Um casal de lince-ibérico vai ser libertado esta sexta-feira no Vale do Guadiana, no Alentejo, subindo para 109 o número espécimes que vivem em liberdade na natureza em Portugal, disse à agência Lusa fonte do ICNF.
Trata-se do macho Quinde e da fêmea Quisquilla, que nasceram em cativeiro, em 2019, no Centro de Reprodução de Lince-ibérico de El Acebuche, no Parque Nacional de Doñana, na Andaluzia, em Espanha, precisou a mesma fonte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
Os dois linces vão ser libertados com coleiras emissoras, às 10h, na zona de Corte Gafo, concelho de Mértola, distrito de Beja, na área de reintrodução da espécie em Portugal – o Vale do Guadiana – e em liberdade serão monitorizados por uma equipa do ICNF.
Esta libertação é a segunda deste ano em Portugal depois de terem sido libertados três linces na primeira, no passado dia 18 de fevereiro, indicou a fonte, referindo que o ICNF prevê libertar este ano um total de sete animais (três fêmeas e quatro machos).
Segundo a fonte, o ICNF estima que a população de lince-ibérico a viver livre na natureza em Portugal é constituída por 107 animais identificados e monitorizados, número que sobe agora para 109 com a libertação de Quinde e Quisquilla.
A estimativa resulta de 43 libertações, 91 nascimentos e 15 mortes em meio natural, exclui 13 animais desaparecidos até hoje em Portugal e um animal que dispersou para Espanha e inclui dois que dispersaram de Espanha para Portugal.
A população atual é constituída em maioria por linces jovens com idades entre um e três anos e está centrada em Mértola e Serpa, mas existem pequenos núcleos ou exemplares dispersantes em Castro Verde e Almodôvar, no Alentejo, e Alcoutim, no Algarve.
2019 foi um ano “favorável”
No âmbito do projeto “LIFE+Iberlince”, o ICNF começou a libertar exemplares de lince-ibérico na natureza em dezembro de 2014 e monitoriza os que vivem em liberdade em Portugal. A libertação começou quando só existia um exemplar da espécie em Portugal, o macho Hongo, em situação de isolamento na zona de Vila Nova de Milfontes, concelho de Odemira, distrito de Beja.
Hongo, que tinha nascido em 2011 e sido localizado pela última vez em 2012 em Espanha, dispersou para Portugal, onde foi detetado numa zona de caça de Vila Nova de Milfontes, em 2013, e encontrado morto, vítima de atropelamento, em 2015, na Autoestrada 23, perto de Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém.
Os primeiros nascimentos comprovados da espécie em meio natural em Portugal desde a década de 1980 registaram-se em março de 2016 e a primeira reprodução de linces já nascidos na natureza no Vale do Guadiana ocorreu em maio de 2018.
Desde março de 2016, o ICNF já contabilizou 91 nascimentos de lince-ibérico na natureza em Portugal, sendo que a maioria (75) nasceu nos últimos dois anos (29 em 2018 e 46 em 2019), o que “atesta o sucesso” do processo de reintrodução da espécie em Portugal.
Segundo o ICNF, 2019 foi um ano “particularmente favorável” ao lince-ibérico em Portugal, devido ao nascimento das 46 crias em liberdade e ao estabelecimento de territórios ocupados por 13 fêmeas reprodutoras.
“Com estes territórios já estabilizados, o Vale do Guadiana, com um núcleo populacional em franco crescimento, tornou-se uma das áreas de reintrodução com maior sucesso a nível ibérico”, refere o ICNF.
“Salvámos o lince ibérico”, diz Governo
João Catarino, secretário de Estado da Conservação da Natureza, acredita que Portugal conseguiu salvar esta espécie da extinção. “Isto é sinal de que estamos a entrar em velocidade de cruzeiro e, a este ritmo, eu julgo que estamos no bom caminho para termos uma população efetiva muito maior, que é aquilo que pretendemos”, disse, citado pela TSF.
“Julgo que hoje já podemos dizer que salvámos o lince ibérico“, garante João Catarino.
Ainda assim, a a União Internacional para a Conservação da Natureza continuar a reiterar que esta é “a espécie de felino mais ameaçada do mundo”.
ZAP // Lusa