Novas descobertas no naufrágio de Antikythera revelam técnicas antigas de construção naval

Swiss School of Archaeology in Greece (ESAG)

As escavações ao naufrágio de Antikythera, realizadas de 23 de maio a 20 de junho, resultaram em novas e interessantes descobertas que oferecem uma visão aprofundada sobre aspetos-chave da história marítima do Mediterrâneo antigo.

Foi realizada a extração intacta de três tábuas exteriores unidas a uma estrutura interna — um conjunto articulado de fragmentos do casco descoberto em 2024 — que confirma a utilização do método de construção “shell-first (do exterior para o interior), característico do Mediterrâneo entre os séculos IV e I a.C., no qual o revestimento exterior da embarcação era montado antes das estruturas internas.

As análises preliminares indicam que a madeira — datada inicialmente por volta de 235 a.C. —, corresponde a espécies como o olmo e o carvalho. O fragmento, com cerca de 0,40 metros de largura por 0,70 metros de comprimentos, é mais fino do que as tábuas encontradas por Jacques-Yves Cousteau em 1976 (menos de 5 cm), o que levanta dúvidas sobre se pertenceria a uma parte superior do navio, a uma reparação ou mesmo a uma embarcação auxiliar mais pequena.

Segundo o LBV, a resposta exigirá estudos detalhados que já se encontram em curso.

Além destes elementos, foram identificados outros vestígios de madeira associados a materiais inorgânicos (chumbo, cobre) e orgânicos (alcatrão), próximos da área explorada há décadas por Cousteau.

Estes vestígios, embora fragmentários, apoiam a hipótese de que o naufrágio contém informação estratificada sobre técnicas de calafetagem e manutenção de embarcações antigas.

A exploração também desvendou uma descoberta artística inesperada — ainda que parcial. Durante a extração de uma rocha, surgiram pequenos fragmentos de uma estátua masculina nua em posição de contraposto, que foram documentadas in situ antes da sua recuperação.

Contudo, apenas a base em mármore com a parte inferior da perna esquerda da figura pôde ser claramente recuperada, já que os restantes fragmentos permanecem presas em formações rochosas, o que obrigou ao adiamento da sua extração para intervenções futuras.

Swiss School of Archaeology in Greece (ESAG)

Mas talvez o objeto mais notável descoberto tenha sido um almofariz de terracota com bico, usado para moer ou misturar alimentos — um testemunho raro e valioso das práticas culinárias a bordo dos navios antigos.

A diversidade da carga do naufrágio continua a surpreender os investigadores, que nesta temporada localizaram ânforas de Quíos espalhadas por duas áreas distintas do local, sugerindo que a variedade tipológica é maior do que se supunha anteriormente.

A documentação sistemática através de fotogrametria 3D, integradas num sistema de informação geográfica, enriqueceu o arquivo digital do naufrágio, que já inclui dados de campanhas anteriores.

Os resultados desta ação de exploração consolidam o naufrágio de Antikythera como uma janela excecional para o passado e levantam novas questões sobre engenharia naval, comércio marítimo e vida quotidiana na Antiguidade.

Cada fragmento recuperado, cada dado registado, aproxima os investigadores da resolução de um enigma histórico cujas peças continuam, lentamente, a emergir das profundezas.

Este corpus meticulosamente compilado tornou-se uma ferramenta indispensável para orientar futuras investigações num dos mais fascinantes sítios arqueológicos subaquáticos do mundo.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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