“Mãos Limpas” em Espanha. Pedro Sánchez pondera demitir-se

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O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, vai decidir até segunda-feira se continua no cargo, na sequência de uma investigação judicial que envolve a mulher.

“Preciso de parar e refletir. Preciso urgentemente de responder à pergunta de se vale a pena, apesar do lodaçal em que a direita e a extrema-direita pretendem transformar a política. Se devo continuar à frente do Governo ou renunciar a esta enorme honra”, escreveu Pedro Sánchez, numa “carta à cidadania” que publicou na rede social X.

O também líder do Partido Socialista espanhol acrescentou que decidiu cancelar toda a agenda pública para “poder refletir e decidir que caminho seguir” e que fará uma declaração aos meios de comunicação social na próxima segunda-feira para revelar a sua decisão.

Um tribunal de Madrid confirmou hoje a abertura de um “inquérito preliminar” que tem como alvo a mulher de Pedro Sánchez, Begoña Gómez, por possibilidade de tráfico de influências e corrupção, na sequência de uma queixa da associação “Mãos Limpas”, considerada próxima da extrema-direita espanhola.

Em causa, segundo o jornal El Confidencial, estão alegadas ligações de Begoña Goméz a empresas privadas, como a companhia aérea Air Europa, que receberam apoios públicos durante a crise da pandemia ou assinaram contratos com o Estado quando Sánchez era já primeiro-ministro.

No texto que hoje divulgou, Pedro Sánchez diz que estão em causa “falsidades” e que Begoña Gómez “defenderá a sua honra e colaborará com a justiça em tudo o que lhe for pedido”.

O primeiro-ministro espanhol acrescenta que estas acusações falsas saíram de sites ligados à direita e à extrema-direita e foram alimentadas pelo Partido Popular e pelo Vox, que as levaram para o debate público e político e com denúncias no organismo que avalia conflitos de interesses de titulares de cargos do Estado, que as arquivou.

“Trata-se de uma operação de assédio e destruição por terra, mar e ar, para tentar enfraquecer-me política e pessoalmente, atacando a minha mulher”, escreve Sánchez, que acusa a direita e a extrema-direita espanholas de não terem aceitado os resultados das eleições legislativas do ano passado.

O PP foi o mais votado nas eleições, mas não chegou ao Governo, porque uma ‘geringonça’ de oito partidos, incluindo alguns independentistas, reconduziram Sánchez no cargo de primeiro-ministro.

“Aperceberam-se de que o ataque político não seria suficiente e agora ultrapassaram a linha de respeito da vida familiar de um presidente do Governo e o ataque à sua vida pessoal”, escreveu hoje Sánchez no texto divulgado no X, referindo-se ao PP e ao Vox.

Sánchez diz-se vítima de um “ataque sem precedentes” e “tão grave” que precisa de “parar e refletir”, juntamente com a mulher, garantindo que, apesar da caricatura que os adversários fizeram dele, nunca teve preso ao cargo, mas “ao dever, ao compromisso político e ao serviço público”.

Além da suspeita que envolve a mulher, Sánchez tem sido atacado por causa de uma investigação judicial a um assessor de um ex-ministro socialista que alegadamente cobrou comissões ilegais a vender máscaras durante a pandemia a entidades públicas, incluindo governos regionais então nas mãos do PSOE.

Nenhum antigo membro do governo ou dirigentes do PSOE está a ser investigado pela justiça, segundo o que se conhece do caso, que levou à criação de comissões de inquérito no parlamento, apoiadas pelos socialistas, sobre a compra de material sanitário pelas administrações públicas durante a crise da covid-19.

PP lamenta vitimização “para não dar explicações”

O Partido Popular espanhol acusou hoje o primeiro-ministro do país, o socialista Pedro Sánchez, de estar a vitimizar-se e a fazer campanha eleitoral com o anúncio de que pondera demitir-se.

Em vez de desaparecer cinco dias, o presidente do Governo deve aparecer de maneira urgente para dar uma explicação razoável sobre os escândalos que rodeiam o seu partido, o seu Governo e a sua mulher”, disse a dirigente do PP Cuca Gamarra, em declaração enviadaaos meios de comunicação social.

Para o PP, o problema de Sánchez “não é apenas político, é um problema fundamentalmente judicial”, e é lamentável que tenha optado pela “vitimização” e não pela “prestação de contas e a clareza“.

“Consideramos que a conferência de imprensa de segunda-feira não passa de um ato de campanha eleitoral de Pedro Sánchez, no qual tentará mostrar-se como uma vítima”, disse a ‘número dois’ do PP, o maior partido no parlamento de Espanha atualmente.

Também o Vox disse que Espanha está a assistir hoje a “uma nova vitimização” de Sánchez para tentar tapar “a corrupção que inunda o seu mandato”. “Se quer refletir, que o faça, mas depois de se demitir“, disseram fontes do Vox.

ZAP // Lusa

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