Com Taiwan como pano de fundo, Biden e Xi Jinping selam a “amizade” com um aperto de mão

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Li Xueren / EPA

Os dois chefes de Estado encontraram-se à margem do G20 para acalmarem o clima de tensão que tem subido nos últimos meses, na primeira reunião presencial entre os dois desde que Biden assumiu a presidência. A situação em Taiwan, a guerra na Ucrânia e a Coreia do Norte foram temas em discussão.

As relações entre os Estados Unidos e a China já viram melhores dias. No meio do recente aumento de incursões de aviões chineses no espaço aéreo de Taiwan, os discursos de Xi Jinping que deixam clara a intenção de reunificação com a ilha, as garantias de Biden de que os EUA defenderão Taiwan em caso de ataque ou a visita de Nancy Pelosi ao território que alimentou ameaças de um conflito militar, os líderes dos dois países procuraram acalmar a tensão à margem da cimeira do G20.

O encontro durou três horas e arrancou com um sinal de boa fé de ambas as partes: um aperto de mão que selou o esforço de ambos para “evitar que a competição se transforme em conflito”, nas palavras do Presidente dos EUA.

Que bom vê-lo, senhor Xi. Estamos empenhados em manter abertas as linhas de comunicação entre nós”, disse Joe Biden, acrescentando que o mundo “espera” por um entendimento entre a China e os EUA em questões como as alterações climáticas.

O líder chinês também confessou estar “ansioso por trabalhar” com o homólogo norte-amerciano. “Temos de ter um diálogo franco sobre assuntos de importância estratégica para a relação entre a China e os Estados Unidos, no âmbito global e regional”, afirmou Xi Jinping, citado pela BBC.

“O mundo espera que a China e os EUA conduzam bem esta amizade. O nosso encontro atraiu a atenção mundial. Temos de trabalhar com todos os países para trazer a paz ao mundo”, acrescentou Xi Jinping.

Este foi o primeiro encontro presencial entre os dois líderes desde que Biden assumiu a Casa Branca. No entanto, os dois já se conheciam dos tempos que o o actual chefe de Estado era o vice-presidente de Barack Obama. Os dois também já falaram várias vezes ao telefone ou por videoconferência.

 

“Senhor presidente, é muito bom vê-lo. A última vez que nos vimos foi em Davos, há mais de cinco anos. Desde que assumiu a presidência, mantivemos contacto online, mas nada substituiu uma conversa presencial. E hoje temos esse encontro. Ambos ganhamos experiência mas também apreendemos lições“, disse o líder chinês.

Xi Jinping frisou ainda a degradação das relações entre os dois países vivida nos últimos anos. “O relacionamento EUA-China está numa situação que ambos levamos a sério… Como líderes de dois grandes países, temos de estabelecer o rumo certo“, acrescentou antes da reunião.

Casa Branca revela o conteúdo da reunião

Três horas depois, o encontro chegou ao fim e a Casa Branca já adiantou alguns detalhes sobre os temas que foram debatidos. De acordo com a presidência americana, Biden disse a Xi que os EUA vão continuar a “competir vigorosamente” com a China, mas lembrou que esta competição nunca deve “tornar-se um conflito”.

O chefe de Estado norte-americano também terá manifestado a sua oposição às “acções crescentemente coercivas e agressivas da China contra Taiwan“. Para além de Taiwan, Biden também trouxe à discussão o conflito na Rússia, sobre o qual a China tem mantido uma postura ambígua.

O comportamento “provocador” da Coreia do Norte também foi um tema trazido à discussão por Biden e ficou acordada uma visita do Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, ao solo chinês.

Houve ainda um ponto em que os dois líderes concordaram: “O Presidente Biden e o Presidente Xi reiteraram o seu acordo de que uma guerra nuclear nunca deve ser lutada e que nunca pode ter vencedores”, lê-se no comunicado da Casa Branca, que se refere à ameaça russa de uso de armas nucleares na Ucrânia.

Os meios de comunicação estatais chineses também indicam que Xi Jinping terá avisado Biden sobre o risco de pisar uma “linha vermelha” ao envolver-se na situação em Taiwan e deixou claro o seu desconforto com as repetidas promessas de Biden de que o exército dos EUA apoiaria o território num eventual conflito com a China. Xi Jinping expressou ainda “grande preocupação” com a guerra na Ucrânia.

Biden rejeita nova Guerra Fria com a China

Na conferência de imprensa após a reunião, Biden revelou que os dois líderes tiveram uma conversa “aberta e honesta” e que o seu homólogo chinês foi “directo e frontal, como sempre”.

Sobre a relação entre a China e a Coreia do Norte, Biden foi parco nas palavras. “É difícil dizer que estou certo que a China pode controlar a Coreia do Norte. Mas a China tem a obrigação de tentar“, disse.

A possibilidade de uma nova Guerra Fria entre as duas potências está fora da mesa. “Acredito piamente que não haverá uma nova Guerra Fria. Não acho que haja uma tentativa iminente por parte da China de invadir Taiwan”, assegura.

Biden reforçou ainda que a postura dos EUA sobre Taiwan não mudou e que o país continua a defender a política da “China única”, defendendo uma “resolução pacífica” do clima de tensão. “Estou convencido de que Xi Jinping entendeu exactamente o que estou a dizer”, afirma.

Adriana Peixoto, ZAP //

1 Comment

  1. Em 1938 Neville Chamberlain e Adolf Hitler também apertaram as mãos e sorriram. Lembram-se do que aconteceu a seguir? Os checos não se esqueceram, de certeza…

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