Está a ser desenvolvido um projeto no qual um robot vai restaurar restos de fragmentos arqueológicos das ruínas de Pompeia.
A cidade romana de Pompeia, no sul de Itália, foi destruída há cerca de 2.000 anos pela erupção do Vesúvio.
Os cientistas do Instituto Italiano de Tecnologia (IIT) criaram um plano que envolve robots, Inteligência Artificial e arqueologia: RePAIR (Reconstructing the Past: Artificial Intelligence and Robotics meet Cultural Heritage).
O projeto pretende restaurar as ruínas da cidade que, de outra forma, não seria possível. Isto porque o trabalho é bastante complexo e requer quantidades de tempo e esforço quase impossíveis para um humano.
Durante os próximos meses, os investigadores e colaboradores do IIT vão construir, treinar e destacar um robot, para juntar todos os fragmentos de frescos em ruínas de dois edifícios de Pompeia.
No primeiro edifício a reconstrução é mais simples, tendo em conta que o fresco estava intacto até há pouco tempo, sendo possível saber qual o formato final.
Os frescos pertencem à Schola Armaturarum, sede de uma associação militar localizada na Via dell’Abbondanza, a rua principal de Pompeia.
Descoberta em 1915, a sala principal foi decorada com representações de troféus e armas, e forrada com armários de madeira.
O edifício sobreviveu tanto à erupção vulcânica, como a um bombardeamento dos Aliados em 1943. Foi apenas em 2010 que partes dos frescos caíram, depois de uma tempestade com chuvas fortes.
Já no segundo edifício, a situação é mais complicada. Os arqueólogos não fazem ideia de como seria o fresco original, e os fragmentos estão guardados há anos, à espera que algo ou alguém soubesse o que fazer com eles.
Correspondem a duas salas antiga House of the Painters at Work. O edifício foi assim chamado, devido aos pintores que lá trabalhavam, enquanto se deu a erupção do Vesúvio.
Os arqueólogos encontraram os seus baldes e pincéis, e contornos de desenhos à espera da cor que nunca chegou.
Partes do edifício foram destruídas, tanto pelo vulcão, como por bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial.
Com as ruínas que sobraram, não foi possível recriar imagens de referência dos frescos originais, o que torna a reconstrução ainda mais desafiante.
De acordo com Arianna Traviglia, principal investigadora do projeto, o RePair é experimental e pode falhar. “É loucura ao mais alto nível“, realça.
O robot de IA é financiado por um fundo de 3.5 milhões de euros da Comissão Europeia, que apoia projetos mais arriscados.
No caso de ter sucesso, a tecnologia pode ser usada mais tarde para reconstruir variados fragmentos de ruínas antigas, que estão “fora do alcance dos humanos“, explica Marcello Pelillo, professor na Universidade de Veneza.
O RePAIR precisa de um conjunto de “cérebros”, força e um toque sensível. O “cérebro” vai ser composto por uma mistura de alta tecnologia de scanning, para conseguir digitalizar as peças do “puzzle”, e de perícia humana, para orientar a IA.
“Apenas um sistema de Inteligência Artificial não é suficiente”, explica Pelillo. É necessário que seja guiado por arqueologistas e historiadores, que compreendam os diferentes estilos de construção da antiga cidade.
Os investigadores estão a digitalizar manualmente cada fragmento de frescos de Pompeia, para criarem um base de dados para o robot.
Mal o sistema esteja funcionar, “será o robot a fazer o seu próprio processo de digitalização”, acrescenta Marcello Pelillo.
Vai ser composto por um tronco, braços com cerca de 80 a 100 cm e um peso de 25 a 30 kg. O seu design é semelhante à parte superior do corpo humano.
As mãos do robot estão a ser criadas no laboratório de Antonio Bicchi, e vão ter a capacidade de agarrar, mover e orientar fragmentos de vários tamanhos e pesos, com extremo cuidado.
Estas mãos robóticas, de acordo com Bicchi, seriam idealmente utilizadas pelas pessoas, para recolherem informações que as mãos humanas não conseguem.