Primeiro-ministro de Espanha, que ponderava demitir-se devido ao alegado tráfico de influências e corrupção da sua mulher, diz ser possível enfrentar a “campanha de assédio e difamação”.
O primeiro-ministro de Espanha, o socialista Pedro Sánchez, anunciou esta segunda-feira que continuará à frente do Governo do país.
“Depois de refletir, decidi continuar. Vou continuar com mais força”, prometeu, numa declaração em Madrid, no Palácio da Moncloa, a sede do Governo, em que também agradeceu a “solidariedade e empatia” que recebeu nos últimos dias — em Madrid, mais de 10 mil pessoas, segundo as autoridades locais, concentraram-se na rua, nas imediações do edifício, em apoio ao primeiro-ministro, com pedidos para não se demitir.
“Esta campanha de assédio e difamação não vai parar”, disse, mas é possível “enfrentá-la”.
“Assumo a decisão de continuar, se possível com mais força ainda. O que está em causa não é o destino de um determinado líder. Trata-se de decidir que tipo de sociedade queremos ser. O nosso país precisa desta reflexão. Durante demasiado tempo deixámos que a lama contaminasse a nossa vida pública”.
Sánchez revelou que ponderava demitir-se na quarta-feira passada, no dia em que um tribunal de Madrid confirmou a abertura de um “inquérito preliminar” por alegado tráfico de influências e corrupção da sua mulher, Begoña Gomez, na sequência de uma queixa de uma organização conotada com a extrema-direita baseada em alegações e artigos publicados em páginas na Internet e meios de comunicação digitais.
No caso que envolve Gómez estão em causa ligações a empresas privadas, como a companhia aérea Air Europa, que receberam apoios públicos durante a crise da pandemia de Covid-19 ou assinaram contratos com o Estado quando o marido era já primeiro-ministro.
O Ministério Público pediu no dia seguinte o arquivamento da queixa, por considerar não haver indícios de delito que justifiquem a abertura de um procedimento penal.
Vítimas da “máquina de lodo” da direita
O líder do Partido Socialista espanhol (PSOE) e do Governo de Madrid disse antes que ele próprio e a mulher estão há meses a ser vítimas da “máquina de lodo” da direita e da extrema-direita (Partido Popular e Vox) e que não sabia se valia a pena continuar à frente dos cargos perante um “ataque sem precedentes, tão grave e tão grosseiro”.
“Muitas vezes esquecemo-nos de que por trás dos políticos há pessoas”, afirmou, num texto publicado na rede social X.
Dirigentes do PSOE, reunidos numa Comissão Federal, o órgão máximo entre congressos, denunciaram uma “guerra suja” da direita e extrema-direita espanholas contra o primeiro-ministro e a sua família, baseada em campanhas de desinformação na Internet, comparando-a com outros casos ocorridos no Brasil, Estados Unidos, Argentina e “muitos países europeus”.
“Espetáculo” vergonhoso
O Partido Popular (PP) e o Vox acusam Sánchez de estar a vitimizar-se e a fazer “um espetáculo” que envergonha o país internacionalmente, para desviar as atenções de várias suspeitas de corrupção e para fazer campanha eleitoral em véspera de diversas eleições (regionais na Catalunha e europeias em junho).
“Não se deixem enganar. Espanha não tem um problema, quem tem um problema judicial é o senhor Sánchez” por causa de “alegados casos de corrupção que afetam o seu Governo, o seu partido e pessoas que lhe são próximas”, disse o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo, no sábado.
Sánchez, à frente do Governo espanhol desde 2018, tem também sido atacado por causa de uma investigação judicial a um assessor de um ex-ministro socialista que alegadamente cobrou comissões ilegais a vender máscaras durante a pandemia a entidades públicas, incluindo governos regionais então nas mãos do PSOE.
Este caso levou à criação de comissões de inquérito no parlamento, apoiadas pelos socialistas, sobre a compra de material sanitário pelas administrações públicas durante a crise da Covid-19. Os trabalhos destas comissões arrancaram na semana passada.
ZAP // Lusa
É mais um agarrado ao “tacho” e que se alia, mesmo ao “diabo”, para se manter no poder e continuar a beneficiar os seus. Haja mais um pouco de decoro.