Universidade confirma “erros grosseiros” na tese de autarca acusado de plágio

Câmara Municipal Torres Vedras / Facebook

Carlos Bernardes, presidente da Câmara de Torres Vedras

Carlos Bernardes, presidente da Câmara de Torres Vedras

A comissão do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT) da Universidade de Lisboa nomeada para verificar eventuais indícios de plágio na tese de doutoramento do presidente da Câmara de Torres Vedras detetou “erros grosseiros” em citações.

A diretora do instituto, Lucinda Fonseca, que em 2015 foi também membro do júri na prova de defesa da tese, afirmou por escrito à Lusa que a comissão por si nomeada no final de janeiro concluiu que “há indícios que podem justificar a abertura de inquérito” por terem sido detetados “erros grosseiros na forma de citação de algumas fontes”.

“Apesar de considerarmos que os trechos da dissertação identificados, que aparentemente reproduzem textos não citados ou indevidamente citados, não representam parte materialmente significativa na tese, nem fundamental, somos do parecer de que há indícios que podem justificar a abertura de inquérito”, esclareceu a diretora do IGOT, citando as conclusões do relatório.

O autarca Carlos Bernardes (PS) referiu à Lusa que a tese “As linhas de Torres, um destino turístico estratégico para Portugal”, publicada em livro em outubro, é um estudo inovador, apesar de admitir “eventuais falhas” na identificação das fontes, que está disponível a corrigir.

Não tendo sido utilizados gestores bibliográficos automatizados, é natural que haja uma ou outra citação”, justificou.

A universidade tem um ‘software’ para deteção de plágios que, aquando da defesa da tese, em 2015, esteve temporariamente sem funcionar, a aguardar autorização do Ministério das Finanças para a aquisição de novas licenças, um problema ultrapassado em janeiro de 2016, esclareceu Lucinda Fonseca

Uma vez que o grau de doutor é atribuído pela universidade, o IGOT enviou o relatório da comissão ao reitor da instituição, que determinou a abertura de um inquérito interno e decidiu participar os factos apurados ao Ministério Público.

Em fevereiro, o Ministério Público abriu um inquérito para investigar o alegado plágio. As suspeitas foram levantadas num artigo de opinião de um antigo vereador da Câmara, Jorge Ralha (PS), no jornal Badaladas, de Torres Vedras, a 20 de janeiro.

O antigo autarca acusou Carlos Bernardes de plágio em 47 das 200 páginas da tese, através quer de “cópias integrais de partes de estudos sem identificar a fonte” bibliográfica, quer de “transcrições, sem aspas, de diversos autores”, ou “tentativa de disfarce de plágio alterando termos e expressões e não o conteúdo científico”.

De acordo com Jorge Ralha, são presumíveis visados os investigadores Vasco Gil Mantas, da Universidade de Coimbra, enquanto autor do artigo “Linhas fortificadas e vida quotidiana: da muralha da China à Muralha do Atlântico”; Luís Ferreira, do Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo, como autor do artigo “Planeamento estratégico de destinos turísticos”; e o próprio coorientador da tese de doutoramento, Carlos Guardado da Silva, autor de bibliografia sobre as Linhas de Torres Vedras.

Contactados pela Lusa, os investigadores optaram por não prestar declarações e aguardam pela conclusão do inquérito.

// Lusa

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