Ucranianos perguntam: Kursk serviu para quê?

Alexey Smirnov/Telegram

Imagem dos estragos partilhada pelo governador de Kursk, Alexey Smirnov

Foi uma operação arriscada, criticada e que agora terminou em retirada – a Rússia voltou a controlar uma potencial moeda de troca.

Estávamos em Agosto do ano passado quando a Ucrânia surpreendeu e invadiu a Rússia. Mais precisamente, entrou em Kursk e confundiu os russos.

Foi uma “provocação em grande escala”, dizia na altura Vladimir Putin, presidente da Rússia, reagindo assim ao maior ataque ao território soberano russo desde a invasão dos nazis de 1941.

Poucos dias depois do início da ofensiva, os ucranianos chegaram a controlar 74 localidades russas naquela região. A ideia era pressionar Moscovo, desviar as forças russas de outras frentes e impedir ataques russos na fronteira com partes vizinhas da Ucrânia.

E os ucranianos cumpriram a maioria dos seus objectivos, diz hoje o Estado-Maior das Forças Armadas: controlar território russo, exaustão do inimigo, causar baixas do outro lado, captar soldados para troca de prisioneiros e retirada das reservas russas.

Oleksander Syrskyi, comandante-chefe da Ucrânia, disse que a operação desviou e matou algumas das melhores tropas russas.

Mas, poucas semanas depois do início da invasão, o cenário começou a ser favorável para o outro lado: os russos iam recuperando quase tudo e, no final de 2024, chegaram unidades de elite do Kremlim, drones e militares da Coreia do Norte.

A Rússia está de novo a controlar Kursk. A “confirmação” chegou na semana passada, com a retirada das tropas ucranianas de Sudzha, naquela região.

Esta derrota tira à Ucrânia uma potencial moeda de troca, nas prováveis negociações com Rússia e EUA.

E há outro factor: mesmo entre os ucranianos, há dúvidas sobre esta operação arriscada que terminou em retirada. A opinião pública na Ucrânia está dividida: Kursk serviu para quê?

A agência Reuters ouviu alguns testemunhos. Mariia Pankova, que perdeu o grande amigo em Kursk (para já, oficialmente desaparecido), acredita que o custo da arriscada incursão da Ucrânia na Rússia pode ter sido demasiado elevado.

Só não tenho a certeza se valeu a pena“, disse a ucraniana, enquanto chorava. “Não somos invasores. Só precisamos dos nossos territórios de volta, não precisamos do território russo”, acrescenta, dando voz ao pensamento de muitos ucranianos.

O soldado Oleksii Deshevyi ficou sem uma mão em Kursk. E não hesita: “Não devíamos ter iniciado esta operação”.

Já no ano passado, a crítica chegou de outro nível – de Viktor Muzhenko, antigo chefe do Estado-Maior da Ucrânia. Defendeu que o seu país deveria “concentrar-se na defesa dos seus principais territórios, evitando operações arriscadas e imprevisíveis que pudessem desviar a atenção das principais ameaças, e escolher formas e métodos de utilização das tropas que sejam adequados às suas capacidades”.

ZAP //

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