Rússia anuncia manobras nucleares. Soldado ucraniano morre em confrontos com separatistas russos

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Sergey Kozlov / EPA

As violações ao cessar-fogo na região de Donbass estão também a aumentar. O conflito está a ter repercussões noutros contextos, com a candidata ucraniana à Eurovisão a ser afastada por ter visitado a Crimeia tendo alegadamente entrado através da fronteira russa.

Vladimir Putin anunciou a realização de manobras de forças nucleares da Rússia, com o disparo de mísseis balísticos e de cruzeiro, durante este fim de semana, com o apoio da Bielorrússia.

Recorde-se que Alexander Lukashenko, presidente da Bielorrússia, afirmou na quinta-feira que o país está pronto para receber armas nucleares russas para se defender.

As manobras vão envolver efectivos na região militar do sul da Rússia e também forças aeroespaciais, unidades estratégicas e frotas presentes no Mar do Norte e no Mar Negro para testarem a “fiabilidade das armas estratégicas nucleares e não nucleares” de Moscovo.

Este anúncio parece assim vir confirmar as acusações da NATO, que afirmou que o comunicado do Kremlin sobre a retirada de tropas da fronteira com a Ucrânia não era verdadeiro.

Tensão aumenta nas regiões separatistas

Um soldado ucraniano foi hoje morto em confrontos com os separatistas apoiados por Moscovo no leste do país, anunciou o exército da Ucrânia, elevando os temores de uma invasão russa.

“Na sequência de um bombardeamento, um soldado ucraniano foi mortalmente ferido”, afirmou o comando militar para o leste da Ucrânia.

As forças armadas ucranianas afirmam, no entanto, em comunicado, que “controlam a situação” e “continuam a sua missão de repelir a agressão armada russa”.

A Presidência ucraniana anunciou, entretanto, que o Presidente, Volodymyr Zelensky, vai manter a sua deslocação de hoje a Munique, apesar do risco de um ataque russo.

A situação no leste do país “está plenamente sob controlo“, disse a Presidência, sem fazer referência a declarações do Presidente norte-americano, Joe Biden, que na sexta-feira questionou a oportunidade de o chefe de Estado ucraniano sair do país nas circunstâncias atuais.

Os separatistas da região de Donetsk, que acusam Kiev de querer retomar o controlo da região, qualificam de “crítica” a situação e anunciaram uma mobilização geral.

Os observadores internacionais da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) informaram também na sexta-feira que as violações do cessar-fogo na região oriental ucraniana de Donbas registaram um “aumento significativo”.

A OSCE registou 222 violações de cessar-fogo na área de Donetsk, das quais 135 foram explosões. Já em Luhansk foram verificadas 648 violações, das quais 519 foram explosões, disse a OSCE num relatório.

Estes números refletem um aumento significativo da violência armada na Ucrânia oriental, concluiu a organização, reiterando “a necessidade” de se abster do uso da força e de desescalar uma situação “já tensa”.

“A retórica cada vez mais hostil e inflamatória que temos ouvido recentemente mina os esforços de promoção da paz, estabilidade e segurança e aumenta o risco de novos confrontos e escalada. Tem de parar”, sustentou na mesma nota.

Entretanto, milhares de pessoas foram deslocadas das regiões de Lugansk e Donetsk para a região russa de Rostov, no leste do país.

Esta escala de tensão nas regiões separatistas surge na mesma altura em que Joe Biden voltou a dizer que está “convencido” de que o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, decidiu avançar com um ataque à Ucrânia “nos próximos dias”, incluindo à capital Kiev.

“Estou convencido de que [Putin] tomou a decisão. Temos motivos para acreditar que sim”, referiu o chefe de Estado norte-americano durante uma declaração na Casa Branca, acrescentando que o ataque russo à vizinha Ucrânia poderá ocorrer “nos próximos dias”.

Joe Biden salientou, no entanto, que enquanto não ocorrer uma invasão “a diplomacia é sempre uma possibilidade” e revelou que o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, vai encontrar-se quinta-feira, na Europa, com o homólogo russo, Sergey Lavrov.

