A Administração Regional de Saúde de Norte (ARS-N) deu por extinto o surto de legionella que atingiu a região do Grande Porto no último trimestre de 2020, atualizando em 88 casos e 15 mortos o balanço final da ocorrência.
A informação foi hoje prestada por responsáveis da ARS-N, durante uma audiência na Comissão de Saúde da Assembleia da República, requerida pelo PCP, onde foi divulgado que, até ao momento, não foi estabelecido o foco concreto da origem do surto.
“Estabelecemos uma relação entre o encerramento das torres de refrigeração de algumas indústrias da região e o fim do surto. Mas, infelizmente não podemos ainda fazer um nexo de causalidade entre nenhuma das torres em concreto como fonte de infeção”, disse Rui Capucho, médico do Departamento Saúde Pública da ARS-N.
O responsável partilhou que nas várias análises feitas em torres de refrigeração, nos concelhos de Matosinhos e Vila do Conde, que, tal como a Póvoa de Varzim, foram os mais afetados pelo surto, “foi detetado, através de testes PCR, a existência da bactéria”, nomeadamente na empresa de laticínios Longa Vida, em Matosinhos.
“Na colheita de amostras [da água dos sistemas de refrigeração] na torre da Longa Vida, foi detetada uma concentração elevada da bactéria, mas que ainda não foi encontrada no serótipo que infetou os doentes”, explicou Rui Capucho.
O clínico garantiu que todas as informações sobre este surto já se encontram num relatório provisório do incidente, garantindo que ARS-N continua em articulação com outras entidades, nomeadamente o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, para apurar mais dados.
Sobre os motivos para tão significativa taxa de mortalidade neste surto de legionella, Rui Capucho considerou estar relacionada com a elevada faixa etária dos infetados.
“A média de idades dos 88 casos foi de 74 anos, sendo que os 15 óbitos ocorreram numa faixa etária entre os 74 e os 92 anos. Registamos, ainda, que em 11 casos houve também uma coinfecção de covid-19”, disse o responsável.
Já Carlos Nunes, presidente do Conselho Diretivo da Administração Regional de Saúde ARS-N, que também participou nesta audição, foi questionado pelos deputados sobre os recursos humanos alocados à investigação e combate deste surto, apontando que “deram uma resposta eficaz”.
“A ARS-N não tem tantos técnicos de saúde ambiental como seria necessário, e é algo que já acontece há alguns anos, mas estamos a tentar colmatar com contratações. Lembro que este surto de legionella ocorreu nos mesmo período em que a pandemia de covid-19 teve um forte impacto na região Norte, e só com grande esforço dos técnicos foi possível fazer um trabalho, que nos pareceu eficaz”, disse o responsável máximo da entidade.
O primeiro caso deste surto de legionella, que afetou os concelhos de Matosinhos Vila do Conde e Póvoa de Varzim, foi detetado no final de outubro do ano passado.
A sucessão de casos, nos dias seguintes, levou as autoridades de saúde a fazerem análises nas redes de distribuição públicas de água e também em empresas com torres de refrigeração dos concelhos.
Já em novembro a fábrica de laticínios Longa Vida, em Matosinhos, desligou preventivamente os equipamentos, depois de ter sido detetada a bateria no local. A empresa garantiu não ter recebido “informação sobre a correlação entre a presença desta bactéria” nas torres de refrigeração e a origem do surto.
Já antes, o Ministério Público (MP) determinou a abertura de um inquérito para investigar as causas do surto.
A doença do legionário, provocada pela bactéria Legionella Pneumophila, contrai-se por inalação de gotículas de vapor de água contaminada (aerossóis) de dimensões tão pequenas que transportam a bactéria para os pulmões, depositando-a nos alvéolos pulmonares.
// Lusa