Tavares convida PAN para “eco-geringonça”, mas Sousa Real só faz prognósticos no fim do jogo

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Rui Tavares, fundador do Livre

Rui Tavares, fundador do Livre

O debate foi morno, aquecendo apenas mais com o tema das medicinas alternativas. O PAN não fecha a porta ao PSD, mas o Livre voltou a deixar bem claro que só apoiará um governo de esquerda.

No debate de domingo à noite na SIC Notícias entre Rui Tavares e Inês Sousa Real, foi mais o que uniu do que os separou.

O candidato do Livre abriu logo deixando elogios à postura responsável do PAN ao se abster na votação do Orçamento de Estado, deixando ao mesmo tempo alfinetadas aos bloquistas e dos comunistas, que “não se decidiram ainda se estão mais numa esquerda da intransigência ou da convergência” e que alimentam a “chantagem” do voto útil para “uma maioria absoluta”.

Tavares voltou também a falar na criação de uma “eco-geringonça” à esquerda, estendendo a mão ao PAN. “Na geringonça original, em 2015 e em 2019, foi importante virar a página da austeridade e reverter as medidas da troika”, lembrou, sublinhando que agora é importante “virar a página, também de muitas décadas, de descaminho em termos ambientais do país e do mundo”.

Já a porta-voz do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), Inês de Sousa Real, defendeu que “qualquer força política que esteja em condições de viabilizar ou formar governo terá que ter em consideração a agenda política das diferentes forças” que integrarão uma possível coligação.

“O que terá de ser avaliado, não vamos fazer futurologia, é, se de facto, após o dia 30 janeiro, quais é que serão essas condições”, realçou, notando, desde logo, “uma diferença” de opinião em relação ao Livre.

A líder do PAN limita-se a prometer que o partido vai continuar a ser “responsável e de diálogo” e não fecha a porta ao PSD, já se que o seu compromisso “é com as causas” que “não podem ficar acantonadas”.

“O PAN entende que as questões ambientais não podem estar espartilhadas na dicotomia esquerda e direita”, afirmou Sousa Real, ao mesmo tempo que expôs as linhas vermelhas para o diálogo com Rui Rio, como a liberalização da plantação de eucaliptos ou a criação de um Ministério da Economia e das Alterações Climáticas.

Por sua vez, Tavares voltou a frisar que o Livre está apenas aberto para soluções governamentais à esquerda e que fará sempre oposição à direita.

A medicina baseada na ciência vs “o porco na sala”

Um dos pontos que aqueceu este debate tépido foi a questão das medicinas alternativas. Rui Tavares saiu ao ataque, dizendo que o Livre se distingue PAN por “defender uma medicina baseada na ciência”. “Não se pode falar em ciência só quando ela é oportuna para o discurso”, atirou.

Inês Sousa Real respondeu: “Não somos negacionistas. “Em qualquer profissão há bons e maus profissionais. [As medicinas alternativas] devem ser reguladas. Nas terapias preventivas devem caber as alternativas. Não estamos a falar de sermos negacionistas da ciência”.

O negacionismo foi também o mote para Sousa Real puxar do tema seguinte – o impacto ambiental pecuária. “Há um elefante na sala, ou melhor, um porco”, ironizou, acusando até a esquerda de votar de forma “negacionista” ao se oporem à taxa de carbono proposta pelo PAN.

“Desde a primeira estratégia de descarbonização há um consenso que tem de haver uma mudança na produção e consumo de carne. Temos de fazer a descarbonização com as pessoas e não contra as pessoas”, ripostou Tavares. A adversária respondeu dizendo que o PAN “nunca disse” que vai impor políticas “contra as pessoas”.

O Rendimento Básico Incondicional, uma das bandeiras do Livre, foi o tema que fechou o debate. Rui Tavares voltou a afirmar que “um projecto piloto não tem grandes custos” e Sousa Real até concordou que se pode testar, mas recusa que o apoio tenha de ser universal, já que “não tem critérios do ponto de vista demográfico ou do rendimento de cada pessoa”.

A líder do PAN acredita ainda que a medida não deve avançar por enquanto, já que há problemas económicos mais urgentes por resolver, como a revisão dos escalões do IRS, a descida do IRC ou o combate à precariedade.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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