De piropos a violações. Westminster é um lugar seguro para mulheres?

2

Hernan Piñera / Flickr

Parlamento britânico em Westminster, Londres, Reino Unido

Entre acusações de assédio ou violação, vários escândalos sexuais têm abalado a Câmara dos Comuns e há acusações de que persiste uma cultura sexista e de abusos em Westminster.

Na passada segunda-feira, foi noticiado o caso de um deputado Conservador que foi detido por suspeitas de violação e abuso de confiança após uma investigação que durou dois anos.

Os crimes terão acontecido entre 2002 e 2009 em Londres, de acordo com a Polícia Metropolitana, e o suspeito é homem na casa dos 50 anos. Uma das alegadas vítimas também terá menos de 18 anos.

Fontes de Westminster revelam ao The Guardian que algumas das ofensas terão acontecido no edifício do Parlamento. O deputado em questão já garantiu que não vai voltar à Câmara dos Comuns, após a direcção dos Conservadores lhe ter pedido que não voltasse a Westminster, e foi entretanto libertado após pagar a fiança.

O nome do deputado não foi divulgado. A Polícia não revelou a identidade do suspeito porque as normas ditam que o nome não deve ser desvendado até a acusação ser formalizada pelas autoridades.

Já a razão para os jornais manterem o anonimato prende-se com um precedente legal aberto com caso de 2012, em que Cliff Richard venceu um processo que abriu contra a BBC após a emissora ter noticiado que o cantor estava a ser investigado por abusos sexuais infantis, algo de que nunca foi acusado, escreve o The Guardian.

Esta decisão levou a que os jornais fossem mais cautelosos quando noticiam casos deste género. Mesmo assim, o Partido Conservador está a ser pressionado para suspender formalmente o deputado e para lhe retirar o cargo de whipdeputados encarregados de gerir os trabalhos parlamentares do partido.

O Partido Trabalhista já afirmou que “não parece ser sustentável” argumentar que o deputado não perca o whip, mesmo que isso implique a divulgação do seu nome. “É uma questão decidida pelo Partido Conservador, mas a nossa visão é que, dada a natureza das alegações, o whip deve ser suspenso e obviamente nessa fase tornar-se-ia público”, defende.

Já os sindicatos GMB e Prospect, que representam os funcionários do Parlamento, também consideram que o afastamento voluntário do deputado de Westminster não é suficiente, especialmente depois do caso de Imran Ahmad Khan, um deputado Conservador que continuou a ir a Westminster enquanto estava a ser investigado por ter violado um rapaz de 15 anos, tendo depois acabado por ser condenado.

“Na maioria dos casos, com um empregador, se a polícia estivesse envolvida numa situação como esta, isso cruzaria o limite, seria óbvio”, afirmou Dave Penman, secretário-geral do sindicato FDA, sobre a suspensão do deputado.

Do lado dos Conservadores, a direcção partidária recusa nomear o suspeito por temer que isso também exponha publicamente as alegadas vítimas, que têm o direito ao anonimato em casos de agressão sexual. Mesmo assim, garantem que o deputado em questão prometeu que não vai voltar ao Parlamento.

A cultura de abusos em Westminster

Este caso é só mais um que se vem juntar à lista de escândalos sexuais que tem abalado a política britânica nos últimos tempos.

A detenção do deputado surgiu na mesma fase em que foram anunciadas as datas de duas eleições antecipadas que foram causadas pelas demissões de dois outros deputados Conservadores acusados de comportamentos sexuais indecentes.

Os casos em questão envolvem Imran Ahmad Khan, deputado de Wakefield que foi condenado por ter abusado de um jovem de 15 anos, e Neil Parish, que confessou ter visto pornografia na Câmara dos Comuns em duas ocasiões. Ambas as eleições terão lugar a 23 de Junho.

Outro deputado Conservador, David Warbuton, também já viu o seu whip ser removido por estar a ser investigado pelo comité da Câmara dos Comuns por suspeitas de assédio sexual, tendo já sido acusado por três mulheres.

Rob Roberts voltou a integrar os Tories após ter sido suspenso devido a acusações de assédio a uma jovem funcionária, Andrew Griffiths foi condenado por ter violado a sua esposa, Charlie Elphicke foi preso por ter violado duas mulheres (incluindo uma funcionária parlamentar) e Michael Fallon demitiu-se após serem revelados casos de assédio a jornalistas.

Mas estes não são os únicos casos dentro do Partido Conservador. Stephen Crabb demitiu-se após ter enviado mensagens sexualmente sugestivas a uma candidata a trabalhar na sua equipa, Mark Garnier foi acusado de ter pedido a uma funcionária que comprasse um brinquedo sexual e Damian Green foi despedido por ter mentido sobre a presença de material pornográfico no seu computador no Parlamento.

Do lado dos Trabalhistas, Mike Hill foi afastado por ter repetidamente assediado e agredido sexualmente uma funcionária de Westminster, John Woodcock foi suspenso por ter enviado mensagens inapropriadas a uma trabalhadora e Kelvin Hopkins saiu do partido após ser aberta uma investigação a suspeitas de assédio.

No total, há 56 deputados que enfrentam acusações que vão desde comentários ofensivos até à violação, o que sugere que há uma cultura de abusos sexuais dentro do Parlamento.

O recente caso que envolveu a Trabalhista Angela Rayner também acendeu este debate, após uma fonte anónima do Partido Conservador ter contado ao Daily Mail que a deputada, que se senta em frente a Boris Johnson na Câmara dos Comuns, cruzava as pernas deliberadamente para tentar distrair o primeiro-ministro.

O secretário-geral do sindicato Prospect, Mike Clancy, quer uma mudança na cultura da Câmara dos Comuns, considerando que o Parlamento “deve ser um espaço onde os critérios mais altos sejam respeitados”.

Clancy  acredita também que “temos de nos lembrar que este é um local de trabalho como outro qualquer”. “Tem características especiais mas lá porque os temas são complexos ou sensíveis, isso não os deve colocar além das prácticas normais que se aplicam a locais de trabalho em todos os outros lugares neste país”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

2 Comments

    • A questão será mais, será o ocidente um Afeganistão para os homens?!.. completamente dominado pelo feminazismo onde vale tudo contra o homem e a sua essência?!.. já as mulheres podem tudo, mandar na vontade dos homens e claro..matar bebés aos milhões, são direitos humanos! Coisa ridícula!!. Brincar com sérias,.. se podem isto podem tudo.. E os golpes da barriga e falsas acusações arma de arremesso e de encher os bolsos num mundo á pala dos homens!.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.