Um distrito, um membro. O sistema eleitoral é bastante particular e distinto de muitos outros sistemas democráticos. De Portugal, por exemplo.
É dia de eleições no Reino Unido. Não haveria eleições já a 4 de Julho, aliás, nem haveria eleições em 2024, mas Rishi Sunak surpreendeu.
No final de Maio, o ainda primeiro-ministro anunciou eleições gerais, depois de uma reunião com todo o Governo: chegou o momento de os seus compatriotas decidirem “em quem confiam”.
Sunak tentará ser embalado pelo crescimento da economia nacional, pela “estabilidade económica” que o próprio destacou, e pelas deportações de migrantes para o Ruanda.
Mas, no próprio dia do anúncio, já havia sondagens a colocar o Partido Trabalhista com mais 20 pontos percentuais do que o seu Partido Conservador. Mais recentemente, começou a falar-se em “supermaioria” trabalhista.
A última sondagem da campanha, divulgada pela Sky News na véspera das eleições, mostra a maior vitória de qualquer partido desde 1832: o Partido Trabalhista pode ter 431 membros na Câmara dos Comuns, contra apenas 102 do partido ainda no poder, o Conservador.
O domínio do Partido Conservador, que lidera o país desde 2010, deve terminar agora.
Como funciona?
O sistema eleitoral no Reino Unido é bastante particular e distinto de muitos outros sistemas democráticos. De Portugal, por exemplo.
O Parlamento em Londres (no Palácio de Westminster) tem duas câmaras: Câmara dos Comuns e Câmara dos Lordes.
Aqui, o que interessa é a Câmara dos Comuns, que tem 650 membros do Parlamento.
Ao contrário de Portugal, nas eleições no Reino Unido não há método D’Hondt, não há eleição de diversos deputados por distrito. Aliás, nem há “deputados” – são chamados “membros do Parlamento”, como foi mencionado acima.
Para eleger essas 650 pessoas, há de facto uma votação distrital. Mas o país é dividido em 650 distritos eleitorais; ou seja, cada distrito elege um único representante para o Parlamento.
O sistema que elege cada membro é o denominado First-past-the-post – o mais votado vence, em cada distrito. Independentemente da diferença para o segundo classificado.
O partido que conseguir mais votos, em princípio, é o partido que vai liderar o Governo. O líder desse partido é o primeiro-ministro.
Em casos de demissão do primeiro-ministro, e novamente ao contrário do que acontece cá, não há logo eleições antecipadas. Normalmente, o novo primeiro-ministro é alguém do mesmo partido – aconteceu precisamente com Rishi Sunak, quando Liz Truss se demitiu; ou quando a própria Liz Truss assumiu o cargo de primeira-ministra, quando Boris Johnson se demitiu.
Mas também se falou ali sobre a Câmara dos Lordes. Essa não vai a votos hoje. Os seus actuais 783 (?) membros não são eleitos, mas sim nomeados; 92 deles são lordes hereditários, que mantêm os seus lugares por herança de família. A maioria dos lordes é nomeada pelo monarca, neste caso pelo Rei Carlos III, que segue recomendações dos partidos políticos. A Câmara dos Lordes tem poder limitado em comparação com a Câmara dos Comuns; e nem participa na escolha do primeiro-ministro.