/

Porque é que a estirpe inglesa preocupa tanto Costa

13

Nuno André Ferreira / Lusa

O primeiro-ministro disse no Parlamento que só admite fechar as escolas “se se souber que a estirpe inglesa [do coronavírus] se tornou dominante no país”. Mas porque é que, afinal, António Costa está tão preocupado com esta variante que já foi detectada em 60 países?

A variante inglesa é 56% mais transmissível do que outras variantes conhecidas do vírus que provoca a covid-19, de acordo com especialistas da London School de Higiene e Medicina Tropical.

Esta estirpe mais contagiosa apareceu em Setembro de 2020 no sul de Inglaterra e depressa se tornou dominante nas novas infecções no Reino Unido.

Em Janeiro deste ano, 9 em 10 casos de infecções em Londres tinham a nova variante, e o mesmo sucedia com 1 em 50 pessoas em toda a Inglaterra, segundo dados da Saúde Pública de Inglaterra (PHE, na sigla original em Inglês).

Foi por causa da fácil propagação desta variante que o Reino Unido decretou o encerramento das escolas e um terceiro confinamento geral.

Entretanto, a nova variante já chegou a, pelo menos, 60 países, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Os especialistas acreditam que é por causa da fácil propagação da estirpe inglesa que a pandemia está de novo descontrolada na Europa. As previsões apontam que os números de infecções ultrapassem o pico da pandemia verificado em 2020.

Sem esta nova variante, a percepção científica é de que os números da infecção estariam muito mais estabilizados.

Em Portugal, o número de novas infecções disparou para mais de 14 mil nesta quarta-feira. Mas, para já, não é certo que este cenário esteja relacionado com a estirpe inglesa.

O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) revela, num relatório, que já foram detectados, em Portugal, 72 casos associados à variante inglesa. Mas ainda não há dados que comprovem que esta nova estirpe esteja a tornar-se dominante no país.

Porque é que esta variante é tão preocupante?

A principal preocupação quanto à chamada variante inglesa tem a ver com a sua rápida disseminação, mas também com o desconhecimento que existe em torno das mutações que sofreu e das consequências das mesmas.

Um dos peritos que aconselha o governo britânico na resposta à pandemia, Sir Patrick Vallance, afirmou em Dezembro que esta variante tem “23 mudanças”, muitas das quais “associadas com alterações na proteína que o vírus produz“, conforme declarações divulgadas pela Euronews.

“Este é um número excepcionalmente grande de variantes“, afiança Vallance, notando que a estirpe inglesa também tem mudanças em áreas do vírus que se sabe estarem associadas à forma como ele “se liga e entra nas células”.

Vallance destaca ainda que apresenta “algumas mudanças que causam preocupação em termos de como o vírus se apresenta”.

Contudo, para já, os especialistas acreditam que a nova variante não está associada a mais mortes e não há provas de que cause infecções mais graves, nem de que altere a eficácia das vacinas ou dos tratamentos.

Mas pode ser prematuro tirar conclusões neste âmbito porque as investigações em torno da estirpe continuam.

Só depois de haver muitas pessoas vacinadas se poderá ter mais certezas, alerta o investigador Andrew Pollard, líder dos testes clínicos da vacina da Oxford, em entrevista ao jornal médico The BMJ.

“Quando isso acontecer, alguns vírus simplesmente não conseguirão competir contra essa imunidade” de grupo, nota Pollard. Mas será que o vírus poderá mutar como resposta de sobrevivência a essa imunidade? “Com este coronavírus, ainda não sabemos a resposta a essa pergunta”, avisa o investigador.

Deste modo, “a vigilância será crítica”, aponta Pollard, frisando que é preciso evitar ficar numa posição em que haja “imunidade populacional” e o “vírus escape”. Se isso acontecer, será preciso “redesenhar as vacinas”, destaca.

A boa notícia nesse caso é que as vacinas Pfizer, Moderna e Oxford são “relativamente simples de redesenhar para uma nova variante”, conclui o mesmo investigador.

