Ucrânia tem uma porta-voz trans que está a enfurecer a Rússia

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@SarahAshtonLV / Twitter

Sarah Ashton-Cirillo, mulher trans, no exército da Ucrânia.

Norte-americana Sarah Ashton-Cirillo juntou-se às Forças Armadas Ucranianas e tornou-se porta-voz pelo seu bom domínio da Língua inglesa.

A norte-americana Sarah Ashton-Cirillo juntou-se às Forças Armadas Ucranianas e tornou-se porta-voz pelo seu bom domínio da Língua inglesa. Mas é como mulher trans que dá que falar por estar a ser alvo dos russos, e também de alguns políticos dos EUA.

A cidadã norte-americana de 45 anos aterrou na Ucrânia logo no início da invasão russa em Fevereiro de 2022, como jornalista freelancer.

Mas resolveu juntar-se às Forças de Defesa Territorial (FDT) da Ucrânia depois de ter passado “seis meses e meio em Kharkiv”, como explica à rádio pública alemã Deutsche Welle (DW).

Testemunhei o genocídio russo, o terrorismo russo, os crimes de guerra russos todos os dias”, nota, realçando que o trabalho como jornalista levou-a a Izium, cidade onde foram descobertas valas comuns com vítimas das forças russas.

Depois de Izium, sabia que tinha de me alistar. Não tinha escolha”, acrescenta.

Mas não foi por se ter juntado às Forças Armadas da Ucrânia que Sarah Ashton-Cirillo se tornou conhecida. A sargento que é transgénero (ou seja, tem uma identidade de género diferente do sexo que lhe foi atribuído à nascença) está a ser notícia porque tem sido alvo da fúria de várias contas de propaganda pró-Rússia nas redes sociais.

Foi também vítima de piadas preconceituosas da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, e de canais de televisão russos.

Foi suspensa e criticada por um senador dos EUA

Contudo, Sarah Ashton-Cirillo também está envolvida numa controvérsia interna e foi suspensa pelas FDT em Setembro passado, por “declarações não aprovadas pelo comando“, como reporta a DW.

Está a decorrer uma investigação e, oficialmente, não foram divulgadas as palavras que motivaram a suspensão.

Contudo, a rádio alemã adianta que se deveu a um vídeo que publicou no antigo Twitter, agora designado X, onde afirma que “os propagandistas criminosos de guerra da Rússia serão todos caçados“.

Noutro vídeo, Ashton-Cirillo visa especificamente um “fantoche de Putin”, salientando que este “propagandista favorito do Kremlin” será “o primeiro” a “pagar pelos seus crimes”.

Estas ameaças da sargento motivaram críticas do senador republicano J.D. Vance que se opõe à ajuda militar dos EUA à Ucrânia. O político acusa a porta-voz das FDT de “ameaçar com violência física” opositores da ajuda americana aos ucranianos.

“Preocupo-me que os recursos americanos possam estar a apoiar a violência ou a ameaça de violência contra quem expressa o que pensa“, salientou Vance numa entrevista a um canal dos EUA.

O senador ainda gozou com a identidade de género da sargento, apelidando-a de “louca” e de “esquisitona”, e frisando que os seus vídeos parecem saídos de um sketch de comédia.

“Fiquei chocado quando descobri que se tratava de uma pessoa de verdade”, realçou.

“Haters não me afectam. Estive na linha de frente”

Ashton-Cirillo já desvalorizou as críticas e as piadas de que é alvo. “Estou na linha de frente da guerra de informação“, reforçou à DW, notando que é uma espécie de “pára-raios” que protege “os que são mais importantes” na Ucrânia de ataques verbais nas redes sociais.

“As palavras dos haters russos não me afectam. Estive na linha de frente”, salientou ainda a sargento, apontando que viu “a vida” e “a morte”. “As palavras não importam quando se entende que as acções vão contribuir não apenas para a libertação da Ucrânia, mas também para salvar vidas ucranianas e russas”, destacou.

Quanto à sua identidade de género, considerou que não é “definida por ser LGBTQ”. Os “soldados não são definidos por nenhuma identidade, além de serem soldados”, constatou.

ZAP //

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