Rússia é distopia: “Nem consigo chamar pessoa ao meu presidente”

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EPA/Sergei Karpukhin/Sputnik/Kremlin

Vladimir Putin

Entre a “escuridão de onde nada bom vem”, o “abismo” e um culpado chamado Boris Yeltsin. Visões de russos sobre a guerra e sobre Putin.

Distopia descreve um país dominado por um regime opressivo, assustador ou totalitário.

Um contraste de utopia, que foi escolhido pelo portal Meduza para descrever a Rússia actual.

O portal independente, que tem estado muito em cima da guerra na Ucrânia desde o primeiro dia, recolheu declarações de russos que estão contra o conflito, que estão preocupados, chocados e assustados.

Polina nem consegue chamar “pessoa” a Vladimir Putin: “Não o posso classificar como pessoa, porque naquele momento (anúncio do início da guerra) era uma espécie de concha estranha e incompreensível. Eu nem conseguia acreditar que era a mesma pessoa. Talvez um avatar de muitas pessoas más? Sim, um avatar de raiva. Avatar de agressão”.

Olga segue esse discurso: “Ele é um assassino em massa, um terrorista… É difícil até chamá-lo homem“.

A vida de Polina mudou completamente. Até nas rotinas mais simples do seu dia-a-dia: “Estou a escovar os dentes e começo a pensar: fogo, há mísseis a voar por aí!”.

Lyudmila lamenta a auto-censura que se espalhou pela Rússia, tal como noutros tempos soviéticos: “Não entendo como acabámos numa situação em que temos novamente medo de dizer o que pensamos. Isso atormenta-me terrivelmente”.

Alexey está em choque e deixou um conselho ao seu filho: “Para mim, a guerra é um estado de choque. Eu falei logo com o meu filho, que foi militar, e disse-lhe: é melhor ir para a prisão do que ir para a guerra. Acho que a prisão vai durar menos que o regime de Putin”.

Petr vê-se num “abismo” e está realmente preocupado com o futuro: “Porque não está claro o que vem a seguir. Vácuo, vazio. É como se eu não tivesse um futuro”.

O futuro é uma preocupação geral: “Agora não consigo ver nada à minha frente. Dizer que vejo uma floresta escura… Não é isso. Não é um abismo, é apenas algum tipo de buraco. É uma escuridão além da qual eu sei que não há nada de bom”, lamenta Ivan.

E Olga está em choque: “Eu tenho dois sentimentos principais nesta guerra. O primeiro é o choque da própria guerra, da morte de pessoas. E o segundo choque é que os ucranianos nunca nos vão perdoar“.

Olga é gerente de Krasnodar e deixou declarações interessantes. Olga culpa
Boris Yeltsin por trazer Putin – o actual presidente foi chamado pelo ex-presidente Yeltsin, em 1996, no início para ser director do Serviço de Segurança Federal.

“Esse foi o erro que iniciou isto tudo. A democracia começou a entrar em erupção. Não há cultura, foi estrangulada pela raiz. Se olharmos para estes últimos 22 anos (desde que Putin subiu ao poder), os russos sofreram tanto como os ucranianos, com as acções deste maníaco”, atirou.

E, entre os russos, já se comenta com frequência a saída de Vladimir Putin da liderança do país: “A Ucrânia precisa de vencer esta guerra. A Ucrânia pode-nos salvar do regime no futuro. Estou certo de que a derrota levará a uma mudança no regime de Putin. Já há um murmúrio abafado de descontentamento – eu ouço, toda a gente ouve. Gostaria de que isto acabasse hoje”.

ZAP //

6 Comments

  1. Os russos têm que fazer a sua parte, ou seja, contestação e oposição a Putin, manifestações de rua, recusar a incorporação militar, não alimentar a indústria da guerra, objeção de consciência, atentados às estruturas militares, etc.

  2. Quando penso que 147,47 milhões de Pessoas recenseadas a data atual no território Russo serão futuramente vitimas de rejeição por a maioria dos Países , por as ações cometidas por um Regime Ditatorial dirigido por um puro Psicopata e seus capangas subalternos ; é impossível compreender como uma ameaça desta natureza ainda não foi eliminada . Seja dito ao passar que o negocio do armamento , cada vez mais sofisticado , vai de vento em popa ! …… Não existe um só “Putin” mas sim muitos mais !

  3. A propaganda em todo o seu esplendor. Nestes comentários esquecem-se alguns pormenores que fazem toda a diferença: Enquanto a Ucrânia era, no final dos anos 90 quando obteve a sua independência o décimo país mais industrializado da Europa, logo a seguir à Rússia, à data atual a Ucrânia é agora o país mais pobre da Europa, já o era antes do início do atual conflito. Entretanto, a Rússia, passados os horríveis anos do consulado de Ieltsin e dos seus oligarcas (entre 2000 e 2010), a Rússia de Putin tem feito uma notável progressão no desenvolvimento económico do seu país, na era de Putin. Graças à ditadura a que os comentários se referem, claro… 🙂

    • Vai para lá adorar o teu ídolo. Portugal e os portugueses agradecem que emigres para lá. Vá rápido, emigra para lá, e talvez ainda arranjes emprego e sejas alistado para ires combater pelo teu mestre assassino FDPutin e consigas levar tau-tau dos ucranianos e ganhes juízo nessa cabeça de cérebro lavado pela propaganda desse regime execrável, corrupto, assassino e cleptocrático e que aqui defendes sem vergonha na cara.
      Tchau

  4. Desenvolvimento economico tão grande que os militares russos até deixam armamento para trás para conseguirem trazer todo o tipo de eletrodomesticos da Ucrania.
    Nota-se para onde foi todo esse desenvolvimento. Guerra e opressão. Imagem do teu lider, bot do kremlin.

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