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De Tony Blair ao Rei da Jordânia. Pandora Papers destapam fortunas secretas dos líderes mundiais

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Os Pandora Papers revelaram, este domingo, os negócios secretos de 35 atuais ou antigos primeiros-ministros ou chefes de Estado.

Os negócios secretos de algumas das pessoas mais ricas, influentes e poderosas do mundo foram revelados este domingo, numa das maiores revelações da história no que diz respeito a offshores e a maior investigação de sempre do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), realizado por 600 jornalistas em 117 países e territórios.

Os documentos revelados fazem parte dos Pandora Papers, um conjunto de mais de 11,9 milhões de ficheiros secretos. São provenientes de 14 escritórios de advogados e empresas de serviços especializados em offshores.

O “homem do povo” e o seu castelo na Riviera Francesa

Informações obtidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) revelam que Andrej Babis, primeiro-ministro da República Checa, transferiu 19 milhões de euros através de empresas offshore para comprar uma propriedade luxuosa na Riviera Francesa em 2009, mantendo segredo sobre a propriedade.

O Expresso indica que, até há pouco tempo, o palácio aparecia em registos públicos como propriedade de uma empresa-fantasma, incorporada no Mónaco, uma subsidiária de uma das empresas checas do governante.

Não há qualquer menção na declaração de património que Andrej Babis teve de apresentar quando entrou na política. Especialistas entrevistados pelo ICIJ dizem que o esquema offshore usado pelo primeiro-ministro checo pode ter reduzido o montante dos impostos, ao esconder a propriedade do público.

Chambre des Députés / Flickr

Andrej Babis, primeiro-ministro da República Checa

A investigação dá conta de uma outra empresa de fachada que terá sido usada para comprar mais sete propriedades nas redondezas da primeira, sendo que, em 2018, tudo foi passado para a empresa no Mónaco controlada pelo primeiro-ministro.

O político checo é conhecido por se opor às elites e anunciou-se como um gestor empresarial capaz de emendar a economia, aumentar a transparência do Governo e as receitas fiscais. Os documentos confidenciais agora revelados mostram que Babis, o “homem do povo”, tem estado envolvido em esquemas financeiros que ele próprio acusa outros membros das elites de fazerem.

A compra do Chateau Bigaud (o nome do complexo de 9,4 hectares) contrasta com a imagem cultivada de Babis como o primeiro-ministro que liderou uma repressão à evasão fiscal e é a prova de que o sistema offshore pode ajudar até mesmo os funcionários públicos mais proeminentes a contornar o escrutínio público.

Abdullah II. O império de luxo num país mergulhado em crise

O Rei da Jordânia figura outro exemplo. Documentos obtidos pelo ICIJ mostram que o rei Abdullah II detém secretamente 14 casas de luxo no Reino Unido e nos Estados Unidos, adquiridas entre 2003 e 2017 através de empresas-fantasma registadas em paraísos fiscais, no valor de mais de 106 milhões de dólares (91 milhões de euros).

Muitas destas compras foram realizadas pouco depois da Primavera Árabe, altura em que milhares de jordanos saíram às ruas para protestar contra a corrupção e o desemprego. Os cidadãos do país enfrentam duras medidas de austeridade, impostas para combater a crise económica.

Segundo a investigação, os conselheiros do monarca empenharam-se a ocultar as suas participações imobiliárias: contabilistas e advogados na Suíça e nas Ilhas Virgens Britânicas criaram empresas-fantasma em nome de Abdullah e inventaram planos para proteger o seu nome de registos públicos e de registos confidenciais do Governo.

Abdullah II, Rei da Jordânia

O Expresso avança que, em dois documentos, administradores da sociedade de advogados Alcogal declararam que ninguém ligado às empresas do rei estava envolvido em política, sendo que o monarca tem o poder de nomear governos, dissolver o parlamento e aprovar legislação.

Em nome do rei, os advogados negaram qualquer ilegalidade em possuir imóveis através de empresas offshore e disseram que, ao abrigo da lei jordana, o rei não é obrigado a pagar impostos.

É de salientar que a Jordânia é um dos países mais pobres daquela região, quase sem petróleo próprio e muito pouca água. O reino depende da ajuda externa.

“Se o monarca jordano mostrasse a sua riqueza de forma mais pública, não só antagonizaria o seu povo, como enfureceria os doadores ocidentais que lhe deram dinheiro”, disse Anelle Sheline, especialista em autoridade religiosa e política no Médio Oriente, numa entrevista ao ICIJ.

