/

Santa Casa deve dinheiro à maior organização criminosa do Brasil

3

jogossantacasa.pt

Dívida para com o Primeiro Comando da Capital (PCC) resultará de uma operação em São Paulo, mas não consta no relatório da auditoria forense que deitou abaixo a provedora Ana Jorge.

A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) fez negócios com a maior ‘máfia’ brasileira, a quem ficou a dever dinheiro, revelou, numa reunião de novembro, um gestor da MCE, a empresa de jogo comprada pela Santa Casa no Rio de Janeiro

A conclusão é de uma investigação do jornal Expresso com a revista brasileira Piauí. De acordo com a investigação conjunta e com a informação passada ao Ministério Público (MP) por via paralela, um novo representante da entidade portuguesa no Rio foi confrontado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do Brasil, e pressionado a resolver o crédito de 200 mil reais (cerca de 40 mil euros) em falta.

Diz a revista Piauí que o PCC “extorquiu” a entidade portuguesa.

A dívida terá resultado de uma “operação” da MCE em São Paulo, onde o PCC conta com maior presença, mas não consta, no entanto, no relatório da auditoria forense e financeira sobre as atividades da Santa Casa Global.

A provedora Ana Jorge, exonerada pelo Governo no mês passado e na mira do MP — que já pediu a sua condenação —, já seria a dona do cargo na altura dos factos. No entanto, terá sido o seu antecessor, Edmundo Martinho, quem tomou a decisão de investir no negócio de jogo no Brasil com o PCC.

Ana Jorge terá denunciado ao Ministério Público português um conjunto de irregularidades ligadas aos investimentos no Brasil três meses antes.

A chegada da Santa Casa ao Brasil

A entrada da Santa Casa no mercado brasileiro — com a Santa Casa Global Brasil Participações Ltda, criada em 2021 com o objetivo de administrar os investimentos da Santa Casa no Brasil — traduziu-se na aquisição da MCE, mas também em outros negócios.

A filial chegou a São Paulo com capital social de mil reais (175 euros). Estaria de olho na licitação da lotaria estadual paulista depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubar o monopólio que explorava o setor, diz a revista brasileira responsável pela investigação com o semanário.

No mês em que o governador João Doria enviou à Assembleia um projeto de lei a pedir a criação da Lotaria Estadual, a filial da Santa Casa aumentou o seu capital para 25 milhões de reais (cerca de 4.3 milhões de euros).

A filial previa uma receita de 2 mil milhões de reais caso ficasse com a exploração da Lotaria, mas o governo do Estado de São Paulo anulou a proposta para a exploração de jogos de azar do consórcio que incluía a Santa Casa, uma vez que a estrutura de gestão da Empresa de Promoção de Venda Ltda (EPV), uma empresa da Santa Casa, terá sido criada em São Paulo sem o conhecimento formal dos administradores da Santa Casa em Lisboa, dita a investigação, apesar de ser detida a 100% pela entidade portuguesa.

“Não resulta qualquer evidência de qualquer processo de aprovação interna da constituição da EPV”, lê-se na auditoria forense. “Não resulta de qualquer documento analisado informação sobre os motivos que levaram à decisão de constituição da EPV”, nem foi disponibilizada “qualquer documentação justificativa para que a EPV, ao contrário das demais sociedades da SCG Portugal, ser gerida por um só administrador [José Pedro Vaz Fernandes], o que contraria os princípios impostos pela SCML”.

Essa solução, diz Vaz Fernandes, foi apenas “temporária”.

“Decidiu-se avançar apenas comigo como administrador, situação que seria posteriormente alterada, não fosse a situação de bloqueio e abandono a que a atividade no Brasil ficou sujeita por parte da SCML a partir de maio de 2023, dois meses depois, e que implicou na minha renúncia em final de junho”, disse, citado pelo Expresso.

O que é o PCC?

Fundado em 1993 no estado de São Paulo, o grupo surgiu com o suposto objetivo de combater a violência e a corrupção nas prisões paulistas em defesa dos prisioneiros, mas rapidamente expandiu as suas atividades. Tráfico de drogas, assaltos, sequestros e homicídios são só alguns dos crimes praticados pelo grupo que hoje conta com cerca de 42 mil membros de 70 fações espalhadas por 23 estados.

O grupo atua com uma estrutura hierárquica e um código de conduta organizado. Já não está só no Brasil: o tráfico de drogas levou a sua influência além fronteiras, especialmente para a América do Sul, mas também para Europa — incluindo Portugal.

Segundo as estimativas do Ministério Público de São Paulo, o PCC movimenta cerca de mil milhões de reais por ano (cerca de 175 milhões de euros).

A entrada no negócio do jogo

Há mais de uma década, o PCC, liderado por Marcos Willians Herbas Camacho, mais conhecido como “Marcola”, terá entrado discretamente no mercado do jogo.

Uma investigação da Polícia Federal (PF) em 2021 revelou uma intensa disputa entre o PCC e o Comando Vermelho — as duas maiores organizações criminosas do país — no Ceará, que revelou o envolvimento das duas organizações com várias empresas da indústria do jogo, incluindo a Fourbet e a Loteria Fort, que foram ligadas à família de Marcola.

A PF descobriu que mais de 300 milhões de reais (cerca de 40 milhões de euros) em transações suspeitas foram realizadas através da Loteria Fort entre 2011 e 2022.

Tomás Guimarães, ZAP //

3 Comments

  1. Mais uma associação do “bem” que depois é nada mais que um monte de criminosos!

    “ Fundado em 1993 no estado de São Paulo, o grupo surgiu com o suposto objetivo de combater a violência e a corrupção nas prisões paulistas em defesa dos prisioneiros, mas rapidamente expandiu as suas atividades. Tráfico de drogas, assaltos, sequestros e homicídios são só alguns dos crimes praticados pelo grupo que hoje conta com cerca de 42 mil membros de 70 fações espalhadas por 23 estados.”

    A esquerda sempre na vanguarda da criminalidade!

    5
    2
  2. Sempre ouvi dizer que dividas de jogo, droga..nao sao para pagar mas para acabar com os que endividados, por isso, é até os descendentes nao existirem!!!

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.