Truss aposta num Governo mais feminino — mas não escapa às críticas

Oito dos 23 membros do Conselho de Ministros de Truss são mulheres e pela primeira vez na história do Reino Unido, o país tem uma primeira-ministra e uma vice-primeira-ministra. No entanto, as escolhas de Liz Truss estão longe de ser consensuais.

Liz Truss é agora a terceira primeira-ministra da história do Reino Unido, depois de Margaret Thatcher e Theresa May, e, pela primeira vez, o país terá duas mulheres como chefe do Governo e como número dois, já que Truss escolheu Thérèse Coffey, a sua nova Ministra da Saúde, para sua vice-primeira-ministra.

A maior presença feminina no Governo ficou evidente nas escolhas de Truss, que também nomeou Suella Braverman para o cargo de Ministra do Interior, Chloe Smith ficou com a pasta do Traballho, Anne-Marie Trevelyan assume a responsabilidade dos Transportes, Kemi Badenoch é a Ministra do Comércio e Michelle Donelan fica com a tutela da Cultura.

Uma das rivais de Truss na corrida à liderança dos Conservadores, Penny Mordaunt vai agora ser a líder da Câmara dos Comuns, sendo responsável por fazer a ligação entre o Governo e o Parlamento.

Com um papel semelhante fica também a Secretária Parlamentar do Tesouro, Wendy Morton, que é agora a primeira mulher a assumir o cargo de chief whip dos Tories e vai ser responsável por gerir as negociações entre o Governo e os deputados Conservadores com vista a assegurar a aprovação das leis.

“É decepcionante”

Apesar da aposta de Truss em mais rostos femininos, as suas escolhas não são imunes a críticas. Mesmo com estas novas Ministras, apenas oito dos 23 membros do Conselho de Ministros de Truss são mulheres.

Em declarações ao The Independent, Mandu Reid, líder do Partido para a Igualdade das Mulheres, considera que a vitória de Truss está longe de ser uma vitória para todo o género. “Truss usou a sua plataforma durante a campanha para aliciar as guerras culturais e satisfazer uma base de apoio de direita populista“, começou.

A líder partidária lembra que as mulheres são a “metade mais pobre da população” e acusa Truss de não responder aos problemas que estas enfrentam. “Precisamos de uma primeira-ministra que reconheça e que responda urgentemente aos problemas que a crise do custo de vida vão trazer às mulheres”, reforça, enumerando os preços das cresces e as contas da energia como alguns dos exemplos.

A escolha de Thérèse Coffey para a pasta da Saúde e para número dois também desagrada, devido às suas posições sobre os direitos reprodutivos das mulheres — em 2010, Coffey apresentou uma proposta de lei que obrigaria as mulheres que querem abortar a fazer uma avaliação mental e mais recentemente votou contra uma proposta do Governo que pretendia expandir o acesso à pílula do dia seguinte.

A decisão de Truss de acabar com o cargo de Ministro das Mulheres também lhe está a valer críticas. A nova líder do Governo preferiu antes nomear Nadhim Zahawi para o cargo de Ministro da Igualdade e diz que este papel já inclui as preocupações específicas com a igualdade de género.

Caroline Nokes, chefe Conservadora para o comité das mulheres, descreve a escolha como “decepcionante” depois de uma campanha em que a nova primeira-ministra usou a sua condição enquanto mulher como um trunfo eleitoral.

“Liz Truss falou muito sobre como ela sabia o que era ser mulher durante a campanha para liderança, ouvimos a palavra ‘mulher’ a ser muito usada. Por isso é decepcionante ver que a palavra cai no nome do cargo”, revela ao The Guardian.

“Depois de a primeira-ministra se ter focado nos direitos das mulheres durante a campanha para liderança, temos de fazer a pergunta: será que ela agora acha que o trabalho está feito? Ela acha que não há desigualdade salarial, que não há desigualdade nas pensões?”, questiona ainda Nokes.

Adriana Peixoto, ZAP //

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