Terras raras ucranianas ou petróleo do Alasca. O que Trump está disposto a ceder a Putin

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Heikki Saukkomaa / Lehtikuva Handout / EPA

O Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin

Trump estará disposto a levantar sanções, a dar acesso a Putin ao lítio ucraniano e até a deixar a Rússia explorar petróleo no Estreito de Bering, nas imediações do Alasca.

Donald Trump está a preparar um polémico pacote de incentivos económicos para oferecer a Vladimir Putin na reunião marcada para esta sexta-feira entre os dois líderes.

De acordo com o The Telegraph, numa tentativa de garantir um cessar-fogo na Ucrânia, Trump está disposto a dar acesso à Rússia a minerais de terras raras em territórios ucranianos ocupados. A suspensão de sanções americanas aplicadas à indústria aeronáutica e a abertura dos recursos naturais nas imediações do Alasca à exploração russa estarão também em cima da mesa.

Segundo fontes próximas da Casa Branca ouvidas pelo jornal britânico, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, tem trabalhado em estreita colaboração com Trump na identificação de potenciais compensações que possam persuadir Moscovo a travar a sua invasão em grande escala. O ponto central do pacote é o acesso às vastas reservas de lítio da Ucrânia, um componente essencial na produção de baterias.

Trump estaria também a considerar remover as restrições à exportação de peças de aeronaves para a indústria de aviação russa, que está a enfrentar várias dificuldades. As sanções ocidentais prejudicaram as companhias aéreas russas, obrigando-as a canibalizar as aeronaves em terra para obter peças de substituição. O fim da proibição poderia também beneficiar os fabricantes aeroespaciais americanos, como a Boeing, ao mesmo tempo que ofereceria a Moscovo uma tábua de salvação para a sua frota.

Outra possível concessão envolve a concessão à Rússia de direitos de exploração de recursos de petróleo e gás no Estreito de Bering, a apenas cinco quilómetros do Alasca. Pensa-se que a área contém reservas significativas inexploradas, incluindo 13% do petróleo mundial, e poderá reforçar a posição já dominante da Rússia na produção de energia no Ártico.

Fontes do governo do Reino Unido sugerem que os aliados europeus podem tolerar tais incentivos se enquadrados como parte de um processo de paz legítimo, em vez de uma recompensa por agressão. Uma autoridade enfatizou a importância de alinhar as propostas com a opinião pública.

Caso sseja produtiva, a reunião no Alasca será seguida por uma segunda ronda de negociações com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy. Zelenskyy mostrou-se satisfeito com o apoio de Trump às garantias de segurança, mas mantém-se cético em relação às intenções de Putin, classificando como “bluff” as alegações do líder russo de que as sanções são ineficazes.

Do lado da Casa Branca, tem havido uma tentativa de minimizar as expectativas em torno da reunião, classificando-a como apenas um “exercício de auscultação”. Trump disse aos jornalistas que provavelmente saberia “nos primeiros dois minutos” se Putin leva a sério o fim da guerra. Os assessores russos, por sua vez, caracterizaram o encontro como uma discussão sobre as “relações russo-americanas”, com ênfase no reforço do comércio.

Nos bastidores, alguns conselheiros sugeriram a utilização da ocupação israelita da Cisjordânia como modelo para um acordo, permitindo à Rússia manter o controlo militar e económico sobre os territórios ucranianos ocupados sob a sua própria estrutura administrativa. Este conceito terá surgido em conversações entre o enviado de Trump, Steve Witkoff, e responsáveis russos, embora não seja claro até que ponto foi desenvolvido.

O que quer Putin?

Para alguns analistas, a mera existência desta reunião já é uma vitória para Putin, dado ser um sinal do fim do isolamento internacional da Rússia, especialmente tendo em conta que ainda existe um mandado de prisão contra o Presidente russo.

Alexander Kots, um proeminente blogger militar pró-Kremlin, parece concordar com esta perspetiva: “Já ninguém fala sobre o isolamento internacional da Rússia, ou sobre a nossa derrota estratégica”, escreveu nas redes sociais, acrescentando que o encontro tinha “todas as hipóteses de se tornar histórico”.

O analista Matthew Chance, da CNN, aponta ainda a própria localização da reunião com um bom sinal para o Kremlin. “Uma cimeira no estado norte-americano do Alasca, entre todos os lugares, é um prato cheio para os nacionalistas russos ressurgentes que ainda se gabam de que o território é deles por direito”, refere.

O facto de que Trump está disposto a negociar territórios ucranianos para acabar com a guerra também é, em si, um mau sinal para a Ucrânia e uma vitória para a Rússia. “De uma forma mais ampla, Putin vê com Trump uma oportunidade única para redefinir fundamentalmente as relações com Washington e separar os laços da Rússia com os EUA do destino da Ucrânia, um cenário que também dividiria os aliados ocidentais”, considera Chance.

Os críticos alertam também que oferecer benefícios económicos inesperados a Moscovo corre o risco de legitimar a conquista territorial. A Casa Branca insiste que o seu objetivo continua a ser um “cessar-fogo total e abrangente”, mas admite que uma resolução duradoura exigirá compromissos difíceis. Como disse um funcionário da admnistração ao The Telegraph: “Todos concordam que esta guerra tem de chegar ao fim, e é para isso que o presidente está a trabalhar”.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Não será a primeira vez (longe disso) e provavelmente nem a última que o futuro próximo de um país (incluíndo as suas fronteiras) é decidido à sua revelia – infelizmente. A realpolitik não tem nada a ver com justiça.

  2. Os dois “compadres” , hoje como decidir o futuro de um País Soberano com a sua ausência na decisão , amanhã será a própria Europa a ser “comida ” aos bocados !….da Biélorussisa a Lisboa é só un passo !

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