Um terço da Amazónia está degradado. Atividade humana e seca dividem culpas

Vinícius Mendonça / Ibama

Agosto de 2019. Fotografia aérea da Amazónia na região de Rondonia, Brasil

Mais de um terço da floresta amazónica pode ter sido degradado pela atividade humana e pela seca, e é necessário agir para proteger este ecossistema de importância crítica para o mundo, sustenta um novo estudo.

Segundo um estudo publicado esta sexta-feira na revista Science, os danos causados à floresta amazónica, que abrange nove países, são significativamente maiores do que se pensava anteriormente.

Para realizar o estudo, os investigadores examinaram o impacto do fogo, extração de madeira, seca e mudanças no habitat ao longo das bordas da floresta – a que chamaram de efeitos de borda, ou seja, mudanças em regiões de floresta ao lado de zonas desmatadas.

A maioria dos estudos anteriores sobre o ecossistema amazónico concentrou-se até agora nas consequências do desmatamento.

“Temos vasta literatura sobre o funcionamento, causas e impactos do desmatamento, mas não relacionada com a degradação, por isso o nosso foco foi entender esse processo”, explica à Agência FAPESP o ecólogo David Montenegro Lapola, investigador da Universidade Estadual de Campinas, no Brasil, e autor principal do Estudo.

“Uma das conclusões do estudo foi que a degradação é, ao menos parcialmente, um processo independente do desmatamento”, acrescenta o ecólogo.

Os investigadores usaram uma revisão analítica de dados científicos baseados em imagens de satélite e de informações colhidas em campo, já publicados anteriormente sobre mudanças na região amazônica, entre 2001 e 2018.

O trabalho foi desenvolvido no âmbito do projeto Analysis, Integration and Modelling of the Earth System (Aimes), ligado à iniciativa internacional Future Earth, que reúne cientistas e pesquisadores voltados ao estudo da sustentabilidade.

O estudo constatou que o fogo, a extração de madeira e os efeitos de borda degradaram pelo menos 5,5% de toda a floresta remanescente na Amazónia — o correspondente a 364.748 km² — entre 2001 e 2018.

Mas quando os efeitos da seca são contabilizados, a área degradada aumenta para 2,5 milhões de km² — 38% da floresta amazónica remanescente.

As secas extremas tornaram-se cada vez mais frequentes na Amazónia à medida que as mudanças no uso da terra e as mudanças climáticas induzidas pelo homem avançam, afetando a mortalidade de árvores, a incidência de incêndios e as emissões de carbono para a atmosfera”, sustentam os investigadores.

“Os incêndios florestais intensificam-se durante os anos de seca”, acrescentaram os autores do estudo, que alertam para os perigos de “mega-incêndios muito maiores” no futuro.

ZAP //

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