O pandemia do novo coronavírus afetou grande parte das indústrias mundiais, e os maiores cartéis de droga do mundo não foram exceção. As medidas governamentais para conter o vírus dificultaram as suas operações e cancelaram as rotas de tráfico.
Ainda assim, este não foi um desafio suficientemente desastroso para o cartéis. Perante as dificuldades o Cartel de Sinaloa – que opera em cerca de 50 países e conta com milhares de colaboradores – conseguiu dar a volta à pandemia.
“Há muito tempo que os cartéis demonstram a sua resiliência”, disse Scott Brown, diretor do departamento de Investigações de Segurança Interna do Arizona. O responsável garante que as organizações “irão continuar a encontrar novas formas de tentar mover o seu produto”.
Durante este ano, alguns traficantes confiaram cada vez mais em novas ferramentas, como drones e criptomoedas, optando pelo uso de estratégias do passado, como túneis subterrâneos e rotas marítimas, para tentar contornar os obstáculos.
As autoridades norte-americanas também notaram um aumento no recrutamento de americanos mais pobres ou viciados em drogas para contrabandear narcóticos para dentro das suas cavidades corporais.
Segundo o The New York Times, as mudanças permitiram que o Cartel de Sinaloa e outros grandes grupos de tráfico de drogas da região se recuperassem rapidamente, mesmo com a pandemia a devastar as economias.
À medida que a primeira vaga da pandemia se alastrava de continente em continente, as restrições dos governos para responder à emergência interromperam todo o comércio de drogas.
Na América Latina, os confinamentos atingiram duramente os traficantes de drogas e, em alguns locais, quase paralisaram as operações. Perante as restrições às viagens, os agentes de organizações mexicanas de narcotráfico tiveram dificuldade em chegar à América Central para coordenar os embarques marítimos.
Segundo a Marinha mexicana, quando o fluxo voltou a intensificar-se, os obstáculos no transporte levaram a uma queda acentuada na frequência dos embarques, já que a cocaína dos países andinos da América do Sul chegava ao México uma a cada duas vezes por semanas, em vez de várias vezes por semana, como acontecia antes da pandemia.
A grande maioria das drogas ilícitas, que entravam nos Estados Unidos vindas do México, chegavam por fronteiras legais, escondidas em carros e veículos comerciais, ou carregadas por viajantes que chegavam a pé.
Contudo, as restrições impostas pelo governo de Donald Trump a todas as “viagens não essenciais, fizeram com que menos carros e pessoas passassem pelas fronteiras, aumentando a exposição dos contrabandistas.
“Com menos tráfego a passar nos pontos de controlo, os polícias começaram a ter mais tempo para se concentrarem no que estava a acontecer nos transportes que iam circulando”, referiu John R. Modlin, Agente da Patrulha da região de Tucson.
Como foi feita a adaptação
Perante uma forte redução das viagens aéreas e aos obstáculos para passar a fronteira terrestre, os traficantes de drogas têm recorrido mais às rotas marítimas, de acordo com relatórios da Marinha da Colômbia.
Os grupos de traficantes começaram a esconder as drogas entre produtos legais embalados em contentores transportados em navios de carga, principalmente nas rotas que ligam a América do Sul ao México e a América Latina à Europa.
Este ano, as organizações de narcotráfico também usaram mais túneis ao longo da fronteira sudoeste dos Estados Unidos para passarem os seus produtos para o México. Um elemento do Cartel de Sinaloa estimou que o uso de túneis pelo grupo aumentou em 40% durante a pandemia.
Em alguns locais, os traficantes aumentaram também o uso de drones para transportar drogas pela fronteira, referiram as autoridades americanas.
“Detetamos regularmente tentativas de contrabando de drones, o que certamente não era o caso há um ano”, disse Brown, acrescentando que tem a certeza que a equipa não conseguiu detetar todos os veículos.
Os desafios de introduzir drogas nos Estados Unidos também parecem ter estimulado o desenvolvimento de laboratórios clandestinos para a produção de drogas sintéticas no país, disse Celina Realuyo, professora do Centro William J. Perry em Washington.
Realuyo sugere que os grupos de narcotráfico estão a reinventar-se perante as dificuldades e lembra que estes “já tinham uma espécie de recurso, por isso o que estão a fazer é adaptar-se mais rápido ao novo contexto”.