/

O tempo não pode (mesmo) voltar para trás

(dr) Tjarda Boekholt

É impossível inverter o movimento de três ou mais corpos celestes quando interagem entre si, concluiu um recente estudo.

Se três ou mais objetos se movimentarem, quer sejam átomos ou planetas, a história não poderá ser revertida. Esta é a conclusão de um recente estudo que tem por base simulações de computador de três buracos negros numa complexa órbita trinária. Esta investigação contraria a teoria de que é possível viajar no tempo.

A maioria das leis fundamentais da física não tem problemas com a direção em que ocorrem, isto é, são simétricas no tempo. “No entanto, todos sabemos que o tempo não pode voltar para trás. Um copo que cai e se parte não pode voltar inteiro para a nossa mão”, começam por explicar os cientistas em comunicado, citado pelo Science Alert.

Até agora, os cientistas explicaram a falta de simetria do tempo em escala macro pela interação estatística entre um grande número de partículas. Agora, três astrónomos mostraram que são apenas precisas três partículas para quebrar a simetria do tempo e estabelecer uma única via para a seta do tempo.

Tjarda Boekholt, da Universidade de Coimbra, Simon Portegies Zwart da Universidade de Leiden, nos Países Baixos, e Mauri Valtonen, da Universidade de Turku, na Finlândia, calcularam as órbitas de três buracos negros que interagem entre si.

Os investigadores fizeram dois tipos de simulação. Na primeira, os buracos negros estão inicialmente em repouso. Devido à gravidade, atraem-se mutuamente e cruzam-se, percorrendo órbitas caóticas, até que um dos buracos negros escapa à atração dos outros dois.

Na segunda simulação, o sistema inicia com a situação final da simulação anterior, e tenta reverter o tempo de volta à situação inicial.

As simulações realizadas pela equipa mostraram que o tempo não pode ser revertido em 5% dos cálculos, mesmo que o computador use mais de cem casas decimais. Segundo os investigadores, a simetria do tempo é interrompida pelo crescimento exponencial de perturbações do tamanho do comprimento de Planck, que é cerca de 10-35 metros.

O comprimento de Planck é um princípio físico que se aplica a fenómenos ao nível do átomo. “O movimento dos três buracos negros pode ser tão caótico que algo tão pequeno quanto o comprimento de Planck entra em ação. A simetria do tempo é quebrada por distúrbios do tamanho do comprimento de Planck”, explica Boekholt.

Desta forma, não poder voltar para trás no tempo deixa de ser um argumento estatístico. “Este fenómeno está oculto nas leis básicas da Natureza. Nenhum sistema de três objetos em movimento, grandes ou pequenos, planetas ou buracos negros, pode escapar à direção do tempo”, concluíram os cientistas.

Os resultados desta investigação serão publicados na edição de abril da The Monthly Notices da Royal Astronomical Society.

Liliana Malainho, ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.