As variantes brasileira e sul-africana

A par da estirpe inglesa também têm sido detectadas outras variantes do coronavírus. Nos últimos tempos, as mais faladas pela comunidade científica são a brasileira e a sul-africana.

No caso da variante brasileira, começou por ser detectada no Japão, no início de Janeiro, em viajantes vindos do Brasil. Será a estirpe dominante em Manaus, cidade do Amazonas que tem vivido momentos difíceis devido ao elevado número de doentes infectados.

Esta estirpe brasileira “possui várias mutações que são conhecidas por serem biologicamente importantes“, destaca The BMJ, apontando que inclui a mutação N501Y que também está presente na variante inglesa e que “tem sido associada a um aumento da infectividade e da virulência em modelos de ratos”.

Também tem a mutação E484K, igualmente presente na variante sul-africana, que se acredita poder promover a “fuga” do vírus dos anticorpos neutralizantes produzidos pelo organismo, ainda segundo o mesmo jornal médico.

A estirpe sul-africana do vírus foi já detectada em, pelo menos, 20 países, de acordo com a OMS, e parece ter “uma maior carga viral”, sendo, portanto, “mais transmissível”, segundo as autoridades de saúde da África do Sul.

Para já, acredita-se que as três principais vacinas já aprovadas – Pfizer/BioNTech, Moderna e Oxford/AstraZeneca – podem ser eficazes contra as três estirpes. Todas têm como alvo a proteína “espiga” do vírus, onde ocorrem as mutações que originam estas variantes.

Porém, há receios de que as suas eficácias possam baixar perante determinadas mutações. Mas são necessários mais estudos para tirar as dúvidas.

Susana Valente, ZAP //

13 Comments

  1. “O primeiro-ministro disse no Parlamento que só admite fechar as escolas “se se souber que a estirpe inglesa [do coronavírus] se tornou dominante no país””. Espero sinceramente que o Costa não tenha dito isto. O problema não se põe numa nova variante. Põe-se no desrrespeito da população pelas regras essenciais: Distanciamento social, (que é MESMO distãncia entre as pessoas que na maioria as vezes é possivel manter embora provoque algum incómodo) o uso da máscara, (não abiaxo do nariz, não a protejer o queixo, não no braço e; muito menos, tirá-la porque se vai espirrar – e evitar ao máximo tocar nela!) e a lavagem frequente das mãos (mesmo muito frequente). Com estas três simples medidas, (que parece que não são, nem sequer para o Presidente, o primeiro e os deputados…) não há (para já – salvo alguma mutação extremamente virulenta) estirpe que resista. É esse o problema! A falta de respeito e de civismo da população portuguesa (mundial também mas, uma vez que se refere ao Costa, não refiro isso)! Não qualquer estirpe nova! Ah! Esqueci-me de outra medida que também é difícil entender para quem não precisa de sair de casa com frequência (para trabalhar). FICAR EM CASA!!!! Deixa-te de tretas, Costa!

      • Caramba! “distãncia” e a gralha “abiaxo” são assim tantos erros? E nem me tinha apercebido que os tinha feito, senão teria corrigido! Mas obrigado pelo apoio ao validar o meu comentário. É bem saber que não estou sózinho.

      • Caro “Deixa-te de tretas, Costa”,
        costumo ser exagerada. O ponto que queria focar era o seu comentário. Está muito bom, e revela, tal como muitas outras pessoas, a indignação que sente por ainda não ter havido uma grande reforma no governo.
        E deixe-me já clarificar uma ideia: não tenho nem nunca terei capacidade para validar o seu comentário, apenas para avaliar aquilo que vejo, e o que captei, apesar dos imensos erros (brincadeira, eh eh eh!), foi a verdade. Simples.

