O Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky reivindicou esta terça-feira o controlo de 74 localidades em território russo, onde as suas forças desencadearam na semana passada uma ofensiva que implicou a retirada de dezenas de milhares de civis.
“Apesar dos combates difíceis e intensos, prossegue o avanço das nossas forças na região de Kursk. Existem 74 localidades sob controlo da Ucrânia”, indicou Zelensky em mensagem na rede social Telegram, após receber um ponto de situação do comandante-chefe das Forças Armadas, Oleksandr Syrskyi.
O Presidente ucraniano afirmou ainda que “centenas” de soldados russos já se renderam na região de Kursk após a ofensiva ucraniana e que “estão a ser tratados com humanidade”, algo que não teriam “nem no próprio exército russo”.
A Ucrânia lançou na semana passada uma surpreendente operação em larga escala na província russa de Kursk, na fronteira, dois anos e meio após o início da invasão da Ucrânia e depois de meses de recuo perante as forças russas na frente leste.
Desde o início desta incursão, dezenas de pessoas morreram. As autoridades russas ordenaram esta segunda-feira a evacuação das zonas próximas da fronteira com a Ucrânia, à medida que as forças de Kiev avançavam ainda mais em território russo — o maior ataque de um Exército estrangeiro desde a II Guerra Mundial.
Em contrapartida, a Rússia disse que as suas forças impediram o progresso da incursão ucraniana na região de Kursk, e quando um porta-voz da diplomacia ucraniana garantia que Kiev “não tem intenção” de ocupar território russo.
Unidades do Exército russo, incluindo novas reservas, aviação, equipas de ‘drones’ e forças de artilharia impediram os grupos móveis ucranianos de aprofundarem o seu avanço na Rússia perto das localidades de Obshchy Kolodez, Snagost, Kauchuk e Alexeyevsky, na província de Kursk, indicou o ministério da Defesa russo em comunicado.
Em paralelo, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Heorhii Tykhyi, assegurou que a operação transfronteiriça se destina a proteger território ucraniano dos ataques de longo alcance desencadeados a partir de Kursk.
“A Ucrânia não está interessada em obter território da região de Kursk, mas queremos proteger as vidas do nosso povo”, argumentou, citado pelos ‘media’ locais.
Indicou ainda que a Rússia lançou mais de 2.000 ataques nos últimos meses a partir da região de Kursk, utilizando mísseis antiaéreos, morteiros, ‘drones’, bombas planadoras e mais de 100 mísseis.
As forças do Kremlin também intensificaram os ataques na frente leste. O estado-maior ucraniano indicou que as tropas russas efetuaram 52 assaltos nas últimas 24 horas na área da Pokrovsk, cidade na região de Donetsk perto da linha da frente, o dobro dos ataques que aí ocorreram há uma semana.
Os militares ucranianos também continuam a garantir o controlo de 1.000 km2 de território russo. Os objetivos do avanço militar na região de Kursk permanecem em segredo militar.
Analistas citados pela agência noticiosa Associated Press consideram que o “catalisador” para esta operação consiste no desejo ucraniano de aliviar a pressão nas suas linhas da frente, tentando desviar as forças russas para a defesa de Kursk e de outras regiões fronteiriças.
No entanto, a intensificação dos combates em torno de Pokrovsk parece sugerir que Moscovo “não mordeu o isco”.
Um porta-voz do exército ucraniano, Dmytro Lykhoviy, alegou em declarações ao Politico que o ataque ucraniano levou a Rússia a retirar de território ocupado na Ucrânia “um número relativamente pequeno” de unidades.
“A Rússia relocalizou algumas das suas unidades das regiões de Zaporijia e Kherson no sul da Ucrânia”, disse Lykhoviy.
“Notícias falsas”: senadora russa pede punição de bloggers
A senadora russa Natalia Kosikhina instou esta terça-feira à punição dos ‘bloggers’ militares russos que difundam “notícias falsas” sobre a situação em zonas fronteiriças da Rússia, incluindo na região de Kursk, desde 6 de agosto atacada por tropas ucranianas.
“É importante que estes cidadãos compreendam e se apercebam das consequências que podem sofrer pelas suas declarações imprudentes, especialmente quando se trata de uma região onde foi imposto o regime da operação antiterrorista”, afirmou Kosikhina, citada pela agência noticiosa RIA Novosti.
As autoridades russas declararam, no fim de semana, o “regime antiterrorista” em três regiões fronteiriças com a Ucrânia, entre as quais Kursk, onde os militares de Kiev irromperam a 6 de agosto e continuam a manter a sua presença em dezenas de localidades.
Segundo a senadora russa, é necessário punir, também criminalmente, aqueles que divulgam “informações não-verificadas” através das redes sociais e de aplicações de mensagens instantâneas – referindo-se ao Telegram, o principal meio utilizado por ‘bloggers’ militares russos para interagir com o seu público.
Kosikhina sustentou que as informações que são divulgadas em determinados canais com milhões de subscritores por vezes não correspondem à realidade e contribuem “para o aumento da ansiedade e de estados de espírito alarmistas”.
Estas declarações foram emitidas no contexto da operação militar das forças ucranianas em curso em Kursk, com escassa informação oficial de ambas as partes em conflito e muita desinformação a circular.
Em tais condições, a voz de vários ‘bloggers’ militares tornou-se, na Rússia, praticamente a única fonte de informação sobre os acontecimentos em Kursk e noutras regiões fronteiriças, sendo também utilizada por meios de comunicação social estrangeiros e centros de análise como o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW).
Esta terça-feira, um tribunal de Moscovo aplicou uma multa de quatro milhões de rublos (pouco mais de 40.000 euros) à plataforma digital Telegram por não ter retirado informação considerada falsa sobre as atividades das Forças Armadas russas durante a invasão da Ucrânia, iniciada há quase dois anos e meio.
Trata-se da pena máxima para este tipo de infração administrativa considerada crime pela lei russa que, desde que começou a invasão, já impôs numerosas sanções deste género a várias aplicações de redes sociais e operadoras de Internet.
O tribunal distrital de Taganski tomou esta decisão depois de o Telegram se ter recusado a retirar tais conteúdos do seu serviço, após uma queixa apresentada pelo serviço responsável pela regulação e supervisão dos meios de comunicação social na Rússia, Roskomnadzor, indicaram as agências estatais russas.
ZAP // Lusa
Os ucranianos, em poucos dias, ocuparam mais território na Rússia do que esta na Ucrânia em quase dois anos e meio de invasão, guerra e destruição! Valentes ucranianos, defensores da Europa!