A União Europeia exportou 34 milhões de doses para outros países. Na terça-feira, farmacêuticas e outros agentes do setor da saúde salientaram que a enorme quantidade de doses que serão necessárias para inocular a população mundial começa a provocar a escassez de algumas matérias-primas.
A Bloomberg avança que a União Europeia exportou 34 milhões de doses de vacina contra a covid-19 para outros países, incluindo 9,1 milhões de doses para o Reino Unido (o maior destinatário das exportações das vacinas da UE até 9 de março).
Até esse dia, foram exportadas 954 mil doses para os Estados Unidos, 3,9 milhões para o Canadá e cerca de um milhão de doses para o Reino Unido só na última semana. Foram enviadas 3,1 milhões de doses para o México e o Japão recebeu 2,7 milhões.
O documento distribuído aos embaixadores da UE, a que a Bloomberg teve acesso, mostra que o bloco exportou para 31 países, tendo autorizado 249 dos 258 pedidos de exportação.
Na terça-feira, mais de uma centena de farmacêuticas e outros agentes do setor da saúde alertaram que a enorme quantidade de doses que serão necessárias para inocular a população mundial começa a provocar a escassez de algumas matérias-primas para fabricar as vacinas.
Richard Hatchett, do ramo para a investigação da Aliança para as Vacinas (Gavi), disse que “as empresas anteveem para este ano uma produção de entre 10 mil e 14 mil milhões de doses de vacinas anticovid, quando, em anos normais, se fabricam entre 3.500 e 4.500 milhões de doses de todas as outras vacinas somadas”.
Citado pelo Público, o diretor-geral da Federação Internacional da Indústria Farmacêutica (IFPMA), Thomas Cueni, acrescentou que todas as empresas presentes na reunião renovaram o seu compromisso de aumentar a produção das doses de vacinas anticovid, apesar das dificuldades.
“Não devemos ficar surpreendidos se existirem dificuldades ao longo do percurso. São necessárias centenas de matérias-primas para fazer as vacinas. Isto vai inevitavelmente levar a problemas que terão de ser resolvidos com urgência”, referiu.
Ex-bastonário questiona falta de vacinas
O ex-bastonário da Ordem dos Farmacêuticos, Aranda da Silva, garantiu esta quarta-feira que o setor farmacêutico europeu e mundial apresenta capacidade excedentária de produção, numa altura em que vários países se debatem com escassez de vacinas.
“Como é que é possível falar-se em dificuldades na produção [de vacinas], quando se sabe que há capacidade excedentária, ao nível europeu e mundial”, questionou o antigo bastonário num debate sobre as vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 promovido pelos eurodeputados do Bloco de Esquerda, Marisa Matias e José Gusmão.
José Aranda da Silva, que foi administrador da Agência Europeia do Medicamento entre 1994 e 2000, salientou que várias farmacêuticas concretizam a “maior parte da sua produção em terceiros”, apontando o exemplo dos Estados Unidos, onde vacinas da Pfizer e da Moderna vão ser também produzidas em infraestruturas da Merck.
“Não se percebe o que anda a fazer na Europa a Comissão Europeia e a Presidência da União Europeia, que é portuguesa”, sublinhou o antigo bastonário, para quem as vacinas “são o instrumento público mais importante mesmo produzido por entidades privadas” no combate à covid-19.
“Há bens privados que, em certos momentos históricos, se tornam em bens públicos”, afirmou José Aranda da Silva, ao realçar que foi o investimento público de vários países que permitiu o “encurtamento do prazo” na investigação, na avaliação e na produção das vacinas contra a covid-19.
No debate virtual promovido pelo BE, o ex-presidente do Infarmed alertou ainda que, ao nível da produção das vacinas, um dos estrangulamentos tem a ver com o enchimento de frascos de pequeno volume.
“Isso podia ser feito em Portugal, que tem capacidade para fazer esse tipo de enchimento, o que permitiria encurtar, se isso fosse feito nos países europeus, a produção em alguns meses”, assegurou Aranda da Silva.
Segundo o farmacêutico, não se prevê, a médio prazo, o aparecimento de um medicamento específico para o vírus SARS-CoV-2, sendo também necessário que não se “fique focado nas vacinas das grandes companhias internacionais”, já que “há outras vacinas no mercado”.
Liliana Malainho, ZAP // Lusa
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