Sanções da UE incluem controlos às exportações

O pacote de sanções que a União Europeia está a preparar contra a Rússia caso Moscovo invada a Ucrânia prevê um mecanismo de controlo às exportações. Esta sanção é frequentemente utilizada pelos Estados Unidos, mas a UE nunca a usou devido à dificuldade de consenso entre os estados-membros sobre os produtos ou sectores que devem ser incluídos, escreve o Público.

Uma fonte europeia garante ao jornal que os 27 já concordaram com a proposta e que estão dispostos a “ir tão longe quanto possível” para travar a Rússia. Estão ainda em cima da mesa sanções contra a Bielorrússia, caso Minsk apoie uma eventual invasão. O pacote foi feito em acordo com os EUA, Canadá, Reino Unido, Japão, Coreia do Sul e Suíça e já define que indivíduos e entidades estão em causa.

Ainda não são conhecidos muitos detalhes porque o pacote final ainda não foi aprovado, mas sabe-se que as sanções vão abranger os sectores económico, financeiro e energético. Os 27 também não adiantam mais informações porque isso eliminaria o factor surpresa e daria tempo a Moscovo para mitigar os efeitos.

A UE está ainda a tentar antecipar possíveis retaliações da Rússia e a preparar medidas compensatórias para os estados-membros que dependem mais do comércio com o país.

Moscovo estará a estudar as maiores fragilidades do bloco europeu, nomeadamente a cibersegurança, as campanhas de desinformação e aquela que é a mais óbvia — a dependência no fornecimento de gás natural.

Recorde-se que a construção do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Alemanha à Rússia, tem sido um dos pontos de contenção neste conflito e a recusa alemã de enviar armamento para Kiev devido aos acordos energéticos com Moscovo valeu-lhe muitas críticas. Após a reunião com o chanceler alemão Olaf Scholz, Joe Biden já veio dizer que a obra não vai avançar caso haja uma invasão.

Representante ucraniana na Eurovisão afastada por ter visitado a Crimeia

Entretanto, o conflito russo-ucraniano está também a ter repercussões fora da política. A artista ucraniana Alina Pash venceu a competição Vidbir, que é o equivalente ao Festival da Canção em Portugal, e tinha sido escolhida para representar o país no palco da Eurovisão, que vai ter lugar em Turim, em Maio.

No entanto, a cantora foi afastada porque em 2015, já depois da anexação russa do território, Alina foi à península da Crimeia, alegadamente entrando através da Rússia. A lei proíbe estas deslocações, permitindo apenas que os cidadãos ucranianos e estrangeiros só entrem na Crimeia através da sua própria fronteira e quem entrar através da Rússia fica impedido de entrar na Ucrânia.

Alina Pash confirmou que esteve na Crimeia, mas garantiu que não entrou pela fronteira russa e terá mostrado documentos para o provar. Contudo, as autoridades não confirmaram a legalidade dos documentos e a especulação continuou.

Perante este cenário, a artista anunciou que vai sair da competição, sublinhando que é uma artista e “não um político”.

Esta não é a primeira vez que o conflito na Crimeia chega ao palco da Eurovisão, apesar da competição se afirmar como apolítica. Em 2016, a Ucrânia venceu o concurso com a canção 1944, interpretada por Jamala, que relatava a história da deportação dos Tártaros da região durante a governação de Estaline.

A entrada foi polémica, com muitos russos a questionarem a sua legalidade por ter uma mensagem política, especialmente no contexto da reignição do conflito na península em 2014. A tensão entre os dois países foi ainda mais óbvia porque nesse ano a Rússia venceu o televoto, com a música “You Are The Only One” interpretada por Sergey Lazarev, tendo o país ficado no terceiro lugar.

Por ter vencido em 2016, a Ucrânia organizou o concurso em 2017 e a representante russa, Yulia Samoylova, foi também impedida de entrar no país pelas mesmas razões de Alina — ter desrepeitado a lei ucraniana ao entrar da Crimeia através da Rússia. Moscovo acabou por decidir não participar no festival nesse ano.

Em 2019, a vencedora do Vidbid também abandonou a representação ucraniana no palco europeu por questões políticas. Anna Korsun, cujo nome de palco é Maruv, depois do seu patriotismo ter sido questionado.

