Ameaça “muito real” na Moldávia: se vencer na Ucrânia, Rússia “pode invadir-nos poucos dias depois”

Ex-chefe dos serviços secretos pega num mapa e mostra porque está preocupado: “Os russos têm equipamentos e homens para isto”.

O aviso não é novo, a especulação desse cenário não é nova, mas a ameaça é “muito real”: a Rússia pode invadir a Moldávia. Muito rapidamente.

Iurii Briceag foi chefe dos serviços de inteligência da Moldávia. A sua postura corporal e a sua voz não mostram uma pessoa muito preocupada mas, depois de abrir o mapa, os avisos são sérios.

“Se a Ucrânia enfraquecer, as tropas russas da Transnístria poderão chegar a Chișinău (capital da Moldávia) numa questão de dias”.

Nesta entrevista ao Kyiv Post, a ideia de Iurii não é lançar um alarme no seu país. Mas a sua experiência, os factos e uma profunda compreensão da guerra híbrida – que a Moldávia tem vindo a sofrer há décadas – originam estes avisos.

O ex-líder dos serviços secretos (entre 2020 e 2022) assegura que esta sua análise não é especulação. Não é um “filme”. O militar já viu na Moldávia ataques híbridos apoiados pela Rússia, sabotagem política e campanhas de desinformação que abalaram a estabilidade da região.

“Não acredito que a Ucrânia possa perder”, continua Briceag. “Mas se os russos conseguirem romper e contornar Odessa, poderão avançar para a Transnístria. Já têm o equipamento e os homens para isso. Poucos dias depois, poderão chegar a Chișinău“.

“Estas são ameaças muito reais, e devemos encará-las com seriedade”, continua o antigo chefe dos serviços de informação da Moldávia.

Iurii Briceag tem ido à Ucrânia várias vezes. Visita soldados feridos, tem reuniões com legisladores. A sua mensagem é clara: “A guerra da Rússia não é só pela Ucrânia. É por nós também”.

Transnístria é “braço da Coreia do Norte”

Já em relação ao papel da Transnístria na estratégia da Rússia, o resumo é este: “A presença militar da Rússia na Transnístria é como uma espinha entalada do lado da Ucrânia”.

Segundo Iurii, 80% desse contingente é composto por cidadãos moldavos com residência na Transnístria e documentos moldavos. “Precisamos de restaurar a ordem constitucional – não de fuzilar o nosso próprio povo. Existem outros métodos – económicos, financeiros, legais”.

Iurii Briceag também tem estado na auto-proclamada República Moldava da Transnístria e, quando vai lá, fica com a sensação de que está de volta aos tempos da URSS.

“Tive a oportunidade de passear pelas ruas, conversar com as pessoas, ver o que está nas prateleiras das lojas. Se tivéssemos uma máquina do tempo, levar-nos-ia diretamente de volta à União Soviética. Está arrumado e limpo, mas tudo é precário. E na TV ainda transmitem slogans e histórias assustadoras sobre como os romenos vão chegar e oprimir. É um braço da Coreia do Norte“, analisou.

ZAP //

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