“Os meus pais nunca me contaram a verdade sobre o meu nascimento. Quase fiz o mesmo à minha filha”

Aos 7 anos, e perante mistura de nacionalidades, a criança perguntou à mãe pela sua nacionalidade. Era altura de ser “abrir o livro”.

Julee Newberger estava na cozinha, em mais um dia da sua vida, até que uma pergunta da sua filha mudou tudo.

“Se tu és italiana e sueca, e se o pai é italiano e polaco, isso significa que eu sou sueca, polaca e italiana?”.

Uma questão de uma criança de 7 anos deixou uma adulta paralisada, com medo, relata a própria no HuffPost.

“Bem, não é exactamente isso…”, começou por responder a mãe, hesitante.

Julee estava a pensar na resposta que ia dar – era altura de “abrir o livro”.

A sua filha foi concebida através de doação de óvulos. Claro que há genes e do pai, semelhanças com o pai, mas os óvulos que também permitiram o seu nascimento eram de outra pessoa, uma dadora desconhecida. Não da mãe.

Julee cresceu numa família de segredos. Passou anos e anos sem saber a sua verdadeira origem: soube que tinha sido adoptada quando já tinha 40 anos – e quando mãe e pai já tinham morrido.

Acredita que os seus pais fizeram o que achavam que estava certo: protegê-la. Ou tinham medo que ela fugisse e procurasse a família biológica.

Mas não concordou com essa decisão. E não queria imitar esse processo com a sua filha. Prometeu a si mesma que iria explicar à criança que a mãe e o pai tentaram muitas vezes ter um bebé, mas chegaram à conclusão que precisavam de ajuda externa.

No entanto, o tempo ia passando e contar a verdade toda estava a ser mais difícil do que pensavam.

E passou por uma sensação de vergonha, “como se tivesse enganado a Natureza” – foi mãe aos 44 anos e com ajuda da Ciência. Sentiu-se uma “impostora” durante os primeiros meses da filha, sentiu que não tinha sido uma mãe de forma “legal” como as outras. E temia não ter os instintos como as amigas.

A determinação em contar a verdade sempre esteve lá. Mas os receios também: a criança ainda nem devia perceber como se faz um bebé, poderia sentir-se desligada da mãe…

“Enquanto continuássemos a viver numa bolha com este segredo, pertenceríamos uma à outra e nada mais”.

Com ajuda de um livro, que aborda as diversas formas de concepção, a conversa surgiu: “Lembras-te de quando te contámos que a mãe teve dificuldades em engravidar? Bem, uma dadora anónima deu-nos um óvulo para tu nasceres”.

Após outras trocas de ideias, sobre famílias “diferentes”, a criança começou a exteriorizar as suas conclusões:

– Então, tenho ligação com outra pessoa.
– Sim.
– Está bem – continuou a criança, virando costas, mas voltando logo a seguir – Mas posso ser francesa?
– Na verdade, acho que és um pouco francesa.
– Que fixe!

A mãe suspira.

No dia seguinte, quando voltou da escola: “Contei a todas as minhas amigas que tenho uma doadora! Toda a gente pensa que é fixe. A Lizzy perguntou-me se isso significa que eu tenho duas mães”.

Aí, a mãe sentiu um aperto no coração: “Tens uma mãe e uma doadora”.

A criança não se incomodou: “Ah, está bem. Posso comer M&Ms?”.

Foi apenas o início das conversas sobre o assunto. Mas correu bem. Nos próximos anos virão diálogos mais completos (e complexos), perguntas sobre as origens familiares, sobre possíveis meio-irmãos…

Mas já fez algo que os seus pais nunca fizeram. “Agora sei que viver numa mentira é doloroso. Imagino como se sentiram os meus pais ao longo de décadas”.

No entanto, reconhece, dizer a verdade não é sempre a opção mais fácil.

ZAP //

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