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Dentro de um século, a Amazónia poderá tornar-se uma savana

Maurício de Paiva / FAPESP

A Amazónia pode estar a avançar mais rapidamente para um ponto de rutura calamitoso que transformará a exuberante floresta tropical numa savana mais seca.

A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo, cobrindo mais de 6 milhões de quilómetros quadrados e albergando 10% das espécies vegetais e animais do mundo. Além disso, constitui um elemento-chave dos ciclos globais da água e do carbono, que regulam o clima.

No último século, florestas tropicais como a Amazónia tornaram-se cada vez mais vulneráveis a fatores de stresse como secas e incêndios florestais, impulsionados pelas alterações climáticas e desflorestamento generalizado.

O Global Forest Review do World Resources Institute estima que a Amazónia brasileira perdeu 28.000 quilómetros quadrados de floresta — uma área aproximadamente de um terço de Portugal — só em 2024.

Alguns cientistas pensam que estas mudanças estão a empurrar a Amazónia para um “ponto de rutura” em que a exuberante floresta tropical poderia transformar-se em pastagem mais seca, como uma savana.

Um estudo publicado recentemente na Geophysical Research Letters apresentou um novo modelo sobre o futuro incerto da Amazónia.

Como detalha a Live Science, foi utilizado o que é conhecido como “modelo de coluna única”, que neste caso simulou apenas uma localização média dentro da bacia amazónica para representar toda a área para onde o rio Amazonas e os seus afluentes drenam.

Com base nos resultados do modelo, os investigadores identificaram três pontos de rutura no sistema amazónico:

  • uma diminuição de 65% na cobertura florestal;
  • uma diminuição de 10% na humidade vinda do oceano Atlântico;
  • ou uma diminuição de 6% na precipitação.

Para além destes limiares, refere a Live Science, pequenas mudanças no clima da região ou na cobertura florestal poderiam empurrar a floresta para além do limite, transformando o ecossistema em pastagem.

Com menos árvores, há menos evapotranspiração e precipitação, o que seca a floresta e acaba por transformá-la numa savana. “Esta mudança pode ser causada pelo desflorestamento, mas as alterações climáticas também a podem causar, mudando a quantidade total de água que entra na bacia a partir do oceano Atlântico”, disse o autor do estudo, Andrew Friend, à Live Science.

Os autores disseram que é necessária ação urgente. Indicam que, mesmo no limite inferior dos cenários previstos de alterações climáticas, o desflorestamento contínuo poderia dizimar a floresta amazónica nos próximos cem anos.

ZAP //

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