A Turquia decidiu esta terça-feira suspender as relações ao mais alto nível,com a Holanda, anunciou, em Ancara, o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus.
O país ameaçou ainda rever o acordo estabelecido com a União Europeia para conter o fluxo de refugiados a entrar na Europa.
Em causa está a exigência turca da realização de comícios com a comunidade turca residente na Holanda para promover o voto na reforma constitucional que confere acrescidos poderes executivos ao Presidente Recep Erdogan.
“Existe uma crise muito profunda. Nós não criámos esta crise nem a trouxemos para este nível. Estamos a fazer exatamente o que eles nos fizeram, e não vamos permitir que os aviões que transportem diplomatas ou enviados holandeses aterrem na Turquia ou usem o nosso espaço aéreo. Aqueles que criaram esta crise são responsáveis por terminá-la”, afirmou Kurtulmus.
“Foi decidido que até que as nossas exigências sejam respeitadas, o embaixador da Holanda não será autorizado a regressar“, disse Kurtulmus à imprensa, no final de uma reunião do Governo turco.
O embaixador holandês em Ancara, Kees Cornelis van Rij, encontra-se atualmente a gozar férias fora da Turquia e a representação dos interesses da Holanda é desempenhada pelo encarregado de negócios.
Turquia diz que críticas da UE ao conflito com a Holanda “não têm valor”
A Turquia atacou esta terça-feira a União Europeia depois de o bloco ter criticado Ancara devido ao crescente conflito diplomático com a Holanda.
“A declaração míope da União Europeia não tem valor para o nosso país“, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros turco. Na segunda-feira, Bruxelas pediu à Turquia que refreasse as suas declarações excessivas, depois de o Presidente Recep Tayyip Erdogan ter acusado a Holanda de agir como os nazis.
Segundo o governo turco, ao invés de acalmar a situação, a União Europeia está a “dar crédito à xenofobia e a sentimentos anti-turcos“, ao escolher ficar ao lado de países que violam acordos diplomáticos e a lei.
Em comunicado, o ministro Mevlüt Çavusoglu qualificou de “extremamente grave” o apoio da União Europeia à Holanda no conflito diplomático entre os dois países e acusou o bloco de ser “seletivo na aplicação dos valores democráticos e direitos fundamentais“, e evitar problemas ao mesmo tempo que recomenda “canais de diálogo”.
Na origem do conflito está a exigência turca de realização de comícios com a comunidade turca residente na Holanda para promover o voto na reforma constitucional que confere acrescidos poderes executivos ao Presidente Erdogan, pedido esse que foi negado.
A manifestação de cidadãos turcos tinha sido convocada nas redes sociais em protesto contra a proibição pelas autoridades holandesas da visita de dois ministros do Governo de Ancara à Holanda, e que pretendiam participar num comício de apoio ao referendo constitucional de 16 de abril.
A participação dos ministros turcos em reuniões para promover o voto dos imigrantes turcos em países europeus tem provocado tensão nas últimas semanas entre Ancara e várias capitais europeias.
O objetivo dos governantes da Turquia é que os seus cidadãos na diáspora votem, no referendo de 16 de abril, “sim” ao reforço dos poderes do presidente do país.
No sábado, as autoridades holandesas impediram a aterragem do avião onde viajava o chefe da diplomacia turca, Mevlüt Çavusoglu, enquanto a ministra dos Assuntos Familiares, Fatma Betul Sayan Kaya, foi expulsa da Holanda para a Alemanha.
// Lusa