A norte-americana Sarah Ashton-Cirillo juntou-se às Forças Armadas Ucranianas e tornou-se porta-voz pelo seu bom domínio da Língua inglesa. Mas é como mulher trans que dá que falar por estar a ser alvo dos russos, e também de alguns políticos dos EUA.
A cidadã norte-americana de 45 anos aterrou na Ucrânia logo no início da invasão russa em Fevereiro de 2022, como jornalista freelancer.
Mas resolveu juntar-se às Forças de Defesa Territorial (FDT) da Ucrânia depois de ter passado “seis meses e meio em Kharkiv”, como explica à rádio pública alemã Deutsche Welle (DW).
“Testemunhei o genocídio russo, o terrorismo russo, os crimes de guerra russos todos os dias”, nota, realçando que o trabalho como jornalista levou-a a Izium, cidade onde foram descobertas valas comuns com vítimas das forças russas.
“Depois de Izium, sabia que tinha de me alistar. Não tinha escolha”, acrescenta.
One year ago at a mass grave.
This is why we fight.
Russian war crimes, terrorism and genocide against Ukrainians can never be forgotten. pic.twitter.com/7HjSvfn3Bl
— Sarah Ashton-Cirillo (Ukrainian TDF Media) (@SarahAshtonLV) September 18, 2023
Mas não foi por se ter juntado às Forças Armadas da Ucrânia que Sarah Ashton-Cirillo se tornou conhecida. A sargento que é transgénero (ou seja, tem uma identidade de género diferente do sexo que lhe foi atribuído à nascença) está a ser notícia porque tem sido alvo da fúria de várias contas de propaganda pró-Rússia nas redes sociais.
Foi também vítima de piadas preconceituosas da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, e de canais de televisão russos.
This is what led off a special about me on Russian State Television.
A custom made playing card.
I’m official comic book villain to the Russian war criminals now. pic.twitter.com/6isZZrVO2z
— Sarah Ashton-Cirillo (Ukrainian TDF Media) (@SarahAshtonLV) September 7, 2023
Foi suspensa e criticada por um senador dos EUA
Contudo, Sarah Ashton-Cirillo também está envolvida numa controvérsia interna e foi suspensa pelas FDT em Setembro passado, por “declarações não aprovadas pelo comando“, como reporta a DW.
Está a decorrer uma investigação e, oficialmente, não foram divulgadas as palavras que motivaram a suspensão.
Contudo, a rádio alemã adianta que se deveu a um vídeo que publicou no antigo Twitter, agora designado X, onde afirma que “os propagandistas criminosos de guerra da Rússia serão todos caçados“.
Noutro vídeo, Ashton-Cirillo visa especificamente um “fantoche de Putin”, salientando que este “propagandista favorito do Kremlin” será “o primeiro” a “pagar pelos seus crimes”.
Estas ameaças da sargento motivaram críticas do senador republicano J.D. Vance que se opõe à ajuda militar dos EUA à Ucrânia. O político acusa a porta-voz das FDT de “ameaçar com violência física” opositores da ajuda americana aos ucranianos.
“Preocupo-me que os recursos americanos possam estar a apoiar a violência ou a ameaça de violência contra quem expressa o que pensa“, salientou Vance numa entrevista a um canal dos EUA.
O senador ainda gozou com a identidade de género da sargento, apelidando-a de “louca” e de “esquisitona”, e frisando que os seus vídeos parecem saídos de um sketch de comédia.
“Fiquei chocado quando descobri que se tratava de uma pessoa de verdade”, realçou.
🔥Senator @JDVance1 SLAMS taxpayer-funded Ukrainian spokesperson for issuing death threats:
“Are we really funding a military that is threatening the free speech rights of people who disagree with the Ukraine war? Why are our paid guns threatening the rights of Americans?” pic.twitter.com/IkGVxZHTa9
— Senator Vance Press Office (@SenVancePress) September 20, 2023
“Haters não me afectam. Estive na linha de frente”
Ashton-Cirillo já desvalorizou as críticas e as piadas de que é alvo. “Estou na linha de frente da guerra de informação“, reforçou à DW, notando que é uma espécie de “pára-raios” que protege “os que são mais importantes” na Ucrânia de ataques verbais nas redes sociais.
“As palavras dos haters russos não me afectam. Estive na linha de frente”, salientou ainda a sargento, apontando que viu “a vida” e “a morte”. “As palavras não importam quando se entende que as acções vão contribuir não apenas para a libertação da Ucrânia, mas também para salvar vidas ucranianas e russas”, destacou.
Quanto à sua identidade de género, considerou que não é “definida por ser LGBTQ”. Os “soldados não são definidos por nenhuma identidade, além de serem soldados”, constatou.
Desde quando uma trans ianque enfurece?
Concordo com a Sarah, no exército não há homens, nem mulheres só há soldados.