Toxoplasmose pode alterar as crenças políticas dos infetados

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(dr) Qoobo

A toxoplasmose, uma infeção causada pelo parasita Toxoplasma gondii, pode estimular alterações nas crenças e valores políticos dos infetados, muito provavelmente devido a uma reação inflamatória, revelou um novo estudo.

Esta é uma das doenças parasitárias mais comuns no mundo. A infeção é desencadeada por situações como o consumo de carne que não esteja devidamente cozinhada ou por contacto com fezes ou urina de gatos, podendo ser perigosa para grávidas ou indivíduos com o sistema imunitário comprometido.

Segundo um estudo publicado recentemente na Evolutionary Psychology, a infeção pode causar mudanças de personalidade e de comportamento, devido ao facto de ativar o sistema imunitário e de aumentar certas citocinas pró-inflamatórias, como a IL-6. Essa inflamação pode influenciar processos emocionais e comportamentais.

“O nosso laboratório tem vindo a estudar o efeito da toxoplasmose no comportamento e na personalidade humana (e dos ratos) desde 1992”, indicou Jaroslav Flegr, professor da Universidade Charles, na República Checa, e um dos autores do estudo.

“Nos últimos anos temos vindo a estudá-la no contexto da hipótese de ‘stress-coping’. Essa hipótese sugere que os humanos infetados sofrem de stress crónico ligeiro e que as mudanças observadas no seu comportamento e personalidade são uma resposta a esse stress”, sustentou, citado pelo PsyPost.

A equipa referiu que algumas dessas mudanças podem estar associadas às crenças políticas, visto que os infetados demonstram menos consciência, generosidade e procura por novidade. A infeção está também ligada a distúrbios de ansiedade.

Para a realização deste estudo os investigadores disponibilizaram um questionário, respondido somente por pessoas testadas à toxoplasmose. Incluiu 2315 checos – 1848 mulheres e 467 homens.

De acordo com os resultados, 90 homens e 518 mulheres declararam estar infetados. No caso das mulheres, essas relataram que a infeção influenciou a sua saúde mental, enquanto os homens indicaram que afetou a sua saúde física.

Ao analisar a associação entre a infeção e as crenças políticas, a equipa constatou que a toxoplasmose foi associada a situações de tribalismo – uma construção definida pela lealdade à própria tribo e uma mentalidade de “nós contra eles”, segundo o PsyPost. A doença foi ainda relacionada a uma menor aposta no liberalismo cultural e no anti-autoritarismo.

Tendo em consideração o género, os investigadores descobriram que a toxoplasmose não se associava ao tribalismo no caso dos homens. Também entre o género masculino a doença foi positivamente associada à equidade económica, à ideia de uma sociedade justa e igualitária, reportou o estudo.

“A conclusão mais ‘sexy’ do nosso estudo é que as nossas opiniões políticas também são moldadas por fatores biológicos, incluindo infeções parasitárias”, disse Flegr. “O toxoplasma é um parasita muito difundido e a sua prevalência pode influenciar não só o clima político em diferentes países e estratos sociais, mas também a política do mundo e, consequentemente, a História”, referiu.

“A mensagem menos ‘sexy’ é que o Toxoplasma gondii (…) é suscetível de ser uma fonte significativa de stress, que afeta não só o comportamento e a personalidade dos infetados, como a sua saúde física e mental e bem-estar. Consequentemente, devem ser feitos esforços maiores para encontrar uma vacina”, frisou.

Os investigadores afirmaram que os seus resultados estão largamente alinhados com as descobertas anteriores, mostrando que as pessoas de zonas particularmente afetadas por parasitas demonstram um maior conservadorismo e autoritarismo.

Isso pode ser explicado pela teoria do stress parasitário, que sugere que estas atitudes visam minimizar o contacto com pessoas, a fim de evitar a exposição a agentes patogénicos. No entanto, uma vez que os participantes provêm de uma pequena região com baixo stress parasitário, esse raciocínio pode não se manter.

Os autores sugerem que uma reação inflamatória à toxoplasmose pode causar um stress ligeiro mas crónico, que leva a mudanças de personalidade e a mudanças nas atitudes políticas.

“Atualmente, estamos apenas a especular sobre o mecanismo do impacto da toxoplasmose nas nossas crenças e valores políticos”, explicou Flegr. “Se a nossa hipótese de gestão do stress estiver correta, a toxoplasmose é um fator muito mais poderoso do que é atualmente suposto. Também não sabemos quão universais são os fenómenos observados e quão forte é a sua influência no comportamento real das pessoas e se o afeta, por exemplo, durante as eleições”, explicou o investigador.

Flegr indicou ainda no artigo um estudo divulgado em 2014, no qual foi revelado que as pessoas infetadas têm um risco acrescido de desenvolver outras doenças e distúrbios, incluindo doenças cardíacas isquémicas, cancro e epilepsia.

Uma das limitações desta investigação recente é o facto de a amostra contar com mais homens do que mulheres. A verdade é que as mulheres têm uma maior probabilidade de conhecer o seu estado quanto à toxoplasmose devido aos testes realizados durante a gravidez.

ZAP //

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