O pico do vírus da gripe está a acontecer fora da época habitual. Especialista diz que o fim das restrições da covid-19 justificam este fenómeno.
O SARS-CoV-2 dominou a cena em Portugal nos últimos dois anos, num período adormecido do vírus da gripe. Agora, está gradualmente a voltar a ganhar peso, tendo vindo a fazê-lo principalmente a partir de fevereiro.
Desta forma, avizinha-se um pico fora de época, diz ao Diário de Notícias a coordenadora da Rede Médicos Sentinela, responsável pela vigilância do vírus.
“Estamos a observar um aumento de doentes com gripe nos casos que recorrem aos hospitais, quer nos doentes que são atendidos nos serviços de urgências quer nos internados, há quatro semanas consecutivas, havendo uma consistência no aumento de casos de semana para semana que era habitual nos meses de dezembro e janeiro. E não se espera uma redução de casos nas próximas semanas”, explicou Ana Paula Rodrigues.
Ora, no que toca à doença em sim, não será muito diferente de outra qualquer vaga. O que distingue esta é que está a acontecer fora do período em que era suposto.
O vírus a circular é do tipo A (gripe A) e sobretudo do subtipo H3N2, um vírus mais poderoso, realça o matutino. Noutras alturas em que foi detetado, o H3N2 provocou um excesso de mortalidade nos mais idosos.
No entanto, os 167 casos detetados até agora, nas duas últimas semanas, são adolescentes e jovens adultos.
“Ainda não tivemos um único caso de internamento por gripe reportado pelas 33 unidades de cuidados intensivos que participam na vigilância da gripe”, sublinha Ana Paula Rodrigues. “Temos detetado um caso de morte por semana, e nem todas as semanas”.
A médica diz que estes “foram dois invernos em que a população esteve muito mais protegida”. Seja por confinamentos que levaram ao teletrabalho e à telescola ou devido às medidas de proteção individual, como o uso de máscara, houve uma menor atividade do vírus da gripe.
A especialista acredita que este aumento da atividade gripal estará associado ao alívio das medidas de restrição impostas para a covid-19.
“A covid-19 já não tem a gravidade que tinha anteriormente, muito devido à vacinação, e há um nível de interações sociais já muito semelhante ao que existia no período pré-pandemia, sendo normal que os vírus respiratórios, que até aqui mantinham uma circulação mais limitada, pela ausência destes contactos interpessoais, aumentem a sua circulação”, explica a coordenadora da Rede Médicos Sentinela, do INSA.