considerando que, no atual contexto, precisa de ser regulada, mas não pode haver uma política em “que os estrangeiros ricos tenham direitos sem deveres e os estrangeiros pobres tenham deveres sem direitos”.

Acusando a extrema-direita de ter um ódio aos imigrantes com uma “indisfarçável marca de classe”, António Filipe defendeu que o Presidente da República não pode pactuar com esse tipo de discurso e “muito menos com uma atuação governativa em que conceções xenófobas e reacionárias sejam assumidas como políticas”.

“O Presidente da República, pelas suas elevadas responsabilidades, tem de ser um agente ativo neste embate civilizacional pela liberdade e a democracia”, sustentou.

Diferente de Marcelo

Caso seja eleito, pretende fazer “muito diferente” do atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, e “falar mais de questões realmente importantes”.

António Filipe foi questionado se tenciona ser a antítese de Marcelo Rebelo de Sousa caso venha a ser o próximo Presidente da República. “Eu não diria antítese, mas seria certamente muito diferente. Provavelmente, falaria muito menos de questões sem importância e procuraria falar mais de questões realmente importantes, em vez de ter uma atitude de certa forma taticista relativamente à situação política nacional”, respondeu o candidato.

António Filipe disse que teria “uma posição de franqueza, de frontalidade” para que os portugueses “percebessem que não estariam perante um Presidente enleado em táticas políticas, mas em alguém que, para além de levar muito a sério o seu mandato, está realmente preocupado em servir o povo português e a democracia”.

“E, no âmbito das suas competências, fazer tudo o que estiver ao seu alcance para cumprir e fazer cumprir a Constituição, que essa é que é que a incumbência fundamental do Presidente da República”, frisou.

Antes, no seu discurso, António Filipe considerou que o atual Presidente da República não só está comprometido “com o estado das coisas” no país, como, no “exercício das suas funções, teve muitas vezes um papel ativo, até determinante, para que a democracia portuguesa chegasse ao estado a que chegou”.

Depois, enumerou as várias tarefas que considera que um Presidente da República deve desempenhar, frisando que deve “cumprir e fazer cumprir a Constituição” e “não se pode limitar a pairar sobre os problemas, alheio às dificuldades concretas das pessoas e às ameaças que se colocam sobre Portugal e o mundo”.

“Uma candidatura a Presidente da República não pode resumir-se a produzir declarações generalistas e inócuas, sobretudo na situação que o país atravessa, porque isso significa que quer deixar tudo na mesma”, disse, numa alusão a outras candidaturas presidenciais, que não especificou.

Na sessão de apresentação da candidatura de António Filipe estiveram destacados militantes do PCP, como o secretário-geral, Paulo Raimundo, e os seus antecessores Jerónimo de Sousa e Carlos Carvalhas, além do ex-candidato presidencial João Ferreira, a líder parlamentar, Paula Santos, ou os ex-deputados Bruno Dias e Duarte Alves.

Estiveram ainda a atriz Maria João Luís, os cantores Vitorino e Janita Salomé, o editor Zeferino Coelho, o economista Ricardo Reis, a advogada Carmo Afonso e o antigo jornalista Pedro Tadeu.

ZAP // Lusa

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