No ano passado, os Estados Unidos deram à Jordânia mais de 1.500 milhões de dólares (1.300 milhões de euros), em ajuda e financiamento militar, e a União Europeia (UE) mais de 218 milhões de dólares (188 milhões de euros), para atenuar os efeitos da pandemia de covid-19.

Tony Blair e o imóvel de 7,6 milhões de euros

Tony Blair, antigo primeiro-ministro do Reino Unido, e Cherie Blair, sua mulher, também surgem mencionados nos Pandora Papers, pela compra de um edifício em Londres por um valor de 6,5 milhões de libras (7,6 milhões de euros).

De acordo com o Expresso, a mulher do antigo governante explicou que o vendedor a quem compraram o edifício só estava disponível para vender a companhia offshore detentora do imóvel, e não o próprio imóvel.

Como não houve uma escritura, os Blair não pagaram o equivalente no Reino Unido do IMT e do imposto do selo, o que significou uma poupança de 345 mil euros em impostos.

Monika Flueckiger / swiss-image.ch / World Economic Forum

Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico

O casal também admitiu que não sabia que o verdadeiro dono do edifício era um ministro do Bahrain: Zayed bin Rashid al-Zayani, ministro da Indústria e do Turismo. Cherie assegurou que o marido não esteve envolvido na transação e que, depois da compra, a companhia das Ilhas Virgens Britânicas que detinha a propriedade foi encerrada.

Kenyatta: campanha anti-corrupção e fortuna secreta

No outono passado, no seu discurso anual sobre o Estado da Nação, Uhuru Kenyatta reconheceu que muitos quenianos vivem na pobreza, num panorama nacional em que vários funcionários roubam os recursos públicos do Quénia.

O Presidente pediu aos deputados que se juntassem a ele no combate à corrupção, mas os documentos obtidos no âmbito dos Pandora Papers revelam agora que o governante tem acumulado, em segredo, uma fortuna pessoal.

De acordo com o ICIJ, Kenyatta esconde a sua riqueza do escrutínio público, através de fundações e empresas em paraísos fiscais, incluindo o Panamá, com ativos no valor de quase 30 milhões de euros.

imfphoto / Flickr

Uhuru Kenyatta, Presidente do Quénia

O chefe de Estado do Quénia e a sua família eram donos de sete entidades deste género, duas registadas anonimamente no Panamá e cinco nas Ilhas Virgens Britânicas. A riqueza offshore representa parte de uma fortuna familiar estimada em 500 milhões de dólares (431 milhões de euros). Neste país, o rendimento médio anual é inferior a 6.900 euros.

As empresas offshore contrastam com a imagem de Kenyatta enquanto defensor da transparência.

Putin escapa, mas o círculo interno não

O Presidente russo Vladimir Putin não é referido nesta investigação, mas várias figuras que lhe são próximas não faltaram à chamada.

É o caso de Svetlana Krivonogikh, uma russa de origem humilde, que comprou um luxuoso apartamento no Mónaco por 3,6 milhões de euros. A compra foi efetuada em 2003 e nada indica que, na altura, a jovem tivesse posses para adquirir o imóvel.

A investigação revelou que o apartamento foi adquirido pela Brockville Development Ltd, uma offshore com sede nas Ilhas Virgens Britânicas. No ano em que comprou o imóvel, Krivonogikh teve uma filha e o site de investigação Proekt diz o pai da criança poderá ser Putin.

A criança nasceu num momento em que, segundo a imprensa russa, mantinha um relacionamento secreto de muitos anos com o Presidente do país. Fica, no entanto, por explicar a origem do dinheiro.

Alexei Druzhinin / Sputnik / Kremlin / EPA

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin

Konstantin Ernst, empresário e produtor de televisão, também surge nos documentos. Aquele que é apontando como um dos principais responsáveis pela criação da imagem de Putin no exterior tornou-se o “parceiro silencioso” do Presidente após os Jogos Olímpicos de Inverno em Sochi, na Rússia, em 2014.

Os documentos mostram, por exemplo, que Ernst obteve uma participação num lucrativo negócio imobiliário. O projeto envolveu a conversão de complexos de cinemas da era soviética, que ainda são propriedade do Estado, em empreendimentos de apartamentos e lojas particulares. Os negócios ultrapassaram os 140 milhões de dólares.

Em comunicado, Ernst confirmou a sua participação no projeto imobiliário, mas negou que se tratasse de uma “compensação pelos Jogos Olímpicos de 2014″.

Liliana Malainho, ZAP //

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2 Comments

  1. Todos tidos como grandes lideres e empresários :/
    A reter para a historia, quem mais reclama , é quem mais rouba !

    E contra eles, nada podemos !…

    O Covid, deu também tanto jeito, somos mesmo, nada :/

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