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“São verdadeiras histórias de terror”. Settld poupa tempo e dinheiro às famílias durante o luto

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Vicky Wilson fundou a Settld, uma empresa que poupa tempo e dinheiro às famílias com a parte burocrática da morte de um ente querido. “É uma loucura algumas das coisas ridículas que acontecem”, contou em entrevista ao ZAP.

No ano passado, a avó de Vicky Wilson morreu. Entre o luto, a britânica e a sua mãe ficaram encarregues de tratar da parte burocrática da morte. Ligaram para bancos, serviços públicos, seguradoras e fornecedores de televisão e Internet, entre outros, para notificá-los da morte. No total demoraram cerca de dez horas a fazê-lo e mais de 6 semanas para resolver tudo.

Foi então que Vicky decidiu procurar quem mais passou por situações semelhantes e descobriu que não era a única. Juntamente com a sua mãe, Julie, fundou a Settld, uma empresa que notifica todas as empresas sobre a morte de um ente querido, retirando uma parte da dor das famílias que ainda estão a lidar com a perda.

“A minha mãe e eu ligamos para empresa após empresa, revivendo a perda da minha avó a cada chamada”, contou Vicky, que esteve à conversa com o ZAP na Web Summit, em Lisboa.

(dr)

Vicky Wilson e a sua falecida avó, June.

O serviço é totalmente grátis. “Decidimos propositadamente não pedir dinheiro às famílias, porque elas já estão a passar por uma dor muito difícil”, salientou a CEO da Settld. Os seus serviços são cobrados a dois tipos de profissionais: advogados que lidam com legitimação de testamentos e os prestadores de serviços.

Os primeiros, contou Vicky, “passam exatamente pelo mesmo processo dos seus clientes”. Por outro lado, a Settld consegue poupar até 60% dos custos operacionais que os prestadores de serviços têm nestes casos.

Todos os anos morrem 60 milhões de pessoas em todo o mundo. Quando morre, cada pessoa deixa, em média, 15 a 20 contas abertas. A Settld consegue poupar às famílias semanas de angústia em apenas 15 minutos.

Vicky realça que este é um problema avaliado em 12 mil milhões de libras, tendo em conta o tempo que é gasto em contactar as organizações e o tempo gasto pelas próprias empresas.

Para se ter uma noção da dimensão desta adversidade, Vicky dá um exemplo: “Imagina que alguém trabalhou no estrangeiro e tinha várias pensões, e talvez até tenha investido em algumas empresas. Agora, a menos que tenha anotado essas coisas, elas podem perder-se e a família não sabe onde elas estão”.

O feedback dos clientes é a melhor parte. “É muito emocionante, na verdade”, confessou a britânica, explicando que tratar destas burocracias é normalmente classificado como um ponto chave de dor no processo de luto.

A fundadora da Settld lamenta que o luto não seja “um tema muito sexy” e que, por isso, tenha sido deixado ao deus-dará durante muito tempo. Por enquanto há muita coisa que precisa de mudar e muitas barreiras que precisam de ser derrubadas.

“Não é necessariamente que as empresas não queiram trabalhar connosco, é só que nunca lhes foi pedido que pensassem sobre estas coisas”, disse ao ZAP. O seu objetivo não é apenas ajudar os seus clientes, mas também chegar a um ponto em que luto será simplificado e padronizado.

No ano passado, Vicky Wilson lançou uma petição que pedia que fosse mais simples encerrar contas bancárias e de serviços públicos de entes queridos após a morte. A petição foi, até agora, assinada por mais de 93 mil pessoas. Inicialmente, Vicky admite que estava cética, mas que os resultados foram muito animadores.

“É uma loucura algumas das coisas ridículas que acontecem. Por exemplo, um banco pediu ao falecido para vir ao telemóvel e validar a morte. Parece uma farsa, mas estas são verdadeiras histórias de terror”, atirou. “É um buraco negro, porque nunca foi dada a devida atenção”.

Para já, o foco da empresa está no Reino Unido, embora a ambição seja expandir para outros países — como Portugal, por exemplo.

Daniel Costa, ZAP //

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