Truss estreia-se em Congresso com “tempestade financeira” no Reino Unido

A estreia de Liz Truss como primeira-ministra no congresso do Partido Conservador, que decorre entre hoje e quarta-feira em Birmingham, Reino Unido, será ensombrada pela “tempestade” financeira da última semana e anunciadas greves de comboios. 

Eleita líder dos ’tories’ apenas no início de setembro, Truss vai enfrentar militantes e deputados irritados com a repercussão do “mini-orçamento” de 23 de setembro nos mercados financeiros, que afundou o valor da libra esterlina e fez disparar os juros da dívida pública.

Investidores reagiram ao pacote de cortes fiscais e congelamento dos preços da energia com desconfiança, devido à falta de projeções económicas e planos detalhados para controlar a crescente dívida pública.

A volatilidade levou o Banco de Inglaterra a identificar “riscos reais para a estabilidade financeira britânica” e a intervir no mercado de dívida, comprando obrigações do Estado.

A situação aumentou o risco de uma escalada das taxas de juro que terá impacto nos créditos à habitação, agravando a crise do aumento de custo de vida dos britânicos, já preocupante devido à inflação de quase 10%.

De acordo com cálculos da Resolution Foundation, citados pelo The Guardian, as medidas vão beneficiar muito mais os ricos do que a classe média.

Quem tem rendimentos anuais de um milhão de libras vai ganhar mais 55 220 libras com as mudanças, enquanto que um cidadão que ganhe 20 mil libras por ano vai ter um alívio de apenas 157 libras. Quase 45% dos benefícios vão para o 5% do topo enquanto que apenas 12% beneficiarão a camada mais pobre da população.

Torsten Bell, director executivo da Resolution Foundation, descreve as políticas como “um simplesmente impressionante e enorme corte de impostos para famílias mais ricas”.

Figuras conhecidas, como os antigos ministros das Finanças Rishi Sunak e Sajid Javid, bem como o presidente da Comissão Parlamentar das Finanças, Mel Stride, disseram à estação Sky News que não pretendiam assistir ao congresso, refletindo o descontentamento dentro do partido.

O caos dos últimos dias complicou ainda mais a perceção dos conservadores junto da população britânica, com uma sondagem publicada no jornal ‘The Times’ a dar uma vantagem de 33 pontos percentuais ao Partido Trabalhista , algo inédito e evidência da impopularidade do partido no poder há 12 anos.

Outra sondagem do instituto YouGov mostra que 51% dos britânicos pensam que Liz Truss, no cargo há menos de um mês, devia demitir-se, incluindo 36% dos eleitores Conservadores.

O Congresso, que deverá encerrar na quarta-feira com o discurso de Truss, terá intervenções dos ministros das Finanças, Kwasi Kwarteng, da Saúde, Therese Coffey, e dos Negócios Estrangeiros, James Cleverly, entre outros.

Porém, a participação esperada de 11.000 militantes poderá ser posta em causa pelas greves dos comboios na terça e quarta-feira, convocadas pelos sindicatos de propósito para perturbar o congresso Conservador.

ZAP // Lusa

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