Em causa o (não) envio de mísseis de cruzeiro para ajudar os ucranianos. Disparam-se críticas, mas há outras dúvidas.
O Parlamento alemão rejeitou uma moção da oposição para entregar mísseis de cruzeiro Taurus à Ucrânia.
O chanceler Olaf Scholz recusa esta ideia porque acha que os mísseis poderiam ser usados para atacar a Rússia, em solo russo.
Os mísseis Taurus têm um alcance de mais de 500 quilómetros; não seria difícil para a Ucrânia atingir território da Rússia.
“É uma arma de muito longo alcance, e o que está a ser feito em termos de selecção de alvos e de apoio a ataques por parte dos britânicos e franceses não pode ser feito na Alemanha. Não seria responsável“, viria a justificar Scholz, dias depois.
O chanceler quer evitar a todo custo que a Alemanha se envolva numa guerra com a Rússia – que certamente iria responder noutra escala, se fosse atacada com esses mísseis.
Mas agora disparam-se, não mísseis, mas críticas vindas de todo o lado, destaca o jornal Handelsblatt.
O foco das críticas é um: verdade. Opositores e especialistas acham que o líder do Governo da Alemanha está a mentir.
Entre partidos da oposição críticos, Anton Hofreiter (Verdes e parceiro de coligação no Governo) acusou Scholz de dizer “claramente inverdades”.
A especialista em segurança Jana Puglierin deixou a confusão no ar: “O chanceler alega que os alemães não podem fazer o que os britânicos e os franceses estão a fazer – mas os britânicos e os franceses dizem que não estão a fazer o que o chanceler diz que estão a fazer“.
Os mísseis em causa são os Storm Shadow/Scalp, com um alcance de 250 quilómetros, entregues pela França e pelo Reino Unido.
Colocar mísseis Taurus na Ucrânia seria colocar também soldados alemães a escolher alvos. Ou seja, seria colocar soldados alemães envolvidos na guerra com a Rússia.
O Reino Unido diz oficialmente que não tem qualquer soldado a fazer isso em relação aos mísseis Storm Shadow/Scalp.
No entanto, quando o Governo de Londres reagiu à sugestão de Emmanuel Macron de colocar soldados europeus ou da NATO na Ucrânia, a resposta foi: “Além do pequeno número de pessoal que temos no país para apoiar as forças armadas ucranianas, não temos planos para uma implantação em grande escala”.
A frase não foi clara, mas fica a ideia de que há soldados britânicos envolvidos na selecção dos alvos, apesar das negações oficiais – e apesar do segredo prolongado.
Para Scholz, a ideia é clara e fixa: não há mísseis Taurus para a Ucrânia. Mesmo que isso signifique ouvir críticas dos próprios parceiros de coligação no Governo. Por outro lado, o povo apoia: 56% concordam com esta recusa, segundo sondagem recente da RTL.