Tensão interna em Israel: ordem para “operação multilateral” em Gaza nunca mais chega

Abir Sultan / EPA

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel

Após duas semanas de espera, está a esgotar-se a paciência das forças de defesa israelitas, que já sugeriram deixar Gaza para apostar na invasão a norte. Israel diz ter matado três líderes do Hamas, num dia em que o grupo islamita libertou dois reféns israelitas.

A paciência das forças de defesa israelitas está a esgotar-se. Já são duas semanas de espera e movimentação das tropas em redor da Faixa de Gaza, em preparação para uma “operação multilateral por terra, mar e ar”, como  confirmou esta terça-feira o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant — mas a ordem nunca mais chega.

O ministro da Defesa israelita garantiu que as Forças Armadas estão a “preparar cuidadosamente o próximo passo, uma operação multilateral no ar, na terra e no mar” em Gaza para eliminar o grupo islamita Hamas, autor dos ataques terroristas contra o território israelita no passado dia 07, mas o exército já terá perdido o ‘timing’ certo, dizem fontes dos jornais israelitas, e a pressão exercida ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu vai aumentando.

“Continuem a preparar-se para a nossa operação, que chegará em breve. Estamos a preparar minuciosamente o próximo passo: uma operação multilateral por via aérea, terrestre e marítima. Façam o seu trabalho, preparem-se. Precisaremos de vocês”, disse Gallant, em mensagem aos soldados.

Com as forças de Defesa de Israel (IDF) a afirmar continuamente — após 16 dias de ataques aéreos — que tudo está pronto para avançar por terra sobre Gaza, Netanyahu exita em dar o aval, apesar de as IDF confiarem que podem atingir todos os objetivos de Israel — mesmo arriscando-se a perder um largo número de soldados, segundo o The Times of Israel.

Se necessário, as tropas israelitas estão dispostas a mover as suas forças para o Líbano, deixando Gaza numa questão de dias.

Israel diz ter matado três líderes do Hamas

As IDF anunciaram esta segunda-feira terem lançado cerca de 400 bombardeamentos contra “alvos militares” nas últimas 24 horas em Gaza, tendo matado três líderes do Hamas.

Na rede social X (antigo Twitter), o exército israelita garantiu que os ataques causaram a morte dos vice-comandantes dos batalhões Nuseirat, Shati e Alfurqan, todos eles membros do movimento islamita Hamas.

“Durante o último dia, caças atacaram dezenas de infraestruturas e vários pontos de encontro da organização terrorista Hamas nos bairros de Sajaiya, Shati, Jabalia, Darj Tafa e Zaitun”, referiram as IDF.

“Um avião das IDF atacou um túnel operacional usado pela organização terrorista Hamas (…) e pontos de encontro (…) dentro das mesquitas”, acrescentou o exército.

140 palestinianos e seis funcionários da ONU morreram esta madrugada

Também hoje, o Ministério da Saúde do Hamas, que controla a Faixa de Gaza, elevou de 57 para 140 o número de palestinianos mortos durante os bombardeamentos israelitas esta madrugada.

O novo balanço aponta para pelo menos 53 mortes junto ao hospital Al Aqsa, em Jabalia, no norte de Gaza, e no campo de refugiados de Al Bureij, no centro do enclave. O movimento islamita também mencionou a existência de “centenas de feridos” e “dezenas de casas destruídas”.

Os ataques a residências e a um posto de gasolina em Khan Yunis deixaram até agora 23 mortos e 80 feridos, indicou a agência de notícias palestiniana Wafa.

Em Rafah, 30 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas depois de o exército israelita ter bombardeado edifícios residenciais, de acordo com fontes palestinianas, estando ainda a decorrer operações de resgate.

Mais de 5.100 palestinianos, incluindo pelo menos 1.055 crianças, morreram na Faixa de Gaza, desde o início dos bombardeamentos israelitas em retaliação pelo massacre de 07 de outubro, referiu o Hamas.

O escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários anunciou esta madrugada a morte de seis funcionários da Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), o principal organismo de ajuda humanitária que ainda pode trabalhar em Gaza.

Isto eleva para 35 o número de funcionários da UNRWA mortos desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, em 07 de Outubro.

Cessar-fogo? Só depois da libertação dos reféns

As discussões sobre um cessar-fogo no conflito entre Israel e o Hamas só serão possíveis após a libertação de todos os reféns detidos pelo movimento islamita palestiniano, disse hoje o Presidente norte-americano, Joe Biden.

“Os reféns devem ser libertados, então poderemos discutir”, declarou o chefe de Estado quando questionado sobre o seu apoio a um cessar-fogo.

Dois reféns do Hamas foram libertados na noite desta segunda-feira em Gaza, juntando-se a duas mulheres norte-americanas que saíram de cativeiro na sexta-feira, informou o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

“Esperamos que em breve regressem aos seus entes queridos”, disse a organização com sede em Genebra, sem dar indicações da identidade dos reféns.

Na sexta-feira passada, a presidente do CICV, Mirjana Spoljaric Egger, lembrou que os reféns devem ser autorizados, durante o seu cativeiro, a receber assistência humanitária e cuidados médicos.

“Devem ter a oportunidade de contactar as suas famílias. As famílias separadas dos seus entes queridos sofrem, independentemente do lado em que estejam”, declarou em comunicado.

Sistema de saúde de Gaza na “pior fase da sua história”

O Ministério da Saúde do Hamas alertou que o sistema de saúde do enclave “atingiu a pior fase da sua história” devido ao bloqueio imposto por Israel.

O Ministério avisou que os hospitais estão a ficar sem recursos, incluindo reservas de combustível, pelo que vão ficar sem energia e com as instalações sobrelotadas devido ao elevado número de mortos e feridos, de acordo com um comunicado.

Macron em Telavive: “Estamos ligados pelo luto”

O Presidente francês, Emmanuel Macron, chegou hoje a Telavive para expressar a solidariedade da França para com Israel.

“Estamos ligados a Israel pelo luto. Trinta dos nossos compatriotas foram assassinados em 07 de outubro. Nove outros estão ainda desaparecidos ou são mantidos como reféns”, disse Macron nas redes sociais.

Macron vai também apelar para a “preservação das populações civis” na Faixa de Gaza, que tem estado sob constante bombardeamento das forças israelitas desde o ataque do Hamas, de acordo com a presidência francesa. Macron vai pedir também uma “trégua humanitária” para permitir o acesso da ajuda a Gaza, que se encontra sob um bloqueio total.

A presidência francesa disse que Macron também vai apelar para a libertação dos reféns que o Hamas levou para a Faixa de Gaza e que o presidente pretende igualmente defender a necessidade de se evitar uma “perigosa escalada na região”, nomeadamente entre o poderoso movimento xiita libanês Hezbollah, apoiado pelo Irão, e Israel.

O chefe de Estado francês vai também propor o relançamento de um “verdadeiro processo de paz” para a criação de um Estado palestiniano, acrescentou o seu gabinete.

Abbas recebeu na segunda-feira o primeiro-ministro neerlandês, Mark Rutte, que lhe prometeu o empenho dos Países Baixos na criação de condições para ajudar os civis na Faixa de Gaza.

“Os Países Baixos continuarão a apelar à criação de pausas e corredores humanitários”, afirmou Rutte após o encontro em Ramallah, de acordo com a agência espanhola Europa Press.

Trata-se de “permitir que os fornecimentos essenciais, como alimentos, água e combustível, cheguem aos civis, para que estes tenham acesso à assistência de que tanto necessitam”, disse.

Rutte acrescentou que, “embora possa parecer distante, a paz e a segurança para israelitas e palestinianos só são possíveis se as perspetivas de um Estado palestiniano, juntamente com um Israel seguro, forem renovadas”.

ZAP // Lusa

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