Frigoríficos de Gaza lotados de corpos. Não há mortalhas suficientes para os embrulhar

Mohammed Saber / EPA

Um idoso palestiniano reage à área destruída após ataques aéreos israelitas em Gaza

Situação é catastrófica. É preciso combustível para abastecer hospitais, cuja sobrelotação já se repete nas escolas, onde homens dormem ao ar livre, no chão do recreio. Já são mais de 5 mil mortes, diz Hamas.

A ONU voltou a alertar esta segunda-feira que o principal centro hospitalar de Gaza, o Hospital Shifa, está “à beira do colapso”, assim como outras estruturas de saúde, devido à falta de eletricidade, medicamentos, equipamentos e pessoal.

De acordo com o relatório diário do escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, o Hospital Shifa trata atualmente cerca de 5000 pacientes, quando a sua capacidade é de 700, aos quais se somam 45 mil pessoas deslocadas internamente abrigadas nas instalações.

“Um grande número de pacientes é tratado no terreno, pois não há camas suficientes”, é referido no relatório, no qual é lembrado que os 17 hospitais existentes no norte da Faixa de Gaza, zona que Israel ordenou evacuar, continuam a funcionar devido ao risco que muitos pacientes correriam se fossem transferidos.

O The Guardian conta que há médicos a operar com agulhas de costura, sem anestesia e com vinagre a fazer de desinfetante.

Há corpos que ainda estão em frigoríficos lotados

Segundo informações do repórter Adnan El-Bursh, da BBC, há corpos embrulhados em tecidos brancos no pátio externo do Hospital dos Mártires de Al Aqsa, em Deir Al Balah, onde os funcionários correm para ajudar as centenas de pacientes.

“Estamos aqui desde madrugada e os corpos encheram completamente o pátio do hospital. há ainda corpos que estão nos frigoríficos — que estão lotados—, dentro e fora do edifício do hospital”, diz um funcionário.

“Não temos tecido suficiente para os corpos porque os números são enormes. Todos os corpos estão a chegar por partes, soltos e em pedaços. Não podemos identificá-los porque os corpos estão desfigurados e esmagados.”

Imagens no local mostram um grande fluxo de veículos a chegar ao hospital com pessoas feridas. Algumas são capazes de caminhar até ao hospital, enquanto outras são carregadas.

“Francamente, a situação é catastrófica, é insuportável”, diz o funcionário do hospital à BBC.

Região está fora da zona de evacuação

Deir Al Balah está localizada na região central da Faixa de Gaza, cerca de 19 quilómetros ao sul da cidade de Gaza. Atingida por ataques israelitas na semana passada, a cidade está fora da zona de evacuação do norte de Gaza, de onde Israel pediu aos civis para saírem e fugirem para o sul.

Imagens capturadas por um fotógrafo da agência de notícias AFP no hospital Al Aqsa mostram ainda corpos de pelo menos 11 crianças – incluindo dois bebés.

Uma das imagens mostra crianças mortas, deitadas uma ao lado da outra sobre um lençol, algumas com ferimentos visíveis na cabeça; noutra vê-se uma criança nos braços de um homem, ambos mortos. Não está claro, no entanto, quando ou onde as pessoas evidenciadas nas imagens morreram.

É preciso combustível. Sobrelotação arrasta-se para as escolas

As Nações Unidas recordam ainda que 16 profissionais de saúde morreram nas hostilidades, além de 29 funcionários da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), o principal organismo de ajuda humanitária que ainda pode trabalhar em Gaza.

A agência alertou no domingo que só lhe resta combustível para os próximos três dias, necessário para abastecer, por exemplo, hospitais ou centrais de dessalinização de água.

A sobrelotação nos hospitais repete-se nas escolas da UNRWA e noutras instalações atualmente utilizadas para abrigar pessoas deslocadas internamente em Gaza (1,4 milhões no total).

Cerca de 700.000 pessoas vivem com familiares, 71.000 em escolas, 101.000 em hospitais, igrejas e outros edifícios públicos, e 580.000 em escolas e outros abrigos da UNRWA, muitos deles concebidos para acomodar entre 1.500 e 2.000 pessoas cada, mas atualmente fornecem abrigo ao dobro ou triplo.

“Para garantir um ambiente seguro, à noite as mulheres e as crianças permanecem nas salas de aula, enquanto os homens e os rapazes adolescentes dormem ao ar livre, no recreio da escola”, informam as Nações Unidas no seu relatório diário.

A agência de coordenação indica que nas últimas 24 horas, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, morreram cerca de 266 palestinianos, elevando o número total de vítimas mortais na Faixa para 4.651 (1.873 crianças e 1.023 mulheres), enquanto os feridos ascendem a 14.245.

A isto somam-se as 91 mortes e 1.734 feridos devido a confrontos entre palestinianos e forças israelitas ou colonos na Cisjordânia, enquanto o número de mortos em Israel situa-se nos 1.400, quase todos vítimas dos ataques do Hamas em 07 de outubro.

Mais de 5 mil mortos, diz Hamas

O ministério da Saúde do Hamas afirmou esta segunda-feira que pelo menos 5.087 pessoas, incluindo 2.055 crianças, morreram desde o início dos bombardeamentos israelitas em retaliação pelo massacre de 07 de outubro.

Pelo menos 15.273 pessoas ficaram feridas desde 07 de outubro, acrescentou o Governo do Hamas, ao fim de 17 dias da guerra desencadeada pelo ataque deste grupo islamita palestiniano.

O balanço de vítimas foi feito após o Governo do Hamas ter reportado mais de 60 mortos após um ataque do Exército israelita durante a passada noite na Faixa de Gaza.

Um dos ataques matou 17 pessoas numa casa em Jabaliya, no norte do território, referiu a mesma fonte.

Israel mantém a Faixa de Gaza sob bombardeamentos constantes desde 07 de outubro, quando comandos do Hamas fizeram uma incursão sem precedentes no país e mataram cerca de 1.400 pessoas, segundo as autoridades de Telavive.

A escalada de tensão na fronteira foi desencadeada pela guerra entre Israel e o Hamas, que se seguiu ao ataque do grupo islamita em território israelita em 07 de outubro.

ZAP // Lusa / BBC

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