      • Obrigado pelo reparo. Gostaria apenas de clarificar uma coisa: Em altura alguma falei em qualquer reforma do Governo. Sei que este Governo tem falhado escandalosamente e continua a fazê-lo. Mas também sei que “outro” Governo faria ainda pior. A minha indignação centra-se no facto deste Governo ter tido todas as oportunidades para atuar mais eficazmente e não o fez… E continua a não fazer. E quem mais sofre são aqueles (muito poucos) que souberam respeitar as regras (e que continuam a fazê-lo mesmo vendo aqueles que nunca o fizeram a ser premiados, com praia, Natal, etc).

        Obrigado, Margarida.

    • Agora a culpa é do povo?! Mas tu és parvo ou quê?!!!! Então o governo permite tudo no Natal, mantém o restaurante da Assembleia da República aberto atualmente, mantém uma campanha eleitoral e um ato eleitoral em curso, não encerra as escolas, não bloqueou os voos vindos do Reino Unido na altura do surgimento desta estirpe, não previu nem planeou a resposta à segunda vaga (ISTO É A SEGUNDA VAGA E NÃO A TERCEIRA COMO DIZEM ERRADAMENTE), teima em não articular o público e o privado para aumentar consideravelmente a resposta do SNS, agradeceu aos profissionais da saúde com a liga dos campeões… e a culpa é do povo?!!! Tu deves ser um palerma completo.
      Olha… em qualquer país civilizado este governo já se tinha demitido. E quanto a ti, descansa um pouco, respira fundo, lava a cara com água bem fria e pode ser que percebas a palermice completa que tem sido a postura deste governo no âmbito da pandemia.

      • “Agora a culpa é do povo?!” É! “Mas tu és parvo ou quê?!!!!”. Não mas parece-me que não é o seu caso. “Então o governo permite tudo no Natal”. Pois… Permitiu e mal, é verdade, mas também é verdade que o povo, (sim, bem culpado desta situação mas não o único, como escrevi acima) sabendo do que se passava, abusou e abusou e abusou.
        É verdade que o Governo esteve muito mal nas medidas (assim como no mundo inteiro) mas o povo esteve igualmente mal.
        “Olha… em qualquer país civilizado este governo já se tinha demitido.” Pois… Então tooooodos os Governos do mundo já se tinham demitido! E depois eu é que sou palerma…
        Terceira vaga, segunda vaga… Nunca saímos da primeira!!!
        “E quanto a ti, descansa um pouco, respira fundo, lava a cara com água bem fria e pode ser que percebas a palermice completa que tem sido a postura deste governo no âmbito da pandemia.” Embora não seja assim tão óbvio, éw possivel ler que não estou de todo em acordo com a atuação do Governo, do Presidente e da Assembleia. Aconselho-o a respirar fundo e ler novamente o primeiro comentário. Mas, caso ainda não tenha conseguido recuperar o fôlego, eu explico: Tanto o Costa, como o Governo, o Presidente e… o povo, são responsáveis!!! Mas eu entendo. Como há pessoas (e muitas!) que não entendem que as regras sanitárias são essenciais para travar esta pandemia, é natural que achem que a culpa não é delas. Infelizmente isso é muito perigoso porque vai fazer aumentar ainda mais os números!
        Deixe-me dar-lhe um exemplo: Num contexto de pandemia, alguém com autoridade diz-lhe que pode andar livremente sem qualquer receio de contágio. O senhor, sabendo que esse perigo existe e que pode prejudicá-lo tanto a si como a outros, vai fazê-lo, só porque alguém lhe disse que sim? Por algum acaso será carneirinho? Respire fundo… mas, se estiver na rua ou fora de casa, faça-o com uma máscara e com distanciamento social (que quer dizer pelo menos dois metros de outra pessoa).

  2. Pego na ideia final do “Deixa-te de tretas, Costa!”.
    Com este “confinamento a brincar” (palavras de alguns especialistas de saúde), as pessoas não sentem medo, andam por aí, felizes e contentes. Em paralelo, o governo penaliza setores que sempre respeitaram as medidas restritivas, enquanto que ninguém fica em casa, apesar de a ordem ser mesmo essa.

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.