Em 1973, Richard Nixon ofereceu a cada país um pequeno pedaço de rocha da Lua. Em 1985, a pedra lunar foi roubada do Planetário — um legado científico que, quase 35 anos depois, continua perdido.
Portugal teve uma rocha lunar de entre as muitas recolhidas pelos astronautas, há quase 50 anos, e que permitiram aos cientistas desvendarem mistérios. Algumas das amostras que se mantêm intactas vão agora ser estudadas.
Entre 1969 e 1972 foram recolhidos e trazidos para a Terra cerca de 400 quilos de rocha lunar, incluindo os 22 quilos de fragmentos extraídos pelos primeiros astronautas na Lua, há 50 anos.
Em 1973, num gesto de amizade para com o mundo, o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon ofereceu a cada país um pequeno pedaço de rocha trazido da Lua. Portugal foi um dos contemplados com a oferenda, mas por pouco tempo.
“Roubaram a pedra lunar do Planetário”. A expressão é de um título de uma notícia da edição de 11 de julho de 1985 do extinto jornal Diário de Lisboa, que cita a antiga agência Notícias de Portugal.
O fragmento de rocha lunar que estava desde 1976 em exposição no Planetário Calouste Gulbenkian, da Marinha, em Lisboa, tinha sido furtado, desconhecendo-se o seu paradeiro. “Era o único exemplar que existia em Portugal”, lê-se na notícia. A exposição tinha sido inaugurada em outubro desse ano pelo astronauta das missões Apollo 8 e 13 James Lovell Jr, que não esteve na Lua.
O pedaço de Lua dado a Portugal foi retirado em dezembro de 1972 pelos astronautas da missão Apollo 17, a última, até hoje, a colocar humanos na superfície do satélite natural da Terra.
“Houve, de facto, uma pedra da Lua no Planetário que foi furtada em data anterior a 1988, não temos a data precisa”, respondeu à Lusa o serviço de informação da Marinha, sem dar mais detalhes, alegando que as pessoas que podiam contar o que se passou “já não estão vivas”.
Uma fotografia de Acácio Franco, que consta do arquivo da Lusa, mostra a caixinha com a bandeira portuguesa oferecida pelos Estados Unidos, mas sem a amostra da rocha lunar, que foi recolhida do Vale Taurus-Littrow e oferecida como “um símbolo da cooperação e do esforço de toda a humanidade”, lê-se numa inscrição.
O caso de Portugal não foi único. Há relatos sobre outros países onde fragmentos de rocha lunar foram furtados ou vendidos a colecionadores privados, ou simplesmente desapareceram ou foram destruídos.
Graças às amostras enviadas para a Terra, os cientistas puderam estudá-las e determinar, por exemplo, a idade de Marte e Mercúrio e determinar que Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, se terá formado próximo do Sol, afastando-se depois.
Conseguiram também compreender que a Lua nasceu praticamente ao mesmo tempo que a Terra, há 4,4 mil milhões de anos, em resultado de um impacto, e que a sua estrutura interna é constituída igualmente por uma crosta, um manto e um núcleo.
Em março, a agência espacial norte-americana NASA, que levou o Homem à Lua, selecionou equipas para “prosseguirem o legado científico” das missões Apollo e estudarem amostras de rocha que “foram guardadas cuidadosamente” e estiveram “intocáveis durante quase 50 anos”.
As equipas irão analisar fragmentos recolhidos pelos astronautas, com o auxílio de veículos, nas missões Apollo 15, 16 e 17, entre 1971 e 1972. As amostras, conservadas em vácuo, no gelo e em hélio, nunca foram expostas à atmosfera da Terra.
Com elas, os cientistas esperam aprofundar estudos sobre a atividade vulcânica da Lua e saber como o impacto de meteoritos afetou a geologia e a sua superfície, como corpos sem atmosfera reagem ao ambiente do espaço, como a água é retida em minerais ou na radiação e como pequenas moléculas orgânicas, precursoras dos aminoácidos, os alicerces da vida, foram preservadas.
// Lusa