Através de duas experiências, a ciência provocou que os funcionários a quem foi diagnosticada síndrome de impostor são os melhores do que os seus pares no que respeita às relações interpessoais — campo no qual tentam compensar a falta de capacidades que acreditam ter.
Depois de anos a acreditar que as pessoas com síndrome de impostor — pessoas que se sentem pouco qualificadas para as suas funções profissionais — poderiam sabotar-se a si mesmas nos seus empregos, a ciência veio provar o contrário. Na verdade, estas pessoas são até melhores funcionários, já que tendem a compensar as lacunas que pensam ter com esforços para serem mais “gostados, empáticos e colaborativos“.
De acordo com o site New Scientist, o termo “síndrome do impostor” foi cunhado em 1978, quando dois psicólogos estudavam os objetivos profissionais das mulheres. Foi assim que descobriram que elas acreditavam não ser “assim tão boas” funcionárias e que as suas conquistas e sucessos se deviam sobretudo à sorte. Ao longo dos anos, percebeu-se que esta patologia afeta pessoa de todos os quadrantes, mas sobretudo as mulheres e as minorias étnicas.
O que para muitos é tido como “falsa modéstia” é, sugere a ciência, uma condição que pode ter consequências ao nível da ansiedade e da auto-estima do indivíduo. Paralelamente, quem sofre da síndrome do impostor tende também a dificultar o seu próprio trabalho, apesar de nenhuma pesquisa científica o ter provado até agora.
Basima Tewfik, investigadora do MIT Sloan School of Management, mediu os níveis de síndrome de impostor entre os 155 trabalhadores de uma empresa de consultoria financeira nos Estados Unidos. Aos participantes foram mostradas frases como “No trabalho, os olhos pensam que eu tenho mais conhecimentos e capacidades do que eu acho que tenho” e foi lhes pedido que classificassem com que frequência achavam que estas frases se adaptavam às suas situações.
Posteriormente, a investigadora solicitou aos supervisores destes mesmos funcionários que avaliassem o desempenho deles, mas também as suas características interpessoais — novamente através de frases que lhe foram mostradas, tais como “Este funcionário cria relações de trabalho eficazes com os colegas”. Uma das conclusões a que a investigação — publicada no Academy of Management Journal — chegou foi que os trabalhadores com síndrome de impostor têm avaliações relacionadas com as relações interpessoais mais elevadas do que os seus pares com mais confiança e considerados igualmente competentes.
Assim sendo, Basima Tewfik não tem problemas em afirmar que as “pessoas coma a síndrome de impostor eram aquelas com as que se quereria trabalhar“.
Numa outra experiência, a investigadora pediu a 70 médicos estagiários para considerarem o histórico clínico de um paciente com enxaquecas ou infeções sexualmente transmissíveis, encenadas por um ator. Os inquiridos a quem foi atribuída síndrome de impostor, descobriu-se, tinham probabilidades mais elevadas de fazer o diagnóstico correto, colocar as questões mais pertinentes, fazer olhar visual, acenar, fazer gestos com as mãos e falar com um tom mais recetivo e amigável.
Uma possível justificação para esta diferença pode ter que ver, por exemplo, com a necessidade que os indivíduos com síndrome do impostor sentem em compensar, ainda que de forma inconsciente, as falhas que consideram ter com uma postura mais “fácil de lidar“, explica Tewfik.
Terry Fitzsimmons, da Universidade de Queensland, na Austrália, acredita que a síndrome do impostor pode ser positiva no sentido em que o indivíduo sente a necessidade de compensar pelos resultados aquém do esperado, uma atitude que acaba por originar mais e melhores resultados, mas também uma maior progressão na carreira, aponta. Mesmo assim, esta atitude acarreta riscos, como o stress excessivo e uma carga de trabalho maior.
Já Tewfik, opta por realça que esta conclusão não é de qualquer modo um apelo para que as pessoas aceitem os pensamentos associados à síndrome do impostor, os quais constituem consequências — a maioria das vezes negativa. “Acho que o próximo passo [em termos de investigação científica] tem que ser perceber como é que podemos diminuir a ansiedade que está associada à síndrome do impostor para, posteriormente, abraçarmos as consequências positivas, nomeadamente ao nível das relações interpessoais, que lhe estão associadas”, explicou.
“Ao longo dos anos, percebeu-se que esta patologia afeta pessoa de todos os quadrantes, mas sobretudo as mulheres e as minorias étnicas.“
E que tal pararem de ir na cantiga dos norte-americanos e verem isto como algo inerente à natureza humana.
Essa mania de querer forçar a ideia de existirem vítimas é algo que retira a auto-responsabilidade individual e desculpar as falhas com factores inventados.