Jamala, a vencedora de 2016, estava no painel de jurados e decidiu fazer questões aos candidatos fingindo ser uma jornalista em Tel Aviv, onde a Eurovisão foi organizada em 2019 e perguntou a Maruv se “a Crimeia é da Ucrânia?“. A cantora respondeu que sim, mas o tom da sua resposta foi posto em causa, levando ao seu afastamento. O país acabou assim por não participar no festival em 2019.

Adriana Peixoto, ZAP //

10 Comments

  1. “…Um soldado ucraniano foi hoje morto…”

    É lamentável. Mas mais lamentável é não se dar o mesmo relevo às crianças iemenitas que morrem todos os dias na sequência de bombardeamentos sauditas feitos com armamento americano…

    Não será altura de nos libertarmos da vassalagem aos EUA?…

      • ESSA é a pergunta!
        Há demasiada gente que, arreliada por os EUA andarem armados em polįcia do Mundo, se esquece que se não fossem eles era outro qualquer!
        Pois.
        Será que, dos outros com capacidade para isso, há algum menos mau que os EUA?
        Pois.

  2. Por enquanto a guerra nuclear global não nos ameaça. Os discípulos perguntaram a Jesus: “Conte para nós quando é que isso vai acontecer. Que sinal haverá para mostrar quando é que todas essas coisas vão começar?” (Marcos 13:4, NTLH Nova Tradução na Linguagem de Hoje) Jesus disse: “Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras. Cuidado para não ficar apavorados, pois essas coisas têm de acontecer, mas ainda não é o cumprimento [do sinal].” (Mateus 24:6) A guerra nuclear global (este será o cumprimento do sinal de Jesus) vai começar com um conflito étnico: “Porquanto se levantará nação contra nação” (como em 2008 na Geórgia). O profeta Daniel escreve: “No tempo designado [o rei do norte] voltará [isso significa também a desintegração da União Europeia e da NATO. Muitos países do antigo bloco de Leste voltará à esfera de influência russa]. E entrará no sul [por causa do conflito étnico ao sul das fronteiras da Rússia (Mateus 24:7)], mas não serão como antes [Geórgia – 2008] ou como mais tarde [Ucrânia], pois os habitantes das costas de Quitim [o distante Ocidente] virão contra ele, e (ele) se quebrará [mentalmente], e voltará atrás”. (Daniel 11:29, 30a) Desta vez será uma guerra mundial, não só pelo nome. A “poderosa espada” também será usada. (Apocalipse 6:4) Jesus o caracterizou assim: “coisas atemorizantes [φοβητρα] tanto [τε] quanto [και] extraordinárias [σημεια] do [απ] céu [ουρανου], poderosos [μεγαλα] serão [εσται].” É precisamente por causa disso haverá tremores significativos ao longo de todo o comprimento e largura das regiões [estrategicamente importantes], e fomes e pestes. Muitos dos manuscritos contém as palavras “e geadas” [και χειμωνες].
    A Peshitta Aramaica: “וסתוא רורבא נהוון” – “e haverá grandes geadas”. Nós chamamos isso hoje de “inverno nuclear”. (Lucas 21:11)
    Em Marcos 13:8 também há palavras de Jesus: “e desordens” [και ταραχαι].
    A Peshitta Aramaica: “ושגושיא” – “e confusão” (sobre o estado da ordem pública).
    Este sinal extremamente detalhado se encaixa em apenas uma guerra.
    Mas todas essas coisas serão apenas como as primeiras dores de um parto. (Mateus 24:8) Este será um sinal de que o “dia do Senhor” (o período de julgamento) realmente começou. (Apocalipse 1:10)

  3. O Putin parece apaixonado por armas como uma criança por um brinquedo, com a diferença de que o resultado poderá ser bem diferente para pior!

  4. O problema é que o Putin tem a mania que é galo. E infelizmente os dirigentes das potências ocidentais rivais têm-lhe dado razão para pensar assim.
    O melhor que posso esperar é que o Putin saia deste assunto a cacarejar. De preferência, antes de alguém fazer um disparate…

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