Cresce em madeira em decomposição, nas florestas tropicais e subtropicais. Não é tóxico, mas também não é comestível — muito graças ao seu sabor altamente amargo, penetrante.
Segundo uma equipa de investigadores alemães, o Amaropostia stiptica é a casa do composto natural mais amargo conhecido até à data.
O chamado cogumelo amargo foi estudado a fundo pelos cientistas do Instituto Leibniz de Biologia de Sistemas Alimentares da Universidade Técnica de Munique e do Instituto Leibniz de Bioquímica de Plantas em Halle (Saale), que isolaram e analisaram os seus compostos.
A equipa identificou três moléculas amargas anteriormente desconhecidas. Entre elas, um composto chamado oligoporina D destacou-se pela sua potência fora do normal, detalha o estudo publicado em fevereiro no Journal of Agricultural and Food Chemistry.
Em testes realizados com sistemas baseados em células humanas, verificou-se que a oligoporina D ativava o recetor do sabor amargo TAS2R46 a uma concentração extremamente baixa, de apenas 63 microgramas por litro — para se ter uma ideia da potência, um grama de oligoporina D poderia ser diluído em mais de 100 banheiras de água e ainda assim desencadear uma resposta de amargor, segundo o Earth.
A investigação também nos mostra como o corpo humano deteta e reage a substâncias amargas. Até agora, a maioria das substâncias amargas conhecidas catalogadas no BitterDB — uma base de dados global com mais de 2400 compostos — provêm de plantas com flores ou de origem sintética. Muito poucas entradas são derivadas de fungos.
“Os nossos resultados contribuem para expandir o nosso conhecimento sobre a diversidade molecular e o modo de ação dos compostos amargos naturais”, explicou Maik Behrens, que dirige um grupo de investigação no Instituto Leibniz em Freising.
O amargor é frequentemente considerado como um sistema de aviso sensorial, que alerta os seres humanos e outros animais para substâncias potencialmente tóxicas. Mas este sentido pode ter mais nuances. Nem todos os compostos amargos são nocivos — e nem todas as substâncias nocivas têm um sabor amargo. Por exemplo, o cogumelo mortal, Amanita phalloides, contém toxinas letais que não têm qualquer sabor amargo.
Para complicar, os recetores do sabor amargo não se limitam à língua. Encontram-se também por todo o corpo humano — no estômago, nos intestinos, nos pulmões, no coração e até nas células sanguíneas.Podem desempenhar outros papéis na fisiologia humana, influenciando possivelmente a digestão, as respostas imunitárias e as funções metabólicas.
“Quanto mais dados bem fundamentados tivermos sobre as várias classes de compostos amargos, tipos e variantes de recetores gustativos, melhor poderemos desenvolver modelos preditivos utilizando métodos de biologia de sistemas para identificar novos compostos amargos e prever os efeitos mediados pelos receptores gustativos amargos”, disse o autor.