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Cientistas desmistificam os segredos da antiga “Máquina de Anticítera”

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Marsyas / Wikimedia

Máquina de Anticítera

Uma equipa de investigadores conseguiu desmistificar alguns dos segredos da antiga “Máquina de Anticítera”, conhecido como o computador analógico e planetário mais antigo de sempre.

A Máquina de Anticítera é o computador analógico e planetário mais antigo que se conhece, criado no século I a.C., na Grécia romana, e era usado para prever posições astronómicas e eclipses, como função de calendário e astrologia. O mecanismo original está exposto na coleção de bronze do Museu Arqueológico Nacional de Atenas.

O artefacto foi redescoberto num navio naufragado, em 1901, na costa da ilha grega de Anticítera, por uma equipa de mergulhadores. Desde então, gerações de investigadores maravilharam-se com a sua complexidade impressionante e funcionamento inescrutável.

As engrenagens e visores do dispositivo demonstram os movimentos dos planetas e do Sol, as fases do calendário lunar, a posição das constelações do Zodíaco e até mesmo o timing de eventos desportivos, como os antigos Jogos Olímpicos.

Uma equipa de investigadores da University College London (UCL), no Reino Unido, apresenta, pela primeira vez, “um novo modelo radical que combina todos os dados e culmina numa elegante exibição do antigo Cosmos grego”, de acordo com um estudo publicado na sexta-feira na Scientific Reports.

“Este é um dispositivo tão especial”, disse Adam Wojcik, cientista da UCL e coautor do estudo, em declarações à VICE. “É tão fora de série, dado o que sabemos, ou sabíamos, sobre a tecnologia grega antiga contemporânea. É único e não há mais nada que se aproxime remotamente dele por séculos, ou talvez um milénio depois”.

Apenas um terço do artefacto sobreviveu com o passar dos séculos, o que tornou a sua compreensão ainda mais desafiante. Os restos incluem 82 fragmentos, alguns dos quais contêm engrenagens complexas e inscrições outrora ocultas.

Embora alguns dos segredos desta máquina já tenham sido desvendados ao longos dos anos, a equipa de investigadores da UCL acredita ter descoberto a peça que faltava no quebra-cabeças: as engrenagens subjacentes ao visor frontal da calculadora.

Praticamente nada da parte frontal sobreviveu e “nenhuma reconstrução anterior chegou perto de corresponder aos dados” que existem, de acordo com o novo estudo.

Wojcik explica que houve aspetos que foram ignorados por outros investigadores no passado. “Efetivamente, o que fizemos foi não ignorar nada”, explicou. “Assim, os enigmáticos pilares e buracos, de repente, agora faziam sentido na nossa solução”.

Neste novo estudo, os investigadores criaram simulações de computador e réplicas parciais do dispositivo de acordo com inscrições reveladas em estudos anteriores.

Uma análise feita em 2016 revelou inscrições na parte da frente do dispositivo que incluía um par de valores, 462 anos e 442 anos, que os fabricantes do mecanismo associaram a Vénus e Saturno. Os investigadores conseguiram identificar uma possível fonte para estes números, derivada da obra do filósofo pré-socrático Parménides de Eleia.

Estes valores são antigos cálculos gregos dos períodos sinódicos dos planetas, o que significa que representam o tempo que leva para os planetas voltarem à mesma posição aparente no céu visto da Terra, de acordo com o estudo.

Como se acreditava que a Terra era o centro do sistema solar, os gregos criaram mecanismos e ciclos complexos para encontrar explicações alternativas ao movimento dos planetas.

Os ciclos sinódicos revelados para Vénus e Saturno permitiram que a equipa criasse um sistema de engrenagens com a quantidade certa de dentes para produzir o tipo de movimento planetário descrito nas inscrições.

“Conforme gira a coroa na lateral do mecanismo, todos estes pequenos planetas começam a mover-se como um relógio neste tipo de miniplanetário e, ocasionalmente, um deles gira para trás, e depois move-se para frente de novo, e depois outro, mais para fora, começa a retroceder”, explicou Wojcik à VICE. A reconstrução digital completa do artefacto está detalhada no documentário.

Daniel Costa, ZAP //

4 Comments

    • Caro leitor,
      Obrigado pela sua sugestão.
      Poderíamos de facto ter usado “decifram”, mas “desmistificar” tem, entre outros, o significado de “fazer cessar o carácter místico ou misterioso de alguma coisa”, parecendo-nos adequado o seu uso.

  1. Finalmente aparece alguém que sabe a diferença entre “desmistificam” e “desmitificam”. Uma tem a ver com místico a outra com mito. São coisas muito diferentes, mas a confusão é comum!

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