Rússia impõe condições para inspeção em Zaporijjia. Putin acusa EUA de “instigar” conflito na Ásia com “provocação” em Taiwan

(h) Russian Defence Ministry / EPA

Lançador de mísseis Tornado-G do Exército da Rússia em ação na Ucrânia

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem a capacidade logística e de segurança para apoiar uma visita de inspeção da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) à central nuclear de Zaporijjia, mas um diplomata russo exige que algumas condições sejam cumpridas primeiro.

Segundo avançou a agência Reuters, Igor Vishnevetsky, vice-chefe do departamento de proliferação nuclear e controlo de armas do Ministério dos Negócios Estrangeiros,  disse que a missão não poderia passar pela capital da Ucrânia ou pela linha da frente, pois seria muito perigoso.

“Imagine o que significa passar por Kiev. Significa que a missão chegaria à central nuclear através da linha de frente. Isso seria um risco enorme, uma vez que as forças armadas da Ucrânia não são todas constituídas da mesma forma”, disse Igor Vishnevetsky, citado pela agência de notícias estatal russa RIA.

Já o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, indicou que, “em contacto próximo com a AIEA, o secretariado da ONU avaliou que tem na Ucrânia a capacidade logística e de segurança para poder apoiar qualquer missão da AIEA à central nuclear de Zaporijjia de Kiev”, sublinhando que a Rússia e a Ucrânia precisam de chegar a um acordo.

A agência TASS também citou Vishnevetsky, avançando que qualquer missão deste tipo não tinha autorização para abordar a “desmilitarização” da central, conforme exigido por Kiev, pois só poderia lidar com o “cumprimento das garantias da AIEA”.

Entretanto, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, acusou a Rússia de estar a utilizar a central nuclear de Zaporíjia como meio de “chantagem”, referindo que o território continua a ser alvo de bombardeamentos.

Acusando as tropas russas de esconderem munições e equipamentos nas instalações da central nuclear, sublinhou que estas tropas devem ser imediatamente retiradas das instalações da central e áreas próximas “sem quaisquer contrapartidas”.

“Qualquer incidente de radiação na central nuclear de Zaporíjia pode afetar os países da União Europeia, Turquia, Geórgia e países de regiões mais distantes”, avisou, frisando que se “as ações da Rússia causarem uma catástrofe, as consequências também podem atingir aqueles que permaneceram em silêncio até agora”.

Putin acusa EUA de “instigar” conflito na Ásia

O Presidente russo, Vladimir Putin, acusou esta terça-feira os Estados Unidos (EUA) de estarem a prolongar o conflito na Ucrânia e de tentarem desestabilizar o mundo com a visita da presidente da Câmara dos Deputados norte-americana, Nancy Pelosi, a Taiwan, avançou a Lusa.

“A situação na Ucrânia mostra que os EUA estão a tentar prolongar esse conflito. Estão a fazer o mesmo ao instigar um potencial conflito na Ásia”, disse Putin num discurso na Conferência Internacional sobre Segurança, em Moscovo.

“A aventura norte-americana em Taiwan não se trata apenas de uma viagem de um político irresponsável, faz parte de uma estratégia intencional consciente que visa desestabilizar e tornar caótica a situação naquela região e no mundo”, afirmou.

É uma “demonstração descarada da sua falta de respeito pela soberania de outros países e das suas obrigações internacionais”, continuou Putin, referindo que houve uma “provocação cuidadosamente preparada” por parte dos norte-americanos.

As relações entre os EUA e a Rússia vive um período de tensão sem precedentes. Alvo de uma série de sanções ocidentais muito pesadas devido ao conflito na Ucrânia, a Rússia busca fortalecer as suas relações com os países da África e da Ásia, particularmente com a China.

A Rússia já havia descrito a visita de Pelosi a Taiwan – que decorreu no início de agosto – como uma “provocação”, considerando que Pequim tem o direito de tomar as “medidas necessárias para proteger a sua soberania”.

Ucrânia substitui chefes dos serviços de segurança

Zelenskyy substituiu os chefes dos serviços de segurança de quatro departamentos regionais, de acordo com decretos publicados no site da Presidência ucraniana e citados pelo Guardian.

As alterações no Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) dão-se nas regiões de Kiev, Ternopil e Lviv. Serhiy Zayats foi demitido do cargo de chefe da direção da SBU em Kiev e Yuriy Boreichuk em Ternopil. Artem Bondarenko foi transferido de chefe da direção principal da SBU em Lviv para o mesmo cargo em Kiev e na região da capital.

Recentemente, Zelenskyy falou, no contexto de mudanças de altos cargos, na “autopurificação” da Ucrânia ao mais alto nível dos cargos do Estado.

Depósito de munições explode no norte da Crimeia

Um depósito de munições explodiu no norte da Crimeia, informou a TASS nesta terça-feira, citando o autarca da vila de Mayskoye. O Ministério da Defesa da Rússia disse que não existe registo de vítimas após a explosão.

De acordo com o jornal ucraniano Kyiv Independent, há registo de duas pessoas feridas na sequência da explosão. Segundo Sergey Askyonov, um responsável escolhido pela Rússia e presente na região, a detonação de munições continua, enquanto o depósito de armas continua a arder.

O Kyiv Independent citou ainda a agência RIA, que assegura que cerca de duas mil pessoas foram retiradas das imediações do depósito.

A Crimeia, que está sob controlo russo desde 2014 (mesmo que a grande parte do mundo a reconheça como território ucraniano), tem sido um importante ponto de partida para a campanha militar que a Rússia lançou na Ucrânia.

A Ucrânia não confirmou ou negou a responsabilidade pelas explosões registadas na Crimeia nos últimos dias. “Um lembrete: a Crimeia de um país normal é sobre o mar Negro, montanhas, recreação e turismo, mas a Crimeia ocupada por russos é sobre explosões de armazéns e alto risco de morte para invasores e ladrões”, escreveu o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak no Twitter nesta terça-